Placenta prévia: causas, sintomas e como manejar na prática obstétrica

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A placenta prévia é caracterizada pela implantação de qualquer polo placentário no segmento inferior do útero após as 28 semanas.

A placenta prévia é uma condição que pode ocorrer durante a gestação, afetando a posição da placenta no útero. A causa dessa condição ainda é desconhecida, mas existem alguns fatores de risco envolvidos. O principal sintoma envolve o sangramento interno indolor.  

Tipos de placenta prévia

A classificação da placenta prévia baseia-se no nível de implantação em relação ao colo do útero:

  • Placenta prévia completa: placenta cobre totalmente o orifício interno do colo (OCI);
  • Placenta prévia parcial: obstrui parcialmente o OCI;
  • Placenta prévia marginal: a placenta atinge a borda do OCI, sem ultrapassá-lo;

Observe o desenho ilustrativo abaixo

Ilustração comparativa mostrando a classificação da placenta prévia em quatro tipos: placenta normal, placenta prévia baixa, placenta prévia marginal e placenta prévia completa.
Classificação da placenta prévia segundo a posição em relação ao colo uterino: normal, baixa, marginal e completa | Acervo de ilustrações Grupo MedCof

Causas e fatores de risco para placenta prévia

Como mencionado anteriormente, a causa principal para essa condição é o sangramento interno indolor, entretanto, outros fatores de risco podem estar envolvidos:

  • Tabagismo;
  • Parto cesáreo anterior;
  • Curetagem uterina anterior;
  • Idade materna avançada (>35 anos);
  • Gestação múltipla;
  • Antecedente de placenta prévia;
  • Anomalias estruturais do útero, como mioma.

Quais são os sintomas da placenta prévia?

O principal sintoma é o sangramento interno indolor que pode envolver as seguintes características:

  • Cor vermelho vivo e normalmente indolor;
  • Leve ou intenso de início súbito;
  • Surgir após o contato íntimo;
  • Estar acompanhado de contrações ou dor aguda na barriga.

Vale lembrar que os sintomas são mais frequentes a partir da vigésima semana de gestação.

Desse modo, a hipotonia e a ausência de dor ajudam em um diagnóstico diferencial.

Diagnóstico de placenta prévia

O diagnóstico da placenta prévia é realizado por um obstetra avaliando os sintomas, histórico de saúde, exames ginecológicos e, principalmente, por meio de exame de ultrassom abdominal ou transvaginal. 

É importante ressaltar que o toque vaginal é extremamente proibido, pois pode desencadear hemorragias severas. Além disso, é preciso diferenciar a placenta dasa prévia da abruptio placentae, pois são outras complicações obstétricas com características e riscos distintos.

Quais são os principais diagnósticos diferenciais?

O Descolamento Prematuro de Placenta (DPP) é o principal diagnóstico diferencial a ser considerado diante de um quadro de sangramento na segunda metade da gestação.

Perceba a diferença de um quadro para outro na tabela abaixo:

 PPDPP
SangramentoVivo, espontâneo e recorrentePode estar ausente (oculto), ser discreto ou moderado, pode estar escurecido
DorAusenteGeralmente presente, abdominal ou lombar
Tônus uterinoNormalAumentado
Vitalidade fetalPreservadaAlterada e grave, risco de mortalidade fetal
MetrossístoleAumenta a hemorragiaDiminui a hemorragia
UltrassomLocalização anômala placentáriaPode não identificar, mas pode apresentar a visualização de coleção retroplacentária

Conduta clínica diante da placenta prévia

A conduta vai depender do quadro clínico atual e idade gestacional, portanto há duas opções:

  • Conservadora: A conduta será expectante nos casos de pacientes assintomáticas, estáveis clinica e hemodinamicamente e em que a idade gestacional é inferior a 37 semanas.
    • Orientações: Informar sinais de alarme, evitar relações sexuais, monitoramento fetal, considerar corticoterapia para maturação pulmonar e resolução de gestação cm 37 semanas
  • Ativa: Em casos de sangramento ativo, risco de comprometimento do bem estar fetal e/ou idade gestacional ≥ 37 semanas deve-se indicar a resolução da gestação.

A via de parto inclui a altura e encaixamento da apresentação, e o resultado da USG vai auxiliar a conduta:

PP marginal ou baixa: pode ser vaginal, se atentando para a intensidade da hemorragia e estabilidade hemodinâmica da mãe, também se o feto está morto ou há malformações fetais incompatíveis com a vida extrauterina, pode fazer o parto vaginal.

  • Borda da placenta < 2cm do OCI e com borda espessa (>1cm): aumenta o risco de necessitar de cesariana por ser um obstáculo mecânico.

Diferenciar a placenta prévia de outras causas de sangramento é crucial para um manejo adequado. Conhecer a classificação, compreender os fatores de risco e adotar uma conduta personalizada são passos fundamentais para garantir a segurança materna e fetal.
Fique informado e atento aos sinais que fazem toda a diferença no desfecho da gestação.

Como é feito o tratamento da placenta prévia?

O tratamento depende da idade gestacional e da gravidade clínica, com o objetivo de preservar a saúde materna e fetal. O diagnóstico precoce e o manejo adequado são essenciais para reduzir riscos.

O manejo conservador é indicado em gestações com menos de 36–37 semanas, sangramento leve ou ausente e mãe e bebê estáveis. Inclui internação inicial, repouso relativo, monitorização materno-fetal, corticoterapia para maturação pulmonar e transfusões quando necessário. Em casos selecionados, pode haver alta hospitalar com retorno rápido em caso de sangramento.

Já o manejo ativo é adotado quando há 37 semanas ou mais, sangramento intenso, instabilidade materna ou sofrimento fetal. A conduta envolve hospitalização imediata, estabilização hemodinâmica, preparo para transfusão e indicação de parto por cesariana. A cesárea de urgência é realizada diante de hemorragia grave ou comprometimento fetal.

De forma geral, a conduta na placenta prévia deve ser individualizada, priorizando segurança e reduzindo complicações. Em situações estáveis, busca-se prolongar a gestação até um ponto seguro para o bebê. Nos casos graves, a intervenção rápida em ambiente hospitalar especializado é determinante para o desfecho positivo.

Quais são as complicações da placenta prévia?

Os riscos maternos são:

  • Hemorragia grave antes, durante ou após o parto.
  • Anemia por perda sanguínea crônica ou aguda.
  • Necessidade de transfusão sanguínea e internações repetidas.
  • Placenta acreta e variantes (increta, percreta), aumentando risco cirúrgico.
  • Histerectomia de emergência em casos de hemorragia incontrolável.
  • Infecção puerperal devido a manipulação uterina e sangramentos.

Já os riscos fetais são:

  • Prematuridade pela necessidade de parto antecipado.
  • Restrição de crescimento intrauterino (RCIU) por comprometimento da circulação placentária.
  • Sofrimento fetal agudo secundário à hemorragia materna ou hipóxia.
  • Vasa prévia, com risco de ruptura dos vasos e óbito fetal.
  • Óbito fetal intrauterino em casos graves ou de evolução rápida.

É possível prevenir a placenta prévia?

A placenta prévia não possui um método de prevenção direta, pois sua ocorrência está relacionada principalmente à forma como a placenta se fixa no útero, algo que não pode ser controlado pela gestante. No entanto, é possível reduzir fatores de risco por meio de cuidados de saúde e hábitos de vida saudáveis.

Entre as medidas que podem diminuir a probabilidade estão: evitar o tabagismo, que afeta a circulação placentária; limitar o número de cesarianas e curetagens uterinas, para reduzir cicatrizes no endométrio; e realizar pré-natal adequado, identificando precocemente alterações na implantação placentária.

Manter o controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, também contribui para a saúde uteroplacentária. Além disso, intervalos adequados entre gestações e a escolha de serviços obstétricos qualificados reduzem riscos associados a intervenções cirúrgicas desnecessárias.

Embora a placenta prévia possa ocorrer mesmo em gestações de baixo risco, a adoção dessas medidas favorece uma gestação mais segura e aumenta as chances de um diagnóstico precoce e manejo eficaz caso a condição se desenvolva.

A placenta prévia pode regredir?

Quando a placenta prévia é diagnosticada no 2º trimestre, há chance de regressão espontânea conforme o útero cresce e a placenta “migra” para longe do colo uterino. Estima-se que 80% a 90% dos casos identificados nessa fase se resolvam antes do parto, especialmente nas formas marginais ou de inserção baixa. Já nos casos de placenta prévia total no final da gestação, a chance de regressão é muito menor.

Quantas semanas dura a placenta prévia?

A placenta prévia pode regredir até o 3º trimestre, geralmente antes de 32–34 semanas, mas em parte dos casos persiste até o parto. Essa regressão ocorre devido à “migração” fisiológica da placenta, resultado do crescimento e estiramento do útero, que afastam a borda placentária do colo uterino.

É possível ter parto normal com placenta prévia?

O parto normal só é possível em casos muito selecionados de placenta prévia marginal ou placenta de inserção baixa, quando a borda placentária está a pelo menos 2 cm do orifício cervical interno e não há sangramento significativo.

Para indicar o parto vaginal, é necessário que:

  • A distância entre a placenta e o colo seja suficiente para não obstruir a passagem do bebê.
  • Não haja sinais de sofrimento fetal ou instabilidade materna.
  • O trabalho de parto evolua normalmente, sem hemorragia.
  • O feto esteja em apresentação cefálica e em condições adequadas de vitalidade.

Na placenta prévia total ou parcial, o parto vaginal é contraindicado, sendo a cesariana a via de escolha para evitar hemorragia grave materna e risco fetal.

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