
Devido ao aumento de sobrepeso e obesidade na população pediátrica, houve aumento de hipertensão essencial nessa faixa etária, sendo, portanto, importantíssimo o domínio sobre o tema.
Nesse post vamos abordar sobre a definição, rastreamento e como é feito o diagnóstico da Hipertensão na população pediátrica.
Definição
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) na infância e adolescência é definida por uma Pressão Arterial Sistólica (PAS) e/ou Pressão Arterial Diastólica (PAD) ≥ Percentil 95 para sexo, idade e percentil da estatura em três ou mais ocasiões diferentes.
Classificação
A classificação desta condição é muito importante, pois ela vai orientar o fluxo de investigação e tratamento das crianças diagnosticadas.
Rastreamento
A Pressão Arterial (PA) deve ser aferida anualmente em crianças a partir dos 3 anos de idade, caso ela não tenha fator de risco.
Na vigência de algum fator de risco, em crianças a partir de 3 anos, a PA deve ser aferida em todas as consultas.
Fique de olho nos fatores de risco!
- Obesidade;
- Diabetes;
- Doença renal;
- História de obstrução do arco aórtico ou coarctação;
- Uso de medicamentos que podem aumentar a PA;
Deve-se aferir a pressão arterial antes dos 3 anos de idade em todas as consultas se:
- Histórico neonatal:
- Prematuros <32 semanas
- Muito baixo peso ao nascer
- Cateterismo umbilical
- Outras complicações no período neonatal requerendo internação em UTI
- Doenças cardíacas: Cardiopatia congênita (corrigida ou não)
- Doenças renais
- ITU de repetição;
- Hematúria ou proteinúria;
- Doença renal conhecida;
- Malformação urológica
- História familiar de doença renal congênita
- Transplantes
- Órgãos sólidos
- Medula óssea
- Outros – Neoplasia
- Tratamento com drogas que sabidamente aumentam a PA
- Outras doenças associadas à Hipertensão
- Neurofibromatose
- Esclerose tuberosa
- Anemia falciforme
- Evidência de aumento da pressão intracraniana
Técnica de Aferição de PA em crianças
Para a correta identificação e diagnóstico de hipertensão, é necessário a aferição correta da PA em crianças e adolescente, pois a falha nesse método pode subestimar ou superestimar a PA.
Portanto, você deve estar atento a posição da criança, tempo de repouso (> 5 minutos), bexiga vazia, e seleção do manguito adequado. Sempre que possível, deve-se aferir no braço direito ao nível do coração!
Como selecionar o manguito adequado? O manguito ideal deve cobrir 40% do comprimento do braço (medida do acrômio ao olécrano) e 80 a 100% da circunferência do braço (medida do ponto médio do comprimento do braço).
Avaliação
Uma vez aferida a pressão arterial a avaliação deve ser realizada a partir da análise dos percentis! Relacionando o percentil de estatura, sexo e idade de cada paciente com a PA aferida.
Portanto, devemos avaliar o gráfico para saber se a PA está ou não adequada para a criança.
Vamos praticar!
José é uma criança de 4 anos, que está no percentil 50 de estatura, e está com uma PA de 108×66 mmHg, e sua mãe disse que nunca se preocupou por ser baixa. Essa preocupação retrata a realidade?
R → Quando colocamos as informações do texto no gráfico, podemos ver que a pressão de José está no percentil 95, estando sim alterada!
E se der alterado?
Se quando for feita a aferição da PA o percentil encontrado for maior ou igual ao p90, a aferição deve ser feita por mais 2 vezes, e após isso, calcular a média das 3 medidas e avaliar no gráfico.
Preste atenção! O diagnóstico de HAS é mais precisa a partir de 1 ano de idade, em bebês deve-se utilizar a tabela específica pela Idade Gestacional corrigida, mesmo sem tanta precisão.
Classificação
Então, a partir da avaliação da pressão, é necessário que que classifique a partir do percentil encontrado, pois irá mudar o seguimento e tratamento desta criança:
- Normal se < p90;
- PA elevada se ≥ p90 e <p95, ou 120×80 mmHg;
- HAS estágio 1 se ≥ p95 e < p95 + 12mmHg;
- HAS estágio 2 se ≥ p95 + 12 mmHg;
** Lembrando que essa classificação é válida para crianças de 1 a 13 anos.
Diagnóstico
Uma vez identificada a alteração pressórica em crianças é necessário fazer uma avaliação minuciosa na história e exame físico para avaliar a necessidade de investigar causas secundárias ou não, visto que a prevalência de hipertensão secundária é maior em crianças que em adultos.
Portanto, pode-se DISPENSAR uma avaliação extensa para causas secundárias se a criança for maior que 6 anos, possui sobrepeso/obesidade, tem história familiar positiva para hipertensão e possui o predomínio de elevação da PAS.
Fique de olho nas principais causas secundárias:
- Trombose da artéria renal;
- Estenose de artéria renal;
- Malformações e doenças do parênquima renal;
- Coarctação de aorta;
- Displasia broncopulmonar;
- Hipertireoidismo;
- Feocromocitoma;
- Neoplasias: Neuroblastoma, Tumor de Wilms.
Exames complementares
Os exames complementares são utilizados para confirmar diagnóstico, principalmente nos quadros que não estão tão claros, para identificar causas secundárias ou investigar alterações em órgão alvo.
Exames laboratoriais para avaliar a função renal, deve ser solicitado para todos os pacientes em investigação de HAS secundária, visto que alterações renais, são as principais causas de HAS secundária na infância.
Para pacientes obesos, deve-se também realizar avaliação metabólica como perfil lipídico, hemoglobina glicada e transaminases.
Confira as indicações de outros exames abaixo:
- MAPA
- HAS secundária;
- HAS grave;
- HAS noturna;
- HAS do avental branco / mascarada;
- HAS matinal (apneia do sono);
- Melhor controle da PA (avaliação do tratamento);
- USG RENAL
- < 6 anos;
- Alterações na urina 1 ou função renal;
- Doppler de artérias renais;
Na investigação de causas específicas pode-se solicitar polissonografia, ecocardiograma, screening para drogas, entre outros.
Agora você já sabe as indicações de rastreamento, como diagnosticar e investigar as causas de hipertensão arterial na infância! Continue nos acompanhando no blog para ficar por dentro de tudo que você precisa saber para ser um profissional atualizado!
Referências: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Departamento Científico de Nefrologia. Hipertensão arterial na infância e adolescência. n°2. Sociedade Brasileira de Pediatria. abr. 2019
Flynn, JT. Ambulatory blood pressure monitoring in children. UpToDate. Acessado em 18 de julho de 2023.
Mattoo, TJ. Evaluation of hypertension in children and adolescents. UpToDate. Acessado em 18 de julho de 2023.Mattoo, TJ. Definition and diagnosis of hypertension in children and adolescents. UpToDate. Acessado em 18 de julho de 2023.
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