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Tipos de Trauma Cranioencefálico na infância

O trauma crânio encefálico (TCE) é um problema de saúde pública, especialmente na faixa etária pediátrica, causando consequências sistêmicas graves. 

Imagem: Canva.

Quando falamos do público infantil, as principais causas de TCE são acidentes domésticos, quedas de própria altura, acidentes automobilísticos, práticas esportivas;, em crianças mais novas podemos citar, também, a síndrome do bebê sacudido. Além disso, violência também entra nas principais causas. Dentre os adolescentes, o TCE costuma estar associado ao uso de substâncias recreativas lícitas ou ilícitas. Portanto, essa hipótese também deve ser levantada e investigada.

Fisiopatologia do Trauma Cranioencefálico

O funcionamento básico do sistema nervoso central (SNC) depende da manutenção da pressão de perfusão cerebral (PPC), que é mantida através de alguns mecanismos:

  • Diminuição da produção de líquor.
  • Aumento da reabsorção de líquor.
  • Aumento do retorno venoso.
  • Outros mecanismos finos.
Modelo anatômico das meninges cerebrais em corte transversal mostrando pia-máter, aracnoide, dura-máter (meníngea e periosteal), espaços intracranianos (subdural, subaracnóideo), e a relação com o crânio e o encéfalo. Inclui detalhes como o seio sagital superior (drenagem venosa) e a foice do cérebro (dura-máter separando os hemisférios cerebrais). A imagem é ideal para estudo da anatomia do sistema nervoso central e suas estruturas de proteção.
Estrutura anatômica do crânio, destacando os espaços por onde percorrem o Liquor e o Sangue. | Fonte: Acervo de Ilustrações do Grupo MedCof.

A lesão cerebral impede a manutenção da PPC e, consequentemente, ocasiona hipertensão intracraniana, podendo evoluir para herniação.

Lesões que devem ser rapidamente reconhecidas

  • Ferimentos e hematomas subgaleais em região de couro cabeludo.
  • Fraturas lineares, por afundamento, diastáticas e comunicativas.

Para que possamos identificar com clareza esse tipos de lesão, podemos buscar por alguns sinais, como: 

  1. SINAIS DE FRATURA DE BASE DE CRÂNIO:

– Sinal de Batalha (equimose retroauricular).

Fonte: Google Imagens.

– Sinal de Guaxinim (equimose periorbital).

Fonte: Google Imagens.

– Otoliquorréia (sangramento pelos ouvidos). 

– Rinoliquorreia (sangramento pelo nariz).

– Hemotímpano.

Fonte: Google Imagens.

– Paralisia facial periférica (causada por Lesão em motoneurônio, resultando em paralisia da hemiface ipsilateral a lesão).

– Anosmia (perda da sensibilidade olfativa).

– Pneumoencéfalo (à radiografia).

Fonte: Google Imagens.

É fundamental lembrar que a tomografia computadorizada (TC) de crânio é o exame determinante no diagnóstico das lesões intracranianas.

Como fazemos a Anamnese?

Sempre devemos identificar:

  •  Mecanismo e cinemática do trauma.
  • Tempo entre o trauma e o atendimento.
  • Presença de convulsão ou perda de consciência (e quanto tempo durou).
  • Antecedentes de epilepsia ou discrasia sanguínea.
  • Possibilidade de intoxicação exógena.

Gravidade

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, podemos classificar a gravidade de um trauma cranioencefálico de acordo com os seguintes critérios:

Fonte: Ministério da Saúde, 2018

De acordo com o número de pontos acumulados, temos que a gravidade pode ser dita como leve em somas maiores que 14, como moderada em pontuações que variam de 9 a 13 e, por fim, grave quando o somatório resulta em 8 pontos ou menos. 

Além disso, outros sinais de gravidade são: 

  • Perda da consciência.
  • Vômitos (se > 2 episódios).
  • Crise convulsiva.
  • Amnésia lacunar.
  • Sinais de fratura ou afundamento de crânio.
  • Sinais de fratura de base de crânio.

Trauma Leve

A criança deve ser mantida em observação em domicílio. Os pais devem ser orientados sobre os sinais de rebaixamento de nível de consciência e as indicações de buscar atendimento médico.

Trauma moderado a grave

Nesse caso, algumas condutas devem ser realizadas de forma mais rápida e em espaço hospitalar, tais como: 

  • Realizar tomografia computadorizada assim que possível.
  • Assistência em UTI.
  • Vigilância constante para sinais de deterioração neurológica.
  • Intubação orotraqueal (IOT) + Ventilação Mecânica se Escala de Coma de Glasgow (ECG) < 9.
Simulação de intubação orotraqueal em corpo infantil. Fonte: https://jornaldomedico.com.br/2023/09/artigo-emergencia-intubacao-orotraqueal-na-pediatria/ 

Cuidados básicos da criança com trauma moderado a grave

  • Cabeceira elevada em 30º;
  • Sedação e analgesia (benzodiazepínicos e opioides), minimizando estímulos externos;
  • Ventilação (se necessário) com PaO2 entre 90 e 100 mmHg e PaCO2 entre 35 e 40 mmHg;
  • Controle de Temperatura: máximo 38º C;
  • Volume intravascular e controle de débito urinário;
  • Manter hemoglobina superior a 7,0 g/dL;
  • Nutrição enteral o mais precocemente possível, por sonda;
  • Drogas antiepilépticas em caso de crises convulsivas, epilepsia prévia ou lesão focal na TC.
Sonda nasal para alimentação enteral. Fonte: https://depositphotos.com/br/photos/alimenta%C3%A7%C3%A3o-por-sonda.html 

Além disso, é importante lembrar que, na presença de fratura de base de crânio, sonda via nasal está contraindicada!

  • Na presença de herniação cerebral:
  • Hiperventilar com O2 a 100% até reverter.
  • Solução salina hipertônica (3%) ou manitol em bolus.
  • Contato com neurocirurgia.

Lembrando que para reconhecer os sinais de herniação cerebral, observamos: 

  •  Dilatação pupilar.
  • Postura flexora/extensora.
  • Tríade de Cushing: alteração respiratória + bradicardia + HAS.
  • Na presença de hipertensão intracraniana (HIC):
  • Cateter subdural, intraparenquimatoso ou intraventricular para monitoração nos casos graves.
  • Alvo da PIC: < 20 mmHg.
  • Alvo da PPC: ≥ 40 mmHg.
  • Se aumento da pressão intracraniana (PIC) por mais de 5 minutos = infundir solução hipertônica 3% de 2 a 5 mL/kg.
  • Manitol a 20% pode ser usado na dose de 0,25 a 1g/kg em bolus.
  • Otimizar sedação e analgesia + bloqueio neuromuscular.

É importante lembrar que os principais sinais de HIC são:

  • Cefaleia.
  • Vômitos em jato.
  • Papiledema.
Papiledemas bilaterais. Fonte: Revista Brasileira de Oftalmoligia https://images.app.goo.gl/TUr8ByVeeZdCy6Tm6 

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Kiara Adelino
Kiara Adelino
Estudante do 2º semestre de Medicina. Adoro qualquer atividade que envolva mexer o corpo e aprender coisas novas.
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