Saiba quais distúrbios envolvem as Vasculites Sistêmicas

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Imagem: Canva.
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A vasculite sistêmica é um tema que sempre aparece nas provas. Por isso, relembre as principais vasculites, suas classificações e detalhes essenciais desse tema!

O que é vasculite?

Vasculite é a inflamação e necrose do vaso sanguíneo, que leva à incapacidade de manter o fluxo sanguíneo, resultando em perfuração, hemorragia, trombose e isquemia. As vasculites sistêmicas frequentemente se manifestam com sintomas inespecíficos, como perda de peso, fadiga e febre.

Elas são classificadas de acordo com o tamanho do vaso que afetam: grandes, médios ou pequenos vasos.

Vasculites de Grandes Vasos

Aqui, os destaques são a Arterite de Takayasu e a Arterite de Células Gigantes.

  • Arterite de Takayasu

 Conhecida como “doença sem pulso“, afeta predominantemente mulheres jovens, com idade média de 25 anos. A etiologia é desconhecida, mas a doença causa estenose de grandes vasos e aneurismas, principalmente nos vasos que saem da aorta.

	
Descrição da circulação sanguínea na aorta, incluindo elementos como tronco braquiocefálico, artéria carótida comum esquerda, artéria subclávia esquerda, aorta ascendente, arco aórtico, aorta descendente, porção torácica e abdominal, além de artérias principais.
Irrigação principal da aorta. Fonte: Acervo de Ilustrações do Grupo MedCof.

A Arterite de Takayasu pode causar sintomas sistêmicos (perda de peso, febre, mialgia), vasculares (claudicação intermitente em membros superiores e inferiores) e neurológicos (cefaleia, vertigem, AVC). Uma característica é a diferença de pulsos e pressão arterial entre os membros.

 O diagnóstico é feito pela angiografia, que  é o padrão-ouro. Os critérios de 1990 do ACR incluem a presença de 3 dos 6 pontos: 

Sexo feminino +1
Angina ou dor isquêmica cardíaca +2
Claudicação de braços ou pernas +2
Sopro vascular +2
Pulso reduzido na extremidade superior +2
Artéria carótida com anormalidade +2
Diferença de PA entre MMSS > 20 mmHg+1

O tratamento é feito por meio de glicocorticóides, que são a primeira linha. Imunossupressores como Micofenolato de Mofetil (MMF), Azatioprina (AZA), Metotrexato (MTX), Leflunomida e Ciclosporina são usados para poupar o corticoide ou em casos mais graves. Em casos refratários, imunobiológicos como Tocilizumabe e Infliximabe são opções.

Arterite de Células Gigantes (ACG)

Principal causa de febre de origem indeterminada em idosos. É mais comum em mulheres (3:1) acima de 50 anos e está frequentemente associada à Polimialgia Reumática.

   Falando em clínica, a cefaleia é o sintoma mais comum, mas também pode causar alterações visuais graves. A claudicação de mandíbula é um sintoma mais específico.

Espessamento temporal como manifestações das células Gigantes. Fonte: ACR – American College of Rheumatology. 

Nesse caso, o diagnóstico é feito por meio da biópsia da artéria temporal, embora haja risco de falso negativo. O aumento de PCR e VHS sugere a doença.

Glicocorticóides são a base do tratamento. A dosagem é de 40 mg/dia para casos não complicados e 60 mg/dia para aortite ou acometimento oftálmico. O Tocilizumabe é um imunobiológico que tem ganhado destaque. É importante não atrasar o tratamento para fazer a biópsia.

Vasculites de Médios Vasos

A Poliarterite Nodosa (PAN) é a principal representante.

Poliarterite Nodosa (PAN)

Uma vasculite necrosante sistêmica que afeta principalmente vasos viscerais, cutâneos, musculares e de nervos periféricos. É uma doença rara, com pico de incidência entre a 5ª e 6ª décadas de vida.

Acometimento dos nervos periféricos, manifestando-se como mão caída. Fonte: American College of Rheumatology. 

Podemos lembrar que “PAN poupa o pulmão“. Os sintomas incluem mononeurite múltipla, livedo, nódulos e necrose na pele. Dor testicular, geralmente unilateral, é um sintoma típico.

Púrpuras em membros inferiores como manifestação predominante da PAN nessa região. Fonte: American College of Rheumatology. 

O diagnóstico é feito pela arteriografia, que mostra estenoses e microaneurismas. A biópsia cutânea pode revelar vasculite leucocitoclástica. A exclusão de vírus associados como hepatite B, C e HIV é fundamental.

A escolha do tratamento depende do Five Factor Score (FFS), que inclui insuficiência renal, proteinúria, envolvimento gastrointestinal, cardíaco e do SNC. Se FFS for zero, usa-se glicocorticoide isolado. Se FFS for maior ou igual a um, usa-se Ciclofosfamida.

Vasculites de Pequenos Vasos

Este grupo inclui as vasculites ANCA-associadas (GPA, GEPA, PAM) e a Crioglobulinemia.

Vasculites ANCA-associadas

Associadas ao anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (ANCA).

Granulomatose com Poliangiite (GPA)

 Anteriormente conhecida como granulomatose de Wegener, é a mais frequente das vasculites ANCA-associadas. É tipicamente associada ao C-ANCA e ao Anti-PR3. O quadro clínico é conhecido como “pulmão-rim“. Pacientes podem ter sintomas em vias aéreas superiores, como obstrução nasal, sinusite e estenose subglótica. O “nariz em sela” é uma deformidade característica.

Manifestação do nariz em sela. Fonte: https://images.app.goo.gl/AqoABfjxqeGRkehE7

Granulomatose Eosinofílica com Poliangiite (GEPA)

 Antes chamada de Doença de Churg-Strauss. A asma é uma característica definidora. O perfil laboratorial mostra P-ANCA e Anti-MPO. Manifestações neurológicas, como a mononeurite múltipla, são comuns.

Poliangiite Microscópica (PAM)

 Predomina em homens por volta dos 50 anos e evolui com manifestações de “pulmão-rim“( é a causa típica da síndrome pulmão-rim). O envolvimento renal predominante é a glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP). É associada ao P-ANCA em 75% dos casos.

O tratamento das doenças ANCA-associadas é feito com Ciclofosfamida ou Rituximabe, para indução e manutenção. Em casos leves, Micofenolato de Mofetila e prednisona. Para GNRP ou hemorragia alveolar difusa (HAD), plasmaférese deve ser considerada. O Mepolizumabe (anti-IL-5) é usado para GEPA.

Crioglobulinemia

 É uma vasculite rara, mais comum em mulheres entre a 4ª e 5ª décadas de vida. O gatilho imunológico mais conhecido é o vírus da hepatite C (HCV).

  Ela se caracteriza por púrpuras em extremidades que não desaparecem à digitopressão.Para fazer o diagnóstico, é essencial pesquisar o HCV e quantificar as crioglobulinas. O complemento costuma estar consumido e o fator reumatoide, positivo.

Púrpura em pavilhão auricular.  Fonte: Aries, P., Ullrich, S. & Gross, W. A case of destructive Wegener’s granulomatosis complicated by cytomegalovirus infection. Nat Rev Rheumatol 2, 511–515 (2006).

O tratamento varia conforme a gravidade: para casos leves associados ao HCV, terapia antiviral e glicocorticóides. Casos moderados com acometimento de órgão-alvo são tratados com Rituximabe e glicocorticóides. Para manifestações graves como HAD, plasmaférese e ciclofosfamida são indicados.

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