Entenda o manejo de um paciente com Ferimento Descolante 

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O ferimento descolante é um trauma de alta intensidade que resulta no cisalhamento da pele, descolando-a dos tecidos profundos. 

Como caracterizar os ferimentos descolantes?

Esse mecanismo de lesão compromete a vascularização arterial e/ou venosa. Cerca de 90% dos casos ocorrem nos membros inferiores (MMII). O fechamento primário desses ferimentos está associado a um alto risco de falha e aumento da morbidade. Por isso, o raciocínio inicial raramente será o de realizar o fechamento primário.

Quais os tipos de ferimento descolante?

Trauma Isolado

Nesses casos, o sangramento geralmente é escasso. A hemostasia ocorre pela distensão e cisalhamento local, que provoca uma força de tração. Quando o tecido retorna à sua posição original, ocorre uma trombose dos vasos. É crucial garantir uma visualização completa da lesão, incluindo a eversão da borda e a inspeção da parte inferior, pois a exposição do periósteo, osso ou articulações pode alterar a terapêutica.

Ferimento Descolante Oculto (Morel-Lavallée)

Este tipo de lesão ocorre em planos profundos e, portanto, não apresenta perda tecidual visível. A suspeita clínica é levantada pelo acúmulo de líquidos na região. Na cronificação, pode haver a formação de uma pseudobursa, que é uma cápsula de tecido fibroso que armazena líquido (hemático, seroso ou linfóide), ou a formação de abscesso. O diagnóstico pode ser clínico ou radiológico, utilizando TC ou RNM.

Como proceder?

O tratamento do paciente começa com o algoritmo do ATLS, priorizando a intervenção imediata em lesões que ameaçam a vida. A equipe de cirurgia plástica pode atuar em conjunto para maximizar as chances de salvar o tecido e o membro.

Fluxograma de abordagem ao paciente com ferimento descolante. | Fonte: Acervo de Aulas do Grupo MedCof.

Paciente Instável

Para pacientes instáveis, a estratégia é o Damage Control. A cirurgia é conservadora, focada no desbridamento, e pode ser seguida por uma das três condutas principais:

Fechamento Primário 

Esta opção pode atuar como um curativo biológico, protegendo o tecido subcutâneo, muscular e adiposo da exposição. No entanto, há um alto risco de falha do enxerto com necrose, especialmente em feridas maiores. Uma falha pode exigir um novo desbridamento e a utilização de um retalho de outro local do paciente.

Curativo Temporário 

É a escolha principal quando o tecido lacerado está contaminado, tornando-o inviável para fechamento primário. O curativo de pressão negativa, por exemplo, é de grande ajuda, pois promove a contração da ferida, retira secreções e espolia bactérias, atuando como uma “terapia ponte” para o tratamento definitivo.

Retirada e Armazenamento do Enxerto

O tecido descolado é retirado, desbastado para se tornar apto para um futuro enxerto. Enquanto o paciente é estabilizado, o tecido pode ser armazenado em banco de tecidos com soro fisiológico, tendo uma validade de 7 dias.

Uma vez que o paciente instável se estabiliza, uma cirurgia revisional é programada, onde pode ser utilizado um retalho ou enxertia.

Paciente Estável

A abordagem começa com a avaliação da viabilidade do retalho. Os sinais a serem verificados incluem:

  • Sangramento arterial
  • Trombose venosa do plexo subdérmico
  • Direção do pedículo (anterógrada/retrógrada)
  • Necrose

A manipulação do tecido, incluindo sua eversão, é essencial para revisar a nutrição do plexo subdérmico e o suprimento arterial. A direção do descolamento também é importante, pois um retalho no sentido distal-proximal tem maior probabilidade de sucesso devido à preservação da vascularização.

Após essa avaliação, o retalho é classificado como viável ou inviável. O desbridamento é realizado se houver necessidade. As opções de tratamento são:

  • Retalho Inviável: Opta-se por enxertia ou retalho.
  • Retalho Viável: Realiza-se o fechamento primário com reposicionamento tecidual.

Em pacientes com traumas vasculares significativos associados, é crucial ficar atento à síndrome compartimental. Nesses casos, uma fasciotomia profilática pode ser indicada para impedir a perda do membro ou do enxerto/retalho.

Tratamento do Descolamento Oculto (Morel-Lavallée)

Lesões Pequenas

O tratamento é conservador, com esvaziamento por punção e curativos compressivos.

Lesões Extensas ou com Perda de Tecido

A abordagem é cirúrgica, incluindo desbridamento, drenagem/aspiração, e a utilização de enxerto ou retalho. A escleroterapia é outra opção. Devido à alta taxa de recorrência, quando a lesão se cronifica em uma pseudobursa, a opção mais comum é a ressecção do conteúdo junto com a cápsula.

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