Síndrome de Cushing: o que é, como identificar e mais!

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Ilustração médica de paciente com sinais clássicos da síndrome de Cushing, incluindo obesidade central, face arredondada, acne, giba, estrias avermelhadas, perda de massa muscular, osteoporose e hematomas frequentes.
Principais sinais da síndrome de Cushing: obesidade central, face arredondada, estrias vermelhas e perda de massa muscular. | Acervo de ilustrações do Grupo MedCof.
Ilustração médica de paciente com sinais clássicos da síndrome de Cushing, incluindo obesidade central, face arredondada, acne, giba, estrias avermelhadas, perda de massa muscular, osteoporose e hematomas frequentes.
Principais sinais da síndrome de Cushing: obesidade central, face arredondada, estrias vermelhas e perda de massa muscular. | Acervo de ilustrações do Grupo MedCof.

A Síndrome de Cushing é uma condição médica que se manifesta pelo excesso de cortisol no organismo, confirmado por exames clínicos e laboratoriais. Entre os sintomas visíveis estão estrias violáceas, face arredondada (“lua cheia”), e o acúmulo de gordura na nuca (“giba”).

Causas da Síndrome de Cushing

A Síndrome de Cushing (SC) é uma condição clínica e laboratorial caracterizada por hipercortisolismo, ou seja, o excesso de cortisol no organismo. É crucial não confundir a Síndrome de Cushing com a Doença de Cushing, que é um diagnóstico etiológico, especificamente quando causada por um tumor hipofisário que secreta ACTH.

A principal causa é exógena, resultante do uso prolongado de glicocorticóides. As causas endógenas são classificadas de acordo com a dependência do hormônio adrenocorticotrófico (TH):

ACTH-Dependente (70-80% dos casos)

A superprodução de cortisol é estimulada pelo excesso de ACTH. A causa mais comum é a Doença de Cushing (65-70%), que se deve a um tumor na hipófise. Outras causas incluem a Síndrome do ACTH ectópico (5-10%), a Síndrome do CRH ectópico (<1%) e a Síndrome do ACTH e CRH ectópicos (<1%).

Tumor hipofisário retirado do hemi lado esquerdo de paciente causador de Doença de Cushing. Fonte: https://share.google/o3zQoJFsAgn8vaGBR 

ACTH-Independente (10-20% dos casos)

A produção excessiva de cortisol ocorre independentemente do ACTH. As causas adrenais incluem o adenoma adrenal produtor de cortisol (15-20%), o carcinoma adrenal (5-6%), a hiperplasia adrenal macronodular (<2%) e a doença adrenal nodular pigmentada primária (<2%).

Podemos lembrar também do Pseudo-Cushing, uma condição na qual o paciente apresenta um quadro clínico e/ou laboratorial semelhante à SC, mas com hipercortisolismo apenas leve ou moderado. As causas mais comuns são depressão e etilismo crônico, embora outras condições como obesidade, síndrome do ovário policístico (SOP) e doença renal crônica também possam estar envolvidas. A fisiopatologia está ligada à hiperativação do eixo hipotálamo-hipofisário, levando a um aumento na secreção de CRH e, consequentemente, na elevação do cortisol. A diferenciação com a SC verdadeira exige a eliminação do fator indutor. Outra condição, o Hipercortisolismo Subclínico, é caracterizada pela ausência de sinais e sintomas de hipercortisolismo, mas com evidência laboratorial de produção aumentada de cortisol. Pacientes com essa condição apresentam alta prevalência de HAS e DM2, além de redução da densidade mineral óssea.

Quais os principais achados clínicos? 

O hipercortisolismo se manifesta por meio de uma variedade de sinais e sintomas, alguns mais específicos que outros.

  • Sinais mais específicos:
  1. Estrias violáceas > 1 cm.
  2. Miopatia proximal.
  3. Fragilidade capilar (equimoses, petéquias).
  4. Obesidade.
  5. Pletora facial.
  6. Fácies em lua cheia.
  7. Gibosidade (giba de búfalo).
Pacientes com sinais específicos da Síndrome de Cushing. Fonte: https://doi.org/10.1590/S0004-27302004000200018 
  • Sinais inespecíficos:
  1. Osteopenia e osteoporose: O cortisol inibe a ação dos osteoblastos.
  2. Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): Devido ao aumento da reabsorção de sódio e água.
  3. Diabetes Mellitus (DM) e resistência à insulina: O cortisol é um hormônio contrarregulador da insulina.
  4. Dislipidemia: Ocorre devido ao comprometimento da ação da insulina, resultando em menor armazenamento de ácidos graxos livres e triglicerídeos.
  5. Irregularidades menstruais, hipogonadismo hipogonadotrófico, amenorreia e perda da libido: Resultam do feedback negativo do excesso de cortisol sobre ACTH, FSH e LH.
  6. Hirsutismo, acne e alopecia androgênica: Relacionados aos andrógenos adrenais.
  7. Infecções de repetição: Causadas pela redução da imunidade.
  8. Manifestações psiquiátricas: Incluem depressão, agitação, insônia e psicose.
  9. Hiperpigmentação cutâneo mucosa: Observada nos casos de SC ACTH-dependentes devido ao aumento da produção de MSH.
Valores referência para diagnóstico de dislipidemia. Fonte: https://doi.org/10.1590/S0066-782X2001001500001 

A investigação laboratorial do hipercortisolismo deve ser iniciada em pacientes com hipercortisolismo clínico, morbidades anormais para a idade (como osteopenia, osteoporose ou HAS secundária), crianças com ganho de peso e retardo do crescimento, ou incidentalomas adrenais e hipofisários associados ao quadro clínico.

Diferença entre Síndrome de Cushing e Doença de Cushing

A doença e a síndrome de Cushing são relacionadas ao excesso de cortisol no corpo, entretanto, a causa é o que diferencia elas.

A síndrome é um termo geral para qualquer condição com excesso de cortisol no corpo, já a doença é um tipo específico da síndrome de cushing.

Como deve ser feito o Diagnóstico?

O diagnóstico laboratorial do hipercortisolismo se baseia em três testes principais. A confirmação da SC requer que pelo menos dois desses exames estejam alterados, em conjunto com o quadro clínico:

  • Cortisol pós-supressão com 1 mg de dexametasona: Em um indivíduo normal, a dexametasona inibe o eixo corticotrópico, levando à supressão do cortisol. Na SC, o cortisol pós-teste é maior que 1,8 µg/dL, indicando a falha na supressão.
  • Cortisol livre urinário de 24h: Aumentado em 2-3 amostras, indicando a produção total de cortisol ao longo do dia.
  • Cortisol salivar à meia-noite: Aumentado em 2-3 amostras, pois o cortisol estaria normalmente em seu nível mais baixo nesse horário do ciclo circadiano.

Se apenas um desses exames estiver alterado ou for inconclusivo, testes mais específicos são realizados, como o cortisol sérico à meia-noite e o teste de supressão com 2 mg/dia de dexametasona por 48 horas.

Após a confirmação da SC, o próximo passo é determinar se a causa é ACTH-dependente ou independente através da dosagem de ACTH. Níveis de ACTH menores que 10 pg/mL indicam uma causa ACTH-independente (adrenal). Níveis normais ou aumentados (> 20 pg/mL) sugerem uma causa ACTH-dependente (hipofisária ou ectópica).

A Síndrome de Cushing é grave?

Sim, a Síndrome de Cushing pode ser grave e fatal se não for diagnosticada e tratada adequadamente. As compliações podem ser:

  • Problemas cardiovasculares: Pressão alta, doenças cardíacas, derrame e insuficiência cardíaca.
  • Distúrbios metabólicos: Resistência à insulina, diabetes tipo 2.
  • Problemas ósseos: Osteoporose e fraturas.
  • Infecções: O sistema imunológico fica comprometido, aumentando a suscetibilidade a infecções.
  • Impactos psicológicos: Ansiedade, depressão e alterações no humor.
  • Problemas reprodutivos: Infertilidade e disfunções sexuais. 

Tratamento da Síndrome de Cushing

O tratamento de escolha para a Síndrome de Cushing é cirúrgico, visando a causa subjacente da doença.

  1. Adenoma Adrenal Produtor de Cortisol: O tratamento é a adrenalectomia unilateral por videolaparoscopia.
  2. Carcinoma Adrenal: A adrenalectomia unilateral é o procedimento de escolha, muitas vezes complementada com quimioterapia (mitotano) e radioterapia.
  3. Hiperplasia Adrenal Macronodular: Tratada com adrenalectomia unilateral da glândula maior, podendo ser acompanhada pela ressecção parcial da glândula contralateral.
  4. Doença de Cushing (adenoma hipofisário): O tratamento é a ressecção neurocirúrgica do tumor, geralmente por via transesfenoidal.

O tratamento medicamentoso é utilizado para controlar os sinais e sintomas do hipercortisolismo, mas não resolve a causa-base da doença. O Cetoconazol é um dos medicamentos mais comuns, pois inibe a esteroidogênese adrenal e gonadal, e tem um rápido início de ação. Outras opções incluem etomidato, mitotano, cabergolina e pasireotide.

Qual especialista trata a Síndrome de Cushing?

A Síndrome de Cusing é diagnosticada por um endocrinologista, o especialista em doenças e distúrbios hormonais. Esse profisional que irá diagnosticar e recomendar o melhor plano de tratamento.

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