
O Adenoma Hepático (AH) é um tumor benigno raro do fígado, mas de grande relevância clínica devido ao potencial de complicações graves, como hemorragia e degeneração maligna. O manejo e o prognóstico do adenoma hepático são altamente dependentes da avaliação dos fatores de risco e da sua classificação molecular.
Epidemiologia e Fatores de Risco do Adenoma Hepático
O AH é o terceiro tumor hepático incidental mais comum. Ele apresenta uma marcante preponderância feminina (10:1), sendo diagnosticado predominantemente entre 35 e 40 anos. Vale ressaltar que o uso de contraceptivos hormonais é um fator de risco importante (antes do advento dos contraceptivos, a incidência era de 1 caso por 1.000.000, subindo para 30-40 casos por 1.000.000 em mulheres jovens atualmente).
Além disso, o risco de hemorragia é maior durante a gravidez, devido ao aumento dos hormônios femininos e ao estímulo ao crescimento do adenoma.
Outros fatores que contribuem para o desenvolvimento e crescimento do adenoma são a composição corporal (como obesidade e esteatose hepática), uso de esteroides anabolizantes (são um fator de risco crescente na população masculina), presença de distúrbios metabólicos (como hemocromatose e doenças do glicogênio, notavelmente a Glicogenose tipo I (associação em 50% dos casos) e tipo III (associação em 25% dos casos).

Quadro Clínico e Complicações
Muitos pacientes com adenoma hepático são assintomáticos. Mas os sintomas comuns são dor e desconforto abdominal, que tendem a ser mais insidiosos e eventuais. A presença de dor aguda deve levantar a suspeita de complicações, como trombose ou rotura do adenoma.
Quais possíveis complicações?
As complicações são mais frequentes em lesões maiores que 5 cm e incluem:
- Hemorragia (15-30%): Maior risco durante a gravidez.
- Degeneração Maligna: Risco de transformação para Carcinoma Hepatocelular (CHC). O subtipo beta-catenina ativado confere maior risco de malignidade.
Diagnóstico e Classificação Molecular
O diagnóstico de AH é feito primariamente por exames de imagem, e a classificação molecular orienta o manejo.
O exame de imagem ideal é a Ressonância Magnética (RM), embora a Tomografia Computadorizada (TC) também seja utilizada.


- RM (Meio de Contraste): Apresenta boa sensibilidade para o componente gorduroso e avalia o padrão de vascularização. Adenomas são, em geral, hipervasculares.
- Achados na TC/RM:
- Lesão hipervascular na fase arterial, com realce na periferia (telangiectasias).
- Presença de componente hipodenso (gordura) ou hiperdensidade em caso de sangramento recente.
O adenoma hepático é uma entidade heterogênea classificada em subtipos moleculares que se correlacionam com o risco de sangramento e malignidade:
Subtipo (2006) | Frequência | Particularidades Clínicas/ Risco |
HNF-1 inativado | 30-40% | Considerado o “Bonzinho”. São esteatóticos (componente gorduroso importante) |
Inflamatórios (JAK/STAT ativado) | 40-55% | Associado à obesidade e síndrome metabólica. Aspecto telangiectásico. O “Sinal do Atol” (anel hiperintenso na periferia em T2) pode estar presente. |
Beta-catenina Ativado | 10-20% | Risco aumentado de degeneração para CHC. Representação maior no sexo masculino. Mutações no éxon 3 estão associadas à degeneração maligna. |
Não Classificável | 5-10% | Subtipos não associados a mutações conhecidas. O subtipo Sonic Hedgehog (parte dos não classificáveis) possui risco muito maior para sangramento. |



Manejo Terapêutico
O manejo do adenoma hepático é determinado pelo sexo, tamanho da lesão, sintomas e classificação molecular. A abordagem inicial para pacientes com adenoma hepatocelular é solicitar uma RM com contraste hepatoespecífico.
Nódulo Único
- Masculino: o homem SEMPRE opera (Ressecção) devido ao risco de complicações e malignidade.
- Feminino: a conduta inicial é parar a terapia hormonal (se em uso).
Se a lesão for < 5 cm inicialmente mantemos a vigilância. Deve-se repetir a RM após 6 a 12 meses da interrupção da terapia hormonal, pois a maioria tende a diminuir. Em lesão > 5 cm (mesmo após cessação hormonal) ou Lesão Suspeita, devemos seguir com RM sugestiva para HNF-1 mutado: Vigilância Ativa.
Um aspecto de Adenoma Inflamatório ou suspeita de beta-catenina mutado sugere a ressecção. Em uma lesão central, não sugestiva para HNF-1 alpha mutado, devemos considerar Biópsia e, dependendo do resultado, Embolização ou Vigilância Ativa.
Múltiplos Nódulos (Adenomatose Hepática)
A Lesão > 5 cm requer ressecção. Se irressecável ou em paciente com Glicogenose, pode ser considerado Transplante Hepático. Mas a Lesão < 5 cm requer Vigilância Ativa.
Complicação Aguda (Ruptura/Sangramento)
Em caso de ruptura/sangramento agudo, o tratamento inicial é a Embolização Transarterial. Deve-se repetir a imagem após 3 a 6 meses, aguardar a reabsorção do hematoma e, se houver lesão viável, proceder à Ressecção.
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