
No Dia Nacional do Diabetes, é fundamental revisitarmos uma das condições crônicas mais prevalentes globalmente. Apesar de apresentar vários riscos, essa condição ainda é muito negligenciada pela população.
O que é a Diabetes?
O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de etiologia múltipla, decorrente da deficiência de produção e/ou de ação da insulina, que acarreta hiperglicemia persistente. Compreender sua fisiopatologia e os riscos associados é crucial para a prática clínica e para a promoção da saúde.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, uma parcela significativa da população com DM tipo 2 desconhece seu diagnóstico. Embora os sintomas clássicos de hiperglicemia — como polidipsia, poliúria e perda ponderal inexplicável — possam estar presentes, o caráter muitas vezes assintomático da doença contribui para diagnósticos tardios e, consequentemente, para o desenvolvimento de complicações crônicas.
Como a Glicose e Insulina atuam no corpo?
Para contextualizar, os alimentos ricos em carboidratos são convertidos em glicose durante o processo digestivo. A glicose, uma vez na corrente sanguínea, é a principal fonte de energia para as células do corpo. No entanto, sua entrada nas células depende da presença da insulina. Podemos caracterizar a insulina é como “a chave que abre a porta da célula para o açúcar entrar e permitir o funcionamento e manutenção de todos os processos metabólicos do organismo”.

Quais as formas de Diabetes?
Existem 2 formas de diabetes: Mellitus e Insipidus. A primeira tem uma maior relevância clínica no Brasil, por isso vamos explorar um pouco mais dos mecanismos fisiopatológicos dela.
- Diabetes Tipo 1 (DM1)
Caracteriza-se pela destruição autoimune das células beta pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina. Isso resulta em uma deficiência absoluta de insulina, tornando a insulinoterapia exógena uma necessidade vital para a sobrevida do paciente.
- Diabetes Tipo 2 (DM2)
É uma condição complexa, marcada primariamente pela resistência à insulina, onde as células do corpo não respondem adequadamente ao hormônio, e/ou por uma secreção insuficiente de insulina pelo pâncreas para compensar essa resistência. Frequentemente, associa-se a comorbidades como hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade.
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Quais riscos relacionados à Hiperglicemia?
A complicação central do DM não tratado é a hiperglicemia crônica. A elevação persistente dos níveis de glicose no sangue é um agente lesivo para o endotélio vascular e para os nervos, comprometendo a integridade de vasos sanguíneos e a sensibilidade neural por todo o corpo. As consequências dessa agressão sistêmica são as temidas complicações micro e macrovasculares.
- Complicações Microvasculares:
- Retinopatia Diabética: O dano aos microvasos da retina pode levar a alterações visuais progressivas, culminando em cegueira se não tratada. O mapeamento de retina anual, com pupila dilatada, é indispensável, mesmo na ausência de queixas visuais.
- Nefropatia Diabética: Afeta os rins, manifestando-se inicialmente por microalbuminúria, ou seja, a perda de pequenas quantidades de albumina pela urina. A detecção precoce através do exame anual de microalbuminúria em urina de 24 horas é vital, visto que os vasos da retina e dos rins são semelhantes e um comprometimento em um órgão frequentemente sinaliza risco no outro.
- Neuropatia Diabética: Ocorre devido ao dano aos nervos. Nos membros inferiores, a neuropatia periférica pode causar perda de sensibilidade protetora, tornando os pés vulneráveis a lesões que não são percebidas, resultando em úlceras de difícil cicatrização e, em casos graves, amputações. O autoexame diário dos pés e o teste de sensibilidade pela equipe de saúde são medidas preventivas cruciais.
- Complicações Macrovasculares:
O diabetes aumenta substancialmente o risco de doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). O controle rigoroso da glicemia, pressão arterial e dislipidemia, associado a um estilo de vida saudável, são pilares para a prevenção dessas morbidades.
E o que fazer então?
A natureza insidiosa do diabetes exige monitoramento contínuo. A hemoglobina glicada (HbA1c) é um exame fundamental que reflete a média glicêmica dos últimos três meses, fornecendo uma visão valiosa do controle do diabetes. Além disso, é de fundamental importância de uma alimentação balanceada, atividade física regular e bem-estar emocional, acompanhado de um correto tratamento.
Complicações da Diabetes Mellitus
Retinopatia Diabética (RD)
A retinopatia diabética é uma complicação microvascular comum e específica do DM. A sua presença aumenta a probabilidade de desenvolver doença renal do diabetes (DRD), sendo que a retinopatia geralmente precede a DRD. A RD também aumenta o risco de acidente vascular cerebral, doenças cardiovasculares e doença arterial periférica. Em pacientes com DM1, a retinopatia é mais frequente e grave.
Fisiopatologia e Fatores de Risco
A fisiopatologia envolve hiperglicemia crônica, que leva à microangiopatia e oclusão capilar. Isso resulta em hipóxia retiniana, aumento da permeabilidade vascular e, por fim, hemorragias e exsudatos. Os fatores de risco para o desenvolvimento da RD incluem longa duração do DM, hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia (DLP), doença renal crônica (DRC), tabagismo e obesidade.
Rastreamento e Diagnóstico
O rastreamento da RD é assintomático em seus estágios iniciais, tornando crucial a realização de exames oftalmológicos completos. O rastreamento deve ser feito no momento do diagnóstico para pacientes com DM2 e cinco anos após o diagnóstico para pacientes com DM1. Exames complementares incluem mapeamento de retina e fundoscopia. Outros exames de imagem de retina úteis para triagem e diagnóstico incluem retinografia, angiofluoresceinografia e tomografia de coerência óptica (OCT).
Classificação e Tratamento
A retinopatia é classificada em ausência de retinopatia, retinopatia diabética não proliferativa (RDNP) leve, moderada, grave e muito grave, e retinopatia diabética proliferativa (RDP). O tratamento abrange desde o controle rigoroso da glicemia, HAS, DLP e nefropatia até fotocoagulação a laser para danos significativos. Em casos mais avançados, podem ser utilizados antiangiogênicos e esteroides intravítreos, bem como vitrectomia para hemorragias vítreas de longa duração.
Neuropatia Diabética
A neuropatia diabética é a complicação crônica mais prevalente, afetando cerca de 50% dos pacientes com DM. O diagnóstico é clínico e de exclusão, requerendo a presença de sinais ou sintomas de disfunção dos nervos periféricos após a exclusão de outras possíveis causas. A ausência de sintomas não exclui a neuropatia. O rastreamento deve ser feito no momento do diagnóstico para DM2 e 5 anos após o diagnóstico para DM1, com reavaliação anual se o resultado for negativo.
Fisiopatologia e Apresentação Clínic
A neuropatia diabética é causada por hiperglicemia crônica, que ativa vias metabólicas que levam à disfunção mitocondrial e apoptose neuronal. Hipertensão e dislipidemia também contribuem para a disfunção neuronal. A apresentação clínica pode incluir:
- Polineuropatia sensitivo-motora: É a mais comum, com sintomas de parestesias, alodinia, câimbras e fraqueza muscular, geralmente em padrão de “bota e luva”.
- Neuropatia autonômica: Afeta os sistemas nervoso simpático e parassimpático. Pode causar hipotensão postural, taquicardia de repouso, gastroparesia, disfunção erétil e bexiga neurogênica.
- Mononeuropatia: Acomete apenas um nervo periférico, como o 3º par craniano, levando à ptose palpebral.
- Radiculoneuropatia: Geralmente acomete um dermátomo, sendo a neuropatia do plexo lombossacral a mais comum.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico envolve a avaliação de sensibilidade dolorosa, térmica e vibratória, além do reflexo aquileu. O teste do monofilamento é utilizado para avaliar o risco de úlceras no pé, não para diagnóstico. O tratamento de base foca no controle da glicemia, HAS, peso, dislipidemia e na cessação de tabagismo e etilismo. O tratamento restaurador pode incluir fisioterapia, ácido alfa-lipóico e reposição de vitaminas. O tratamento sintomático para dor neuropática inclui medicamentos como gabapentinoides, antidepressivos tricíclicos e inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina.

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