
Na rotina da emergência pediátrica, frequentemente nos deparamos com condições complexas onde o distúrbio de um sistema orgânico desencadeia alterações em outro, como ocorre com as hepatologias.
Quais as principais doenças hepáticas na pediatria?
Estudar hepatologia na emergência pediátrica é fundamental porque o fígado desempenha funções vitais no organismo e, em crianças, doenças hepáticas podem se manifestar de forma aguda e rapidamente progressiva. Os principais achados que devemos dominar são:
- Cirrose Hepática e Hipertensão Portal;
- Ascite e Peritonite bacteriana espontânea;
- Hemorragia Digestiva Alta;
- Insuficiência Hepática Aguda.
Cirrose Hepática e Hipertensão Portal
A cirrose hepática em crianças, frequentemente secundária a condições como atresia biliar culmina na hipertensão portal. As principais consequências da hipertensão portal são a ascite, as varizes esofagogástricas e o hiperesplenismo.
É no hiperesplenismo que encontramos uma das principais manifestações hematológicas da cirrose. O aumento do baço (esplenomegalia) leva ao sequestro e destruição acelerada das células sanguíneas. Isso se traduz clinicamente em:
- Plaquetopenia: Redução do número de plaquetas.
- Leucopenia: Redução do número de leucócitos.
- Anemia: Redução dos glóbulos vermelhos.
Essas citopenias são cruciais na avaliação e manejo, aumentando o risco de sangramento (plaquetopenia) e infecções (leucopenia), complicando o tratamento das emergências hepáticas.
Já a insuficiência hepatocelular, outra consequência da cirrose mencionada, também tem forte impacto hematológico, notadamente na Coagulopatia. O fígado sintetiza a maioria dos fatores de coagulação; sua disfunção leva à deficiência desses fatores, aumentando o risco de sangramento.
As principais manifestações da insuficiência hepatocelular são: Icterícia; Coagulopatia; Hipoalbuminemia; Encefalopatia hepática.
Ascite e Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE)
A ascite, complicação comum da cirrose, pode evoluir para PBE, uma infecção do líquido ascítico sem foco intra-abdominal evidente. O diagnóstico de PBE tem um critério hematológico fundamental: a contagem de polimorfonucleares (PMN) no líquido ascítico.
- Diagnóstico: > 250 PMN/mm³ com ou sem cultura positiva.
O manejo da PBE inclui o uso de albumina, que, embora não seja um tratamento hematológico direto, é vital para manter a pressão oncótica plasmática, impactando a distribuição de fluidos e, indiretamente, a estabilidade hemodinâmica que afeta a hematopoiese. A descontinuação de beta-bloqueadores (risco aumentado de síndrome hepatorrenal) também tem relevância indireta, dada a complexa interação sistêmica.
Hemorragia Digestiva Alta (HDA)
A HDA em hepatopatas, frequentemente varicosa, é uma emergência que exige pronta ação. Para fazer a estabilização inicial, podemos incluir, se necessário, transfusão sanguínea, sublinhando a importância do manejo hematológico agudo. A coleta de exames inclui o hemograma (para avaliar a perda sanguínea e citopenias basais pelo hiperesplenismo) e o coagulograma (para avaliar a coagulopatia pela insuficiência hepática).

- Estabilizar: Via Aérea; a expansão com Soro Fisiológico ou transfusão sanguínea é feita se necessário;
- Exames: Tipagem sanguínea e caso necessário transfusão; Hemograma; Coagulograma; Função Hepática; Eletrólitos.
O tratamento específico da HDA varicosa inclui a Vitamina K para tentar corrigir a coagulopatia, destacando o aspecto hematológico do manejo.
Insuficiência Hepática Aguda (IHA)
A IHA em pediatria é uma condição devastadora. O diagnóstico exige a presença de coagulopatia não corrigida por vitamina K, definida por INR >2,0 ou >1,5 associado à encefalopatia. Este é um critério hematológico central para o diagnóstico da IHA.
Importante lembrete: Coagulopatia não corrigida por vitamina K: INR >2,0 ou >1,5 com encefalopatia.
O tratamento de suporte da IHA, realizado em centros com possibilidade de transplante hepático, inclui o manejo da coagulopatia com Vitamina K e a consideração de hemocomponentes, como plasma fresco congelado ou crioprecipitado, para corrigir o distúrbio da coagulação em casos de sangramento ativo ou procedimentos invasivos, evidenciando o suporte hematológico intensivo necessário.
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