
O desenvolvimento infantil é um processo contínuo que engloba o crescimento físico, a maturação neurológica, e o desenvolvimento comportamental, sensorial, cognitivo e de linguagem.
Qual sua importância?
O desenvolvimento infantil já se inicia na concepção, mas o período mais crítico para o neurodesenvolvimento é a chamada Janela de Oportunidades, que compreende os primeiros mil dias de vida (da gestação até os 2 anos). Durante esse período, o cérebro passa por uma maturação intensa, com mielinização e criação de novas sinapses. Por isso, os estímulos e a reabilitação nessa fase têm um prognóstico melhor devido à grande plasticidade neuronal.

Quais são os principais fatores de risco?
Diversos fatores podem impactar o desenvolvimento infantil de forma positiva ou negativa. É importante que o profissional de saúde avalie a criança em todas as consultas. Entre os fatores de risco, destacam-se:
- Pré-natal: ausente ou incompleto.
- Neonatal: prematuridade (principalmente prematuros extremos), baixo peso ao nascer (<2500g), asfixia perinatal, internação prolongada, infecções, hemorragia do SNC (peri e intraventricular) e icterícia grave.
- Pós-natal: meningite, traumatismo cranioencefálico (TCE) grave, convulsões e outras comorbidades.
- Ambientais: uso de substâncias psicoativas, abuso, depressão materna e consanguinidade.
Quais áreas analisar?
A avaliação do desenvolvimento infantil é dividida em quatro áreas principais:
- Motor: engloba o desenvolvimento motor grosso e o motor fino.
- Adaptativo: relaciona-se com as habilidades motoras finas e a capacidade de adaptação.
- Social: envolve a interação com o ambiente e o desenvolvimento de relações.
- Linguagem: inclui a aquisição da comunicação, desde o choro até a fala complexa.
O desenvolvimento motor segue uma ordem céfalo-caudal (da cabeça para os pés) e próximo-distal (do centro para as extremidades). As aquisições mais simples são pré-requisitos para as mais complexas, como, por exemplo, o controle de tronco é necessário para a criança conseguir sentar.
Quais principais reflexos primitivos?
Os reflexos primitivos são respostas fisiológicas presentes ao nascimento devido à imaturidade do Sistema Nervoso Central (SNC). Eles desaparecem à medida que o SNC amadurece e os movimentos voluntários surgem. Alguns dos reflexos primitivos incluem:
- Reflexo de Procura: A criança vira a cabeça em direção ao estímulo perioral, abrindo a boca. Desaparece entre 3 e 4 meses.
- Marcha Reflexa: Ao segurar a criança em pé com os pés tocando uma superfície, ela faz movimentos de marcha. Desaparece entre 3 e 4 meses.
- Reflexo Tônico-Cervical (Esgrimista): Ao girar a cabeça do bebê, os membros do lado para onde a cabeça está virada se estendem, e os do lado oposto se fletem. Desaparece entre 3 e 4 meses.
- Reflexo de Preensão Palmar: A criança flexiona os dedos ao ter a palma da mão tocada. Desaparece entre 4 e 6 meses.
- Reflexo de Moro: Em resposta a uma queda súbita, o bebê faz movimentos de extensão e abdução dos braços, seguidos por adução e flexão. Desaparece entre 4 e 6 meses.
- Preensão Plantar: A pressão na planta do pé causa a flexão dos dedos. Desaparece entre 15 e 18 meses.
Marcos do desenvolvimento infantil
A Caderneta de Saúde da Criança é uma ferramenta oficial para avaliar o desenvolvimento. Para bebês prematuros, a avaliação deve ser feita com a idade corrigida até os 2 anos. A ausência de um marco de uma faixa etária anterior, ou duas aquisições da faixa etária atual, são sinais de alerta.
- RN: Observa o rosto humano, eleva a cabeça em decúbito ventral e reage ao som.
- 1 mês: Sorri, abre as mãos e emite sons.
- 2-3 meses: Responde ao contato social, segura objetos e sustenta a cabeça.
- 4-5 meses: Leva objetos à boca, localiza o som e começa a rolar.
- 6-8 meses: Brinca de “esconde-achou”, transfere objetos entre as mãos e senta sem apoio.
- 9-11 meses: Imita gestos, tem angústia de separação e faz movimento de pinça.
- 12-14 meses: Anda sem apoio, aponta o que quer, fala a primeira palavra.
- 15-17 meses: Usa colher ou garfo e constrói uma torre de dois cubos.
- 18-23 meses: Tira a roupa, chuta a bola e fala mais de 10 palavras.
- 24-29 meses: Veste-se com supervisão, forma frases de duas palavras e pula com os dois pés.
O que atrapalha o desenvolvimento e como estimular?
O uso de telas afeta a linguagem e o desempenho intelectual, especialmente em crianças menores de 2 anos, para as quais o tempo de tela deve ser zero. O uso de chupetas também prejudica o desenvolvimento da linguagem. O estresse tóxico – grave, recorrente e fora do habitual, como o causado por pobreza extrema ou abuso – pode levar a uma diminuição do tamanho do cérebro e a uma redução das redes neuronais.

Para estimular o desenvolvimento, é fundamental o brincar, o afeto, o tempo no chão, a leitura compartilhada e a conversa.
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