Descubra quais as principais icterícias febris e como diferenciá-las!

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As doenças que se apresentam com febre e icterícia representam um grupo desafiador de diagnósticos diferenciais. O reconhecimento precoce das especificidades de cada uma é fundamental para um manejo assertivo na rotina médica.

Quais são as doenças que podemos caracterizar como Icterícias febris?

No geral, as doenças icterícias febris, que são a leptospirose, a febre amarela e as hepatites virais, apresentam uma história natural semelhante: 

Fluxograma e gráfico de evolução da infecção viral, mostrando fases de contágio, incubação, fase aguda, resposta imunológica com IgM e IgG, testes de PCR/antígeno e sorologia.
Evolução da infecção viral: da fase aguda detectada por PCR/antígeno até a resposta imunológica com produção de IgM e IgG | Acervo de ilustrações do Grupo MedCof.

Como diferenciá-las?

Leptospirose

A leptospirose é causada por mais de 80 sorotipos de bactérias do gênero Leptospira, sendo a L. icterohaemorrhagiae a mais comum. A transmissão ocorre através do contato com a urina de roedores, seja por pele íntegra, via inalatória, ou mucosa. O período de incubação é, em média, de sete dias, variando de 4 a 30 dias. A doença se divide em duas fases principais:

Fase Leptospirêmica (3-5 dias)

Nesta fase, a infecção é inespecífica e 80% dos pacientes evoluem para a cura. Os sintomas incluem febre, mal-estar, náuseas, vômitos e mialgia, especialmente nas panturrilhas e no dorso. Exames laboratoriais podem mostrar aumento de CPK, leucocitose com desvio à esquerda e transaminases (TGO/TGP) em valores de até 200 UI/L. Nessa fase, geralmente não há icterícia ou injúria renal. O diagnóstico é realizado por PCR no sangue.

Fase Imunológica (Síndrome de Weil)

Cerca de 20% dos casos evoluem para essa fase, que é mais grave e cursa com complicações. A característica principal é a icterícia rubínica (alaranjada), causada por uma vasculite sistêmica que leva a sufusões hemorrágicas. Diferentemente de outras hepatopatias, a necrose hepatocelular é mínima, com transaminases entre 200-300 UI/L, mas a colestase intra-hepática eleva a bilirrubina direta. As principais manifestações incluem injúria renal aguda não oligúrica e normo/hipocalêmica (apesar de poder haver oligúria, o que indica maior mortalidade), e edema agudo de pulmão (EAP), que é a principal causa de morte. Outras complicações podem ser meningite asséptica e miocardite. O diagnóstico é feito com PCR na urina ou sorologia com aumento do título em duas semanas ou um título único superior a 1:800.

Gráfico mostrando a evolução da leptospirose, com detecção por PCR no sangue, PCR na urina e sorologia ao longo das fases de infecção, leptospiremia e resposta imunológica.
Diferença diagnóstica das duas fases da leptospirose | Acervo de ilustrações do Grupo MedCof.

O tratamento é de suporte, incluindo diálise precoce para a injúria renal e antibioticoterapia com ceftriaxona por 7 dias, que pode ser substituído por penicilina, amoxicilina, azitromicina ou doxiciclina.

Febre Amarela

A febre amarela é transmitida pelos mosquitos Aedes (urbano) ou Haemagogus (silvestre), com um período de incubação de 3 a 5 dias. A doença também se divide em fases:

Período de Infecção (3-5 dias)

A maioria dos pacientes (85%) se recupera nesta fase. Os sintomas são febre, mal-estar, mialgia, náuseas, vômitos e cefaleia. Um achado sugestivo é o Sinal de Faget, que é a dissociação entre febre alta e bradi/normocardia, causada por compressão vagal devido à distensão hepática. O diagnóstico é feito por PCR sérico na fase virêmica.

Período Toxêmico

Após um período de 12 a 24 horas de remissão dos sintomas, 15% dos pacientes evoluem para o período toxêmico, com letalidade de 90%. Esta fase é marcada por falência hepática aguda, com icterícia, sangramentos gastrointestinais, alargamento do coagulograma, plaquetopenia e transaminases que podem ultrapassar 1000 UI/L, um achado clássico que a diferencia de outras doenças. Outras manifestações incluem necrose tubular aguda e miocardite. O diagnóstico é confirmado por sorologia (ELISA) na fase imunológica.

Paciente com icterícia e sufusão hemorrágica conjuntival, sinais da fase toxêmica da febre amarela. Fonte: https://www.cosemssc.org.br/wp-content/uploads/2021/06/Capacita%C3%A7ao-HU_Suspeicao-e-Manejo-Clinico_-Marise.pdf 

O tratamento é de suporte, e o transplante hepático pode ser necessário em casos graves. A vacinação é a principal medida de prevenção.

Malária

Causada principalmente por Plasmodium vivax (mais comum no Brasil) e P. falciparum (mais grave), a malária é transmitida pela picada do mosquito Anopheles. A febre é o sintoma mais notável, podendo ser paroxística, acompanhada de calafrios e sudorese.

As principais características dos tipos de malária são:

  • P. vivax: Causa a maioria das infecções no Brasil e é conhecida por ter formas hepáticas (hipnozoítas) que podem causar recaídas no quadro clínico.
  • P. falciparum: Responsável por cerca de 3% dos casos, causa a forma mais grave da doença, com alta parasitemia e preferência pelo tecido neurológico, podendo levar à forma cerebral da malária.

O padrão-ouro de diagnóstico é a gota espessa, que permite identificar a espécie e quantificar a parasitemia. Os testes rápidos de imunocromatografia não são ideais para o P. vivax.

O tratamento varia de acordo com a espécie:

  • P. vivax: Cloroquina por 3 dias e primaquina por 7 dias.
  • P. falciparum: Terapia com derivados de artemisinina, como artesunato + mefloquina ou artemeter + lumefantrina, com primaquina em dose única para eliminar os gametócitos.

A notificação é semanal na região amazônica e imediata em outras áreas.

Tabela comparativa entre malária por Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax, destacando incubação, presença de hipnozoítos, reticulócitos, periodicidade e tratamento recomendado.
Diferenças entre os principais tipos de malária. | Acervo de ilustrações do Grupo MedCof.

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