25.8 C
São Paulo
sexta-feira, 20 junho
InícioOtorrinolaringologiaSinusite aguda: sintomas, diagnóstico e manejo clínico completo

Sinusite aguda: sintomas, diagnóstico e manejo clínico completo

Imagem: Canva.

A sinusite aguda é uma inflamação súbita dos seios paranasais, geralmente causada por vírus, mas podendo evoluir para infecção bacteriana.

Os principais sintomas são obstrução nasal, dor ou pressão facial, secreção nasal e, às vezes, febre.

O quadro pode afetar a qualidade de vida e a diferenciação entre sinusite viral e bacteriana é fundamental para o tratamento.

O conteúdo a seguir aborda critérios diagnósticos, fisiopatologia, manejo clínico e formas de prevenção.

Fisiopatologia da sinusite aguda

A sinusite aguda inicia-se geralmente após uma infecção viral das vias aéreas superiores, causando inflamação da mucosa dos seios paranasais e do nariz. Esse processo inflamatório leva ao edema e aumento da produção de muco, comprometendo a função normal da mucosa ciliar.

Com a mucosa edemaciada, obstrução dos óstios metais, estruturas responsáveis pela drenagem dos seios para a cavidade nasal. Essa obstrução impede o escoamento adequado das secreções, permitindo seu acúmulo dentro dos seios paranasais.

O acúmulo de muco cria um ambiente propício para proliferação de bactérias, resultando em colonização bacteriana secundária. Assim, a infecção pode se agravar, levando a sintomas típicos como dor facial, congestão, febre e secreção nasal purulenta.

Etiologia da sinusite aguda

A etiologia da sinusite aguda em adultos é viral, com o rinovírus e a influenza sendo os principais responsáveis. Entretanto, infecções bacterianas, como as causadas por Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis, também podem ocorrer.

Causas e fatores de risco da sinusite aguda

A maioria dos casos de sinusite aguda tem início após uma infecção viral do trato respiratório superior, como o resfriado comum. 

Essas infecções virais comprometem a mucosa dos seios paranasais, levando a inflamação, inchaço e acúmulo de muco. Esse processo dificulta a drenagem adequada das secreções, criando um ambiente propício à proliferação de micro-organismos.

Com a obstrução das vias de drenagem, infecções bacterianas secundárias podem se desenvolver, principalmente por germes como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis. 

Essas bactérias aproveitam o ambiente já inflamado e o acúmulo de secreção para crescer, levando ao agravamento e à persistência dos sintomas típicos da sinusite.

As infecções fúngicas, por sua vez, são causas menos comuns de sinusite aguda, mas podem ocorrer especialmente em pacientes imunocomprometidos

Entre os principais fatores de risco para desenvolver sinusite aguda estão alergias respiratórias, desvio de septo nasal, presença de pólipos nasais, tabagismo, variações anatômicas do nariz e algumas condições médicas específicas que afetam a imunidade ou a anatomia das vias aéreas.

Principais sintomas da sinusite aguda

Os sintomas cardinais da sinusite aguda incluem dor e pressão facial, geralmente localizada sobre os seios paranasais afetados. A congestão nasal intensa é muito comum, acompanhada de secreção nasal espessa, com coloração amarelada ou esverdeada. Outro sinal importante é a hiposmia, ou seja, a redução do olfato.

Já os sintomas secundários frequentemente relatados são dor de cabeça, que pode variar em intensidade, e febre moderada. Há a presença de tosse, especialmente à noite, que ocorre devido ao gotejamento pós-nasal, além de halitose (mau hálito), sensação de fadiga e mal-estar geral.

A variação dos sintomas conforme o seio paranasal afetado ocorre quando o seio maxilar está envolvido, a dor costuma ser sentida na região das bochechas ou nos dentes superiores. Se a sinusite acomete o seio frontal, pode haver dor intensa acima das sobrancelhas, que piora ao inclinar a cabeça para frente.

No caso do seio esfenoidal, o desconforto pode ser percebido mais profundamente, como dor na região occipital (parte posterior da cabeça) ou no vértice do crânio. 

Além disso, a localização da dor e a intensidade dos sintomas podem variar conforme a idade, anatomia paranasal e presença de condições como rinite prévia. Portanto, o padrão de manifestações clínicas contribui para direcionar o diagnóstico e o tratamento.

Critérios diagnósticos da sinusite aguda

O diagnóstico da sinusite aguda é principalmente clínico, baseado na história e no exame físico do paciente. Os principais critérios são:

  • Obstrução/congestão nasal;
  • Rinorreia purulenta (corrimento nasal amarelado ou esverdeado);
  • Dor ou pressão facial (especialmente nas regiões maxilar, frontal ou entre os olhos);
  • Redução ou perda do olfato;
  • Febre (mais comum em bacteriana);
  • Sintomas dentários (dor em arco superior).

Para ser considerado rinossinusite aguda, os sintomas devem estar presentes por até 4 semanas.

Diferença entre sinusite aguda e sinusite crônica

Sinusite Viral x Bacteriana x Crônica

CaracterísticaSinusite Viral AgudaSinusite Bacteriana AgudaSinusite Crônica
Duração dos sintomas< 10 dias> 10 dias ou piora após 5°-7° dia> 12 semanas
Padrão dos sintomasMelhora progressivaPiora após breve melhora Sintomas leves, contínuos
IntensidadeLeve a moderadaModerada a graveLeve a moderada
FebreRaraFrequentePode ou não estar presente
Resposta ao tratamento sintomáticoBoaInsatisfatóriaFraca
Exame de imagemNão indicadoApenas se complicadoTC dos seios paranasais

A sinusite viral aguda geralmente se manifesta junto a resfriados, dura menos de 10 dias e mostra melhora contínua sem agravamento relevante dos sintomas. Em contrapartida, a sinusite bacteriana aguda é sugerida diante de sintomas persistentes por mais de 10 dias, especialmente quando há piora após um breve período de melhora inicial ou sintomas mais intensos, como febre alta e dor facial forte. 

Já a sinusite crônica é caracterizada por sintomas diários, leves ou moderados, com duração superior a 12 semanas, tipicamente sem febre, sendo necessário exame de imagem (TC) para investigação completa. A diferenciação clínica é essencial, e exames de imagem são reservados para casos de complicação, falha terapêutica ou suspeita de cronicidade.

Quando indicar exames de imagem?

A indicação de exames de imagens não é recomendada no diagnóstico inicial da rinossinusite aguda, pois não diferencia claramente entre infecção viral e bacteriana. Eles são indicados em situações de:

  • Suspeita de complicações (celulite orbitária, abscesso, sinais neurológicos);
  • Sintomas graves atípicos ou persistentes além de 10-12 semanas;
  • Falha terapêutica após manejo clínico adequado;
  • Sinusite crônica ou recorrente.

A tomografia computadorizada (TC) é atualmente o padrão-ouro para avaliação anatômica dos seios paranasais.

Manejo da sinusite aguda na prática clínica

O manejo da sinusite aguda deve ser guiado pela gravidade dos sintomas e pelo tempo de evolução do quadro clínico. 

Na maioria dos casos, a sinusite aguda é de origem viral e apresenta resolução espontânea, sendo suficiente a prescrição de medicamentos sintomáticos, como analgésicos, antitérmicos e descongestionantes nasais (com cautela). A orientação sobre hidratação e repouso também é recomendada.

O uso de corticoides intranasais pode ser benéfico, especialmente em casos com queixa intensa de congestão nasal ou histórico de rinite alérgica associada. Esses medicamentos auxiliam na redução da inflamação da mucosa nasal, promovendo maior conforto sintomático e facilitando a drenagem dos seios paranasais. 

Assim, a reavaliação clínica deve ser orientada em situações de persistência ou piora dos sintomas após o início do tratamento sintomático. É fundamental esclarecer para o paciente quais sinais de alarme indicam necessidade de retorno precoce, como dor facial intensa, febre alta de difícil controle, edema orbitário ou rebaixamento do estado geral, que podem sugerir complicações ou necessidade de abordagem específica.

Protocolo de abordagem inicial

O primeiro passo na abordagem do paciente com sinusite aguda é realizar uma anamnese detalhada, buscando caracterizar o início, duração e evolução dos sintomas, bem como fatores de risco e antecedentes pessoais. 

Na ausência de sinais de gravidade ou critérios específicos para infecção bacteriana, recomenda-se tratamento sintomático associado à lavagem nasal e, se necessário, corticoide intranasal. 

Além disso, faz parte do protocolo agendar uma reavaliação após sete a dez dias, ou se houver piora durante o acompanhamento. Dessa forma, é possível identificar precocemente casos de evolução desfavorável ou complicações, garantindo tratamento adequado em tempo hábil.

Quando indicar antibioticoterapia?

A antibioticoterapia só deve ser indicada em casos de provável sinusite bacteriana, conforme critérios validados por diretrizes clínicas. Os principais critérios são: 

  • Persistência dos sintomas por 10 dias ou mais sem melhora;
  • Piora dos sintomas após um período inicial de aparente recuperação (dupla piora;
  • Presença de secreção nasal purulenta associada a febre alta e dor facial intensa.

A prescrição precipitada de antibióticos deve ser evitada, pois a maioria dos quadros é viral e se resolve espontaneamente. 

Quando confirmada a indicação, recomenda-se utilizar agentes de primeira linha, como amoxicilina (com ou sem ácido clavulânico), respeitando doses e duração adequadas. Também deve-se orientar o paciente a completar o tempo prescrito e manter acompanhamento para identificar resposta ao tratamento e possíveis efeitos adversos.

Complicações da sinusite aguda

A sinusite aguda é, em sua maioria, autolimitada, mas quando evolui com complicações pode se tornar ameaça real à visão, à função neurológica e à vida do paciente. Veja os principais pontos de atenção para quem acompanha casos em pronto-socorro e enfermarias.

Complicações Orbitais

As complicações orbitais resultam da proximidade dos seios paranasais com a órbita, sendo mais frequentes em casos de sinusite etmoidal, especialmente em crianças.

  • Celulite Orbital: Trata-se da infecção dos tecidos posteriores ao septo orbitário. Clássicos sinais incluem dor ocular, proptose, edema periorbitário, limitação dos movimentos oculares e, mais grave, diminuição da acuidade visual. É potencialmente grave pela possibilidade de evolução rápida para abscessos e envolvimento neurológico.
  • Abscesso Orbitário: Desenvolve quando há coleção purulenta dentro da órbita. Os sinais são agudizados: proptose acentuada, oftalmoplegia, hiperemia conjuntival e importante comprometimento visual. O diagnóstico por imagem (TC ou ressonância) e tratamento cirúrgico precoce evitam sequelas irreversíveis, como cegueira.
  • Comprometimento da visão: O risco de perda visual ocorre especialmente pelo aumento da pressão intra orbital e compressão do nervo óptico. É uma emergência, exigindo intervenção rápida para preservar a função ocular.

Complicações Intracranianas

  • Meningite: Ocorre pela invasão dos patógenos dos seios para as leptomeninges. Apresenta-se com febre, rigidez de nuca e rebaixamento do sensório. Pode ser fulminante e requer abordagem antimicrobiana imediata.
  • Abscesso Cerebral: Infecção intracerebral circunscrita, geralmente oriunda da extensão direta ou via vasos sanguíneos. Os sintomas podem ser insidiosos: cefaleia persistente, sinais neurológicos focais, sonolência ou alteração de comportamento. O diagnóstico precoce por imagem é fundamental.
  • Trombose do Seio Cavernoso: Uma das piores complicações, pelo potencial de disseminação rápida e acometimento de múltiplos nervos cranianos (III, IV, V, VI). Manifesta-se com edema orbital bilateral, ptose, déficit de pares cranianos, febre alta e queda do nível de consciência. A mortalidade é alta mesmo com terapia intensiva.

Cronificação da Sinusite

Sinusites agudas de repetição ou tratamentos inadequados podem levar à sinusite crônica, que impacta de forma significativa a qualidade de vida: obstrução nasal persistente, cefaleia, alteração do olfato, cansaço e distúrbios do sono acabam por reduzir a produtividade e o bem-estar do paciente. 

Além disso, o quadro crônico pode abrir portas para infecções recorrentes e resistência bacteriana, tornando o manejo mais complexo no médio e longo prazo.

Como a MedCof te prepara para ser um médico mais completo?

Quer alcançar a aprovação nas provas de residência médica? Então seja um MedCofer! Aqui te ajudaremos na busca da aprovação com conteúdos de qualidade e uma metodologia que já aprovou mais de 10 mil residentes no país! Por fim, acesse o nosso canal do youtube para ver o nosso material.

POSTS RELACIONADOS