Tipos de Choque: como diferenciar a Hipovolemia

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Reprodução: Canva
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Contextualizando 

Você está no plantão e recebe um paciente vítima de trauma, ao exame, você percebe sinais de má perfusão sistêmica e conclui que o mesmo está em choque hipovolêmico. O que fazer diante desse caso? Como proceder de forma cientificamente embasada?

Em consonância com as Diretrizes ATLS (Advanced Trauma Life Support) e respaldados por evidências clínicas atuais, existem abordagens integradas do choque hipovolêmico hemorrágico que devemos ter sempre em mente!

Reconhecimento Precoce

Reforçando a importância do diagnóstico precoce, você deve se atentar aos principais sinais do choque hipovolêmico por meio das “janelas de perfusão”: 

  1. Olhe para a pele.

Uma pele fria, pegajosa, cianótica, um tempo de enchimento capilar > 3 seg a presença de livedo reticular e/ou mottling, em especial na região do joelho são sinais de choque e os últimos estão relacionados a um mau prognóstico.

A imagem exibe membros inferiores de uma pessoa, apresentando livedo articular, caracterizado por uma coloração reticulada e arroxeada na pele, muitas vezes associada à má perfusão tecidual. Essa manifestação pode indicar hipovolemia significativa, uma condição em que há redução do volume de sangue circulante. Essa alteração pode ser um sinal de choque hipovolêmico, um estado crítico que exige intervenção imediata.
Exemplo de livedo reticular. Fonte: blog.abdofarret.com.br. 
  1.  Analise a urina.

 O débito urinário apresenta-se menor que 0,5 ml/kg/h.

  1.  Avalie o neurológico. 

Para pacientes confusos, agitados, ansiosos ou com rebaixamento de nível de consciência no contexto de trauma, podemos Suspeitar de sofrimento cerebral devido à hipovolemia.

*Atenção aos outros achados não menos importantes,  como aumento da frequência cardíaca, hipotensão (PAS < 90 mmHg e/ou PAM < 65 e/ou PAD < 60 mmHg), aumento da frequência respiratória, alterações no base excess e lactato também falam a favor de um quadro de choque.

A imagem ilustra o coração humano com destaque para aspectos relevantes da fisiologia cardíaca. As câmaras cardíacas (átrios e ventrículos) estão identificadas, junto com a representação anatômica das valvas e da circulação pulmonar. Setas indicam estruturas importantes, como os átrios e a circulação, que são cruciais para a manutenção do débito cardíaco. Em casos de choque hipovolêmico, a redução do retorno venoso.
Fisiologia cardíaca em casos de choque hipovolêmico. Fonte: Acervo de Ilustrações do Grupo MedCof.

Estabilização Inicial

No contexto de trauma agudo, é importante garantir uma via aérea pérvia e suporte ventilatório adequado. Mas vamos explorar para outra medida salvadora dessa vez, a reposição volêmica.Podemos começar com 1h na primeira hora ou a administração sequencial de Solução Ringer Lactato (SRL) em alíquotas de 250-500 mg IV a cada 10 minutos, que contribui para a expansão volêmica inicial. Mas devemos nos atentar para a chamada “HIPOTENSÃO PERMISSIVA” no choque hemorrágico, de forma a evitar pressões arteriais muito altas e atrapalhar o processo de coagulação e a perda excessiva de sangue. Alvos pressóricos visando uma PAS entre 90-100 é o suficiente.

E o Transamin?

O seu uso é controverso e divide opiniões em muitos cenários. Mas temos uma indicação cientificamente embasada para ele.

A imagem mostra um profissional de saúde, com estetoscópio no pescoço, segurando um frasco branco de medicação enquanto escreve em um bloco de anotações. O destaque pode estar relacionado ao Transamin, um medicamento indicado para controlar hemorragias, especialmente em casos de fibrinólise exacerbada. A indicação de Transamin é cuidadosamente avaliada pelo profissional, com base na condição clínica do paciente e na necessidade de reduzir a perda sanguínea. Dois frascos âmbar aparecem ao fundo, sugerindo a presença de outros medicamentos ou soluções.
Indicação de transamin. Reprodução: Pinterest.

Nas primeiras 3 horas, a incorporação do ácido tranexâmico é uma prática respaldada por evidências. Inicialmente, 1g (quatro ampolas de 50 mg/ml) administradas em bolus em 10 minutos, seguido por 1g a cada 8 horas. Importante ressaltar que essa intervenção não é indicada após o período inicial de 3 horas.

Protocolo de Transfusão Maciça

Em situações de choque hipovolêmico hemorrágico, o início do protocolo de transfusão maciça é crucial, especialmente nas classes III e IV. Esse protocolo é acionado quando há transfusão de mais de 4 Concentrados de Hemácias (CH) na primeira hora ou mais de 10 CH nas primeiras 24 horas, sendo obrigatório na classe IV e podendo ser considerado nas classes II e III. 

A imagem mostra um paciente em ambiente hospitalar conectado a um equipamento médico, possivelmente um sistema de hemotransfusão ou diálise. Um tubo vermelho transporta sangue entre o braço do paciente e a máquina, destacando um procedimento essencial em casos de transfusão sanguínea. Esse tipo de intervenção é frequentemente utilizado para tratar pacientes com choque hipovolêmico hemorrágico, uma condição grave causada por perda excessiva de sangue, onde a reposição imediata de volume e hemácias é crucial para estabilizar o quadro clínico do paciente.
Transfusão sanguínea. Reprodução: Pinterest.

O ideal é uma transfusão guiada por tromboelastograma, embora essa opção seja limitada na prática clínica pela falta do equipamento em muitos setores.

E a reposição de Cálcio para Suporte Coagulativo?

Um aspecto muitas vezes subestimado, mas crítico, é a reposição de cálcio para suporte à coagulação. A cada 500 ml de sangue transfundido, a recomendação é repor 10 ml de gluconato de cálcio 10%, sendo necessário ajustar conforme os níveis de cálcio. Se o cálcio estiver abaixo de 3,5, 20 ml de gluconato de cálcio 10% diluído em 100 ml de solução fisiológica 0,9% correndo em 1 hora. Se o cálcio estiver entre 3,5 e 4,5, administrar apenas 10 ml.

O racional por trás da conduta é simples: o cálcio é um importante reagente das cascatas de coagulação. Se os seus níveis estão baixos, a síntese dos fatores ficará comprometida.

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