
Você já se deparou com um paciente com dor crônica no ombro e membro superior, parestesia e sintomas vasculares que não se encaixam em um diagnóstico óbvio? Pode ser a hora de pensar na Síndrome do Desfiladeiro Torácico (SDT). Essa condição, muitas vezes subdiagnosticada, é um verdadeiro desafio clínico e seu conhecimento é crucial na prática médica.
O que é e como acontece?
A Síndrome do Desfiladeiro Torácico é um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da compressão de estruturas neurovasculares na região do desfiladeiro torácico. Essa área é um espaço anatômico complexo, delimitado pela clavícula e pela primeira costela. As principais estruturas que atravessam essa passagem e podem ser comprimidas são o plexo braquial, a artéria subclávia e a veia subclávia.

A compressão dessas estruturas pode levar a uma variedade de sintomas, tornando o diagnóstico um quebra-cabeça. O sintoma mais comum é a dor crônica, resultado da compressão do plexo braquial. Em segundo lugar, pode ocorrer trombose da veia subclávia e, mais raramente, isquemia do membro por compressão e trombose arterial.

As origens do problema: as várias faces da compressão
A SDT não tem uma causa única; na verdade, ela pode se originar de diferentes alterações anatômicas. Compreender essas variações é fundamental para o diagnóstico e tratamento adequados.

- Hipertrofia dos Músculos Escalenos: Os músculos escalenos são um marco anatômico importante. A veia subclávia passa anteriormente ao escaleno anterior, enquanto a artéria subclávia e o plexo braquial emergem entre os escalenos anterior e médio. Quando há hipertrofia desses músculos, comum em atletas como tenistas ou em pessoas que realizam musculação e esforços repetitivos, ocorre a compressão do plexo braquial e da artéria subclávia. Notavelmente, essa é a única causa que tipicamente não comprime a veia subclávia, por sua posição mais anterior.
- Redução do Espaço Costoclavicular: Esta é a causa mais comum da síndrome. Ocorre uma diminuição do espaço entre a clavícula e a primeira costela, comprimindo todas as estruturas neurovasculares (plexo, artéria e veia). As causas podem incluir uma consolidação inadequada de fraturas ou simplesmente um componente genético.
- Compressão pelo Músculo Peitoral Menor: A hipertrofia ou uma inserção anômala do músculo peitoral menor também pode comprimir o plexo braquial, a artéria e a veia subclávia.
- Costela Cervical: Uma causa rara, mas clássica, é a presença de uma costela extranumerária, conhecida como costela cervical (representado na imagem abaixo). Essa anomalia óssea, visível em uma radiografia de tórax, pode se inserir na clavícula, causando compressão de todas as estruturas ao reduzir o espaço do desfiladeiro.

Manifestações Clínicas
Os sintomas variam conforme a estrutura comprimida:
- Compressão Neurológica (Plexo Braquial): Dor e parestesia são os sintomas predominantes.
- Compressão Venosa (Veia Subclávia): Pode levar à trombose da veia subclávia.
- Compressão Arterial (Artéria Subclávia): Embora rara, pode causar isquemia do membro afetado.
É importante notar que a trombose venosa não é um sintoma esperado na compressão isolada pelos músculos escalenos.
Conduta Médica: da identificação ao tratamento
O primeiro passo é a suspeita clínica, seguida da identificação da causa subjacente. A radiografia de tórax é fundamental para descartar a presença de uma costela cervical.
O tratamento definitivo visa aliviar a compressão e depende diretamente da causa. As opções cirúrgicas incluem:
- Ressecção da primeira costela: Para ampliar o espaço costoclavicular.
- Desinserção da musculatura: Em casos de hipertrofia dos escalenos ou do peitoral menor.
- Ressecção da costela cervical: Quando esta é a causa da compressão.
Para a prática clínica e, especialmente, para as provas de residência, a identificação da doença e de suas causas anatômicas é o ponto mais crucial. Portanto, mantenha a Síndrome do Desfiladeiro Torácico em seu radar diagnóstico!
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