
Mesmo com tantas descobertas na área da saúde, a Síndrome Coronariana Aguda (SCA) continua sendo um importante problema no Brasil e no Mundo.
Pensar em SCA inclui conceitos cardiológicos, terapêuticos e hospitalares, mas não pode negligenciar as complexidades demográficas e logísticas que impactam nessa condição.
Por isso o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia estabeleceu o “Registro de Síndrome Coronariana Aguda”.
O que esse registro analisa?
O Registro de Síndrome Coronariana Aguda do Dante Pazzanese foi concebido como um estudo prospectivo e observacional, desenhado para capturar a realidade do atendimento em um centro de emergência cardiológica de alto volume. A metodologia empregada priorizou a inclusão consecutiva de pacientes, minimizando vieses de seleção que frequentemente contaminam estudos menores.
Os pacientes elegidos para o estudo foram aqueles que apresentaram sintomas compatíveis com isquemia miocárdica aguda (como desconforto e/ou dor torácica) iniciados a 1 ou 2 dias, associados a alterações no ECG ou elevação de marcadores de necrose miocárdica no pronto-socorro.
A classificação diagnóstica seguiu os padrões internacionais, estratificando os pacientes em três grandes grupos:
- Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST (IAMCSST): Caracterizado pela oclusão total da artéria e necessidade de reperfusão imediata.
- Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnivelamento do Segmento ST (IAMSSST): Indicativo de oclusão parcial ou intermitente, com necrose confirmada por biomarcadores.
- Angina Instável (AI): Isquemia aguda sem evidência bioquímica de necrose celular.
A partir desses pacientes selecionados, foi feita uma análise demográfica e do perfil de risco dos pacientes, sendo achado que o paciente brasileiro apresenta alta carga de doenças ateroscleróticas e comorbidades (refletindo o envelhecimento e a continuação de fatores de risco não controlados no Brasil).
Caracterização do Risco
Conforme o que foi coletado pelo Instituto, temos que:
- A média de idade dos pacientes incluídos no registro situa-se consistentemente na faixa dos 61 a 62 anos. Este dado coloca a população do estudo em uma zona de transição epidemiológica, onde o risco cardiovascular se acelera
- Em relação ao gênero, observa-se uma predominância masculina, variando entre 57,4% e 64% dependendo da coorte específica. No entanto, a participação feminina (aproximadamente 36-40%) é robusta o suficiente para permitir análises específicas.
- No que tange aos fatores de risco clássicos, é alarmante a continuação que representa as falhas na prevenção primária de problemas como Hipertensão Arterial (risco mais onipresente), Diabetes Mellitus, Tabagismo e Dislipidemia (sobretudo quando falamos de pacientes mais jovens).
- Uma sub-análise interessante do registro focou em pacientes com menos de 40 anos. Este grupo apresenta características distintas: são predominantemente do sexo masculino, tabagistas pesados e, angiograficamente, tendem a apresentar lesões uniarteriais.
Qual inovação esse estudo trouxe?
A contribuição mais seminal do IDPC para a literatura cardiológica nacional foi, indubitavelmente, o desenvolvimento e a validação do Escore de Risco Dante Pazzanese (Escore Dante). As variáveis foram escolhidas para estratificar, especificamente, as Síndromes Coronarianas Agudas sem Supradesnivelamento do Segmento ST (SCASSST). As selecionadas para compor o escore, baseadas em análise de regressão logística multivariada, refletem a fisiopatologia da vulnerabilidade cardiovascular:
| Variável do Escore Dante | Pontuação Atribuída | Racional Fisiopatológico e Clínico |
| Idade | 0 a 9 pontos | O envelhecimento é o marcador universal de risco acumulado e fragilidade vascular. |
| Diabetes Mellitus | 2 pontos | Reflete doença aterosclerótica difusa, disfunção endotelial e estado pró-trombótico. |
| Histórico de AVC | 4 pontos | Marcador potente de doença vascular sistêmica avançada e risco hemorrágico aumentado. |
| Não uso prévio de IECA | 1 ponto | Sugere falta de proteção vascular prévia ou hipertensão/IC não diagnosticada/tratada. |
| Elevação da Creatinina | 0 a 10 pontos | A interação cardiorrenal é crítica; disfunção renal eleva drasticamente a mortalidade e complica o uso de contraste/fármacos. |
| Troponina Elevada + Depressão ST | 0 a 4 pontos | Representa a combinação letal de necrose miocárdica ativa e isquemia extensa (instabilidade elétrica). |
O escore foi validado em coortes prospectivas, demonstrando uma capacidade discriminatória robusta para prever o desfecho combinado de morte ou (re)infarto em 30 dias.
A validação revelou uma correlação linear quase perfeita entre a pontuação e a taxa de eventos :
- Muito Baixo Risco (0-5 pontos): 0,0% de eventos.
- Baixo Risco (6-10 pontos): 3,9% de eventos.
- Risco Intermediário (11-15 pontos): 10,9% de eventos.
- Alto Risco (16-30 pontos): 60,0% de eventos (p < 0.0001).
E os estudos anteriores?
Em relação aos estudos GRACE e TIMI, o Escore Dante mostrou insights valiosos e aplicabilidade brilhante na realidade brasileira. Estudos comparativos realizados dentro do próprio IDPC mostraram que, para a predição de mortalidade em 30 dias, o Escore Dante obteve uma estatística-C de 0,80, comparável à do Escore GRACE (0,84) e superior ou equivalente ao TIMI em diversos cenários.
Embora o GRACE mantenha uma ligeira vantagem numérica em algumas análises (p=0,12 para a diferença), ele exige o cálculo de variáveis hemodinâmicas complexas e uso de software/calculadoras. O Escore Dante, por sua simplicidade aritmética, oferece uma alternativa prática para a beira do leito em serviços de emergência brasileiros com recursos limitados, sem perda clinicamente significativa de acurácia.
A posição do Dante Pazzanese como centro sentinela permite comparações vitais.
| Métrica | Registro Dante Pazzanese (Brasil) | Registro GRACE (Global) | Registro ACCEPT (Brasil Multicêntrico) |
| Perfil Etário | Média ~61-62 anos | Média ~65 anos | Média ~62-64 anos |
| Mortalidade IAMCSST | ~8-12% | ~7% (intra-hosp) | ~8.1% |
| Mortalidade IAMSSST | ~5-6% | ~5% | ~6.8% |
| Escore de Risco | Escore Dante (C-stat 0.87) | Escore GRACE (C-stat 0.84) | – |
| Reperfusão 1ª | >70% (Centro Terciário) | Variável (Global) | ~76.8% (Regionalmente variável) |
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