Endocardite: o que é, sintomas, causas, diagnóstico e tratamento

0
937
endocardite
endocardite

A endocardite infecciosa é uma infecção do revestimento interno do coração, geralmente causada por bactérias que entram na corrente sanguínea. Pode ocorrer após procedimentos médicos ou em pessoas com doenças cardíacas prévias. 

Os sintomas incluem febre, calafrios, cansaço e sopro cardíaco. Já o tratamento envolve antibióticos intravenosos e, em alguns casos, cirurgia.

O que provoca a endocardite?

A endocardite, na forma infecciosa, é provocada pela presença de microrganismos, como bactérias e, em casos mais raros, fungos, que entram na corrente sanguínea e se instalam no revestimento interno do coração, especialmente nas válvulas cardíacas. 

Esses agentes infecciosos podem atingir o organismo por meio de procedimentos dentários, cirurgias, infecções em outras partes do corpo ou uso de drogas injetáveis com materiais contaminados.

Alguns fatores aumentam o risco de desenvolver endocardite infecciosa, como a presença de válvulas cardíacas lesionadas ou artificiais (próteses valvares), histórico de febre reumática e cardiopatias congênitas

Pessoas que fazem uso de drogas injetáveis também estão mais suscetíveis, devido à maior chance de introdução direta de bactérias na circulação. Esses fatores facilitam a adesão dos microrganismos às estruturas cardíacas, desencadeando a infecção.

Endocardite infecciosa X não infecciosa

A endocardite pode ser classificada em infecciosa ou não infecciosa, de acordo com sua causa. A forma infecciosa é provocada por microrganismos, como bactérias ou fungos, que entram na corrente sanguínea e se fixam nas válvulas ou no endocárdio

Já a endocardite não infecciosa, também chamada de endocardite trombótica, ocorre sem a presença de agentes infecciosos, sendo geralmente associada a doenças autoimunes, como o lúpus, ou a estados de hipercoagulabilidade, que favorecem a formação de trombos estéreis no coração.

Sintomas da endocardite bacteriana

A endocardite bacteriana pode se apresentar com sintomas inespecíficos no início, mas alguns sinais e manifestações clínicas são típicos da doença e devem acender um alerta. 

Abaixo estão os principais sintomas e sinais clínicos observados:

  • Febre persistente;
  • Calafrios;
  • Sudorese noturna;
  • Fadiga intensa;
  • Perda de peso;
  • Sopro cardíaco novo ou alterado;
  • Petéquias (pequenas manchas avermelhadas na pele);
  • Hemorragias subungueais (em linha nas unhas).

Os sinais clássicos da endocardite:

  • Lesões de Janeway – manchas avermelhadas indolores nas palmas das mãos e plantas dos pés
  • Nódulos de Osler – lesões dolorosas nos dedos das mãos e dos pés
  • Manchas de Roth – hemorragias na retina com centro esbranquiçado
Ilustração do corpo humano com esquema do coração e imagens médicas associadas a diferentes órgãos e tecidos, representando manifestações sistêmicas de uma doença.
Representação esquemática das manifestações sistêmicas em diferentes órgãos e tecidos, relacionadas a acometimento cardíaco. A figura mostra alterações oculares (a), neurológicas (b), pulmonares (c), abdominais (d), cutâneas nas extremidades (e), além de lesões macroscópicas em válvulas cardíacas (f, g) e outro tecido/órgão associado (h). | Acervo de ilustrações Grupo MedCof.

Como diagnosticar endocardite?

O diagnóstico precoce da endocardite é fundamental para evitar complicações graves, como insuficiência cardíaca, embolias e infecções sistêmicas. Como os sintomas podem ser inespecíficos, a suspeita clínica deve ser rápida, especialmente em pacientes com fatores de risco. 

O diagnóstico é feito com base em critérios clínicos, laboratoriais e de imagem, sendo essencial a combinação dessas abordagens para confirmação da doença.

Exames clínicos e laboratoriais

O diagnóstico da endocardite infecciosa envolve uma avaliação cuidadosa que combina exames clínicos, laboratoriais e de imagem. Clinicamente, o médico investiga os sintomas e sinais característicos, como febre persistente, sopro cardíaco novo e manifestações cutâneas (petéquias, nódulos de Osler, lesões de Janeway).

Do ponto de vista laboratorial, os hemocultivos são fundamentais para identificar o agente causador: devem ser colhidas, idealmente, três amostras de sangue em momentos diferentes, antes do início dos antibióticos. 

Além disso, exames como hemograma (que pode mostrar anemia e leucocitose), proteína C reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação (VHS) ajudam a avaliar a resposta inflamatória. Sorologias e testes específicos também podem ser úteis em casos de agentes de difícil cultivo, como Bartonella ou Coxiella. Esses exames, junto à análise clínica e aos achados de imagem, são essenciais para confirmar o diagnóstico.

Tratamento da endocardite: como é feito?

O tratamento da endocardite depende de diversos fatores, como o tipo de microrganismo identificado, a gravidade do quadro clínico e a presença ou não de prótese valvar. De modo geral, o tratamento é feito com antibióticos intravenosos de amplo espectro, administrados por um período prolongado (geralmente de 4 a 6 semanas), podendo ser ajustados após o resultado dos hemocultivos e testes de sensibilidade.

Nos casos mais graves, como infecção por microrganismos agressivos, falência do tratamento clínico, presença de abscessos, disfunção valvar importante ou presença de próteses infectadas, pode ser necessária intervenção cirúrgica, para retirada do tecido infectado e substituição valvar. O acompanhamento multidisciplinar, com infectologistas e cardiologistas, é essencial para o sucesso terapêutico e prevenção de complicações.

Abordagens medicamentosas

As abordagens medicamentosas na endocardite infecciosa variam conforme o agente causador, mas, em geral, o tratamento é iniciado com antibióticos intravenosos de amplo espectro, antes mesmo da identificação do microrganismo. Após o resultado dos hemocultivos, a terapia é ajustada de forma direcionada.

Entre os antibióticos mais utilizados estão:

  • Penicilinas (como a penicilina G ou ampicilina)
  • Cefalosporinas (como ceftriaxona)
  • Vancomicina (especialmente em casos de resistência ou alergia a beta-lactâmicos)
  • Gentamicina (em associação para potencializar o efeito bactericida, principalmente contra enterococos)

A escolha e a combinação dos medicamentos dependem da sensibilidade do microrganismo, da presença de prótese valvar e do estado clínico do paciente. A administração é feita por via endovenosa, sob monitoramento hospitalar, por um período prolongado.

Cirurgias e casos graves

Em casos graves de endocardite, o tratamento cirúrgico pode ser necessário para evitar complicações fatais. A cirurgia geralmente é indicada quando há falência do tratamento clínico, ou seja, quando os antibióticos não são suficientes para controlar a infecção. Também é recomendada nos seguintes casos:

  • Insuficiência valvar grave com repercussão hemodinâmica
  • Formação de abscessos ou outras complicações intracardíacas
  • Presença de vegetações grandes (geralmente maiores que 10 mm) com risco elevado de embolização
  • Endocardite em prótese valvar, especialmente se houver instabilidade da prótese ou infecção persistente
  • Infecção por microrganismos altamente agressivos ou resistentes, como fungos ou Staphylococcus aureus resistente
  • Episódios embólicos recorrentes, mesmo com tratamento adequado

A cirurgia pode envolver a retirada do tecido infectado, a reconstrução ou substituição da válvula cardíaca e a drenagem de abscessos. A decisão cirúrgica deve ser feita por uma equipe multidisciplinar, considerando os riscos e benefícios para o paciente.

É possível prevenir a endocardite?

É possível prevenir a endocardite infecciosa, especialmente em pessoas que pertencem a grupos de risco. Uma das principais formas de prevenção é a profilaxia antibiótica antes de procedimentos dentários invasivos, como extrações ou limpezas com sangramento, em pacientes com maior risco de desenvolver a doença. Essa medida visa evitar que bactérias da boca entrem na corrente sanguínea e se instalem no coração.

Além disso, outras medidas preventivas incluem:

  • Manter boa higiene bucal e realizar visitas regulares ao dentista;
  • Evitar o compartilhamento de agulhas ou seringas;
  • Tratar infecções cutâneas e outras infecções rapidamente, antes que possam se disseminar.

Os grupos de risco para endocardite infecciosa são:

  • Pessoas com próteses valvares cardíacas;
  • Indivíduos com histórico prévio de endocardite infecciosa;
  • Pacientes com cardiopatias congênitas cianóticas não corrigidas;
    Pessoas com válvulas cardíacas lesionadas, por febre reumática ou outras causas;
  • Usuários de drogas injetáveis;
  • Pacientes submetidos a cirurgias cardíacas recentes, principalmente com implantes intracardíacos.

Chegue mais preparado para a prova de residência com a MedCof

A MedCof vai além da preparação para as provas: oferece uma formação sólida nos pilares teóricos, clínicos e práticos que realmente importam tanto para a residência quanto para a atuação médica no dia a dia. Aqui, você estuda com foco, profundidade e propósito.