
A esporotricose é uma infecção causada pelo fungo Sporothrix, que afeta principalmente a pele, mas pode atingir outros órgãos. Essa doença é conhecida como “doença do jardineiro”, pois a transmissão ocorre frequentemente pelo contato com solo, plantas ou animais infectados, principalmente gatos. Trata-se de uma micose que exige atenção, sobretudo em regiões urbanas.
Formas de transmissão da esporotricose
1. Transmissão Sapronótica (Ambiental)
Nesta forma, a infecção ocorre por meio do contato direto com materiais orgânicos contaminados presentes no ambiente, como solo, madeira, folhas, espinhos e palha.
Indivíduos mais expostos são jardineiros, agricultores e pessoas que manuseiam plantas ou realizam atividades ao ar livre. O fungo penetra na pele geralmente por meio de pequenos ferimentos ou arranhões.
2. Transmissão Zoonótica (por Animais)
A transmissão zoonótica acontece quando o Sporothrix é transmitido de animais para seres humanos, especialmente por meio de arranhões, mordidas ou contato com secreções de animais infectados.
Nos últimos anos, essa se tornou a principal forma de transmissão no Brasil, especialmente envolvendo gatos domésticos. Os gatos desenvolvem lesões cutâneas ricas em fungos, facilitando a transmissão.
Gatos infectados podem apresentar múltiplas lesões, espirrar secreções ou lamber feridas, elevando a contaminação do ambiente e aumentando o risco de infecção em pessoas e outros animais.
Os hábitos naturais dos felinos, como arranhar e morder durante brincadeiras ou em situações de estresse, aumentam as chances de transmissão direta para humanos.
A transmissão de gato para gato e de gato para humanos ocorre de maneira eficiente, tornando a esporotricose um problema de saúde pública relevante em algumas regiões do Brasil.
Sintomas da esporotricose em humanos
Os principais sintomas da esporotricose em humanos são:
- Lesão inicial no local da inoculação: Pequeno nódulo, geralmente indolor, avermelhado ou rosado. Pode ser confundido inicialmente com uma picada de inseto ou furúnculo.
- Úlcera cutânea: O nódulo cresce e pode ulcerar, formando uma ferida aberta, de bordas elevadas. Frequentemente exsuda líquido seroso (transparente ou amarelado).
- Linfangite nodular (forma linfocutânea): Pequenos nódulos surgem ao longo dos vasos linfáticos do membro acometido. Esses nódulos também podem ulcerar.
- Edema e vermelhidão ao redor das lesões.
- Dor local ou sensibilidade aumentada na região afetada.
Desse modo, a evolução das lesões da esporotricose seguem um padrão clássico. Nos primeiros dias após a infecção, surge um nódulo ou pápula discreta no local do trauma, como na mão, braço ou perna.
Após esse início, durante uma a três semanas, o nódulo tende a aumentar de tamanho e se torna ulcerado, formando uma ferida aberta. Nesse mesmo período, podem aparecer lesões secundárias ao longo do trajeto dos vasos linfáticos próximos, formando outros nódulos alinhados, que também podem se transformar em úlceras.
Com a progressão da doença, que pode durar semanas ou até meses, há formação de outros nódulos ou feridas ao longo do membro afetado. As lesões podem se agravar e se tornar crônicas, caso não sejam devidamente tratadas.
Além desse padrão mais comum, existem formas clínicas menos frequentes de esporotricose. Uma delas é a forma cutânea fixa, em que há apenas uma lesão localizada, sem a disseminação para outros locais.
Outra forma, mais grave, é a disseminada, que geralmente acomete pessoas com o sistema imunológico debilitado e se caracteriza pela presença de múltiplas lesões na pele ou pelo acometimento de órgãos internos, como articulações, ossos e pulmões.

Formas clínicas e manifestações da esporotricose
As principais formas clínicas da esporotricose incluem a forma cutâneo linfática, cutânea localizada, disseminada e extracutânea, cada uma com características clínicas distintas, que serão detalhadas a seguir.
Forma cutaneolinfática (70% dos casos)
Esta é a manifestação mais comum da esporotricose, representando cerca de 70% dos casos.
Caracteriza-se pelo surgimento inicial de uma lesão nodular ou ulcerada no local de inoculação, geralmente em extremidades expostas como mãos, braços ou pernas. Com o progresso da infecção, desenvolvem-se nódulos subcutâneos ao longo dos vasos linfáticos regionais, que podem ulcerar e drenar exsudato seropurulento. O trajeto linfático das lesões é um achado típico e a ausência de dor intensa favorece o diagnóstico diferencial.
A progressão das lesões ao longo dos vasos linfáticos pode simular outras patologias, como leishmaniose e tuberculose cutânea, exigindo atenção clínica. A resposta imunológica eficiente costuma limitar a infecção a esse padrão regional.
Forma cutânea localizada (20% dos casos)
A forma cutânea localizada ocorre em cerca de 20% dos casos e se restringe a uma única lesão na pele, sem acometimento linfático ascendente. Esta lesão inicial geralmente é nodular, podendo evoluir para uma úlcera de bordas elevadas e fundo granuloso. É comum em pacientes com resposta imunológica adequada e ocorre frequentemente após pequenas soluções de continuidade causadas por espinhos, farpas ou mordeduras de animais.
A limitação da infecção ao sítio inicial se deve à atuação do sistema imunológico do paciente, impedindo a disseminação para outros tecidos.
Forma disseminada
A esporotricose disseminada caracteriza-se pela presença de múltiplas lesões cutâneas e/ou envolvimento de órgãos internos, além da pele, ocorrendo principalmente em indivíduos imunossuprimidos. As lesões podem ser ulceradas, verrucosas ou vegetantes, acometendo várias partes do corpo de maneira simultânea ou sucessiva.
Além do comprometimento cutâneo, pode haver envolvimento de pulmão, ossos, articulações e até sistema nervoso central. O prognóstico tende a ser reservado, exigindo tratamento antifúngico intensivo e acompanhamento multidisciplinar.
Forma extracutânea
Nesta forma, o fungo atinge órgãos profundos sem necessariamente comprometer a pele. As formas extracutâneas mais comuns são: esporotricose osteoarticular, pulmonar, meníngea ou envolvendo outros órgãos internos. Esse quadro é mais observado em pacientes imunodeprimidos e pode cursar com dor, febre e alterações funcionais específicas do órgão atingido.
O diagnóstico pode ser desafiador e geralmente requer investigação laboratorial e por imagens, além de uma abordagem terapêutica agressiva.
Esporotricose em gatos
Os gatos são considerados os principais transmissores da esporotricose no ambiente urbano devido à sua alta susceptibilidade e capacidade de eliminar grandes quantidades do fungo nas lesões da pele.
Assim, os gatos apresentam sinais clínicos característicos, sendo importante conhecer esses aspectos para facilitar a identificação:
- Lesões cutâneas: A principal manifestação da doença são feridas na pele
- Aspecto inicial: Pequenos nódulos (caroços) endurecidos sob a pele, que evoluem rapidamente para úlceras (feridas) profundas.
- Formato: As feridas geralmente têm bordas avermelhadas, são dolorosas ao toque e frequentemente apresentam secreção purulenta (pus).
- Locais comuns: Cabeça, especialmente focinho e orelhas, membros anteriores (patas da frente) e Cauda e dorso, principalmente em animais que brigam muito.
- O padrão de expansão dessa lesão pode se espalhar pelo corpo ao longo dos vasos linfáticos, formando trilhas de nódulos e feridas conhecidas como “linhas em cordão”.
Para isso, deve-se ficar atento a um certo padrão de comportamento apresentado pelos animais:
- Diminuição do apetite;
- Perda de peso progressiva;
- Apatia ou isolamento;
- Lambedura ou coceira excessiva nas áreas afetadas;
- Em casos graves, o fungo pode atingir as vias aéreas, levando a sintomas respiratórios como espirros e secreção nasal.
Por fim, os principais fatores de risco para a infecção nos gatos envolvem o acesso às ruas, a não castração e contato com outros gatos.

Diagnóstico da esporotricose
O diagnóstico da esporotricose ocorre inicialmente com uma avaliação clínica detalhada, envolvendo a coleta de informações sobre o histórico do paciente, em especial quanto ao contato com animais doentes, principalmente gatos, ou envolvimento em atividades de risco como jardinagem e manejo de solo.
A suspeita clínica surge diante de lesões cutâneas típicas, como nódulos e úlceras, muitas vezes dispostas ao longo do trajeto linfático.A confirmação diagnóstica é feita principalmente por meio de exames laboratoriais. O padrão-ouro é a cultura fúngica de amostras provenientes das lesões, que permite a identificação de colônias do fungo Sporothrix.
Exames microscópicos diretos e histopatológicos podem ser realizados, porém apresentam sensibilidade limitada, sendo úteis principalmente quando utilizados em conjunto com outras metodologias.
Ainda, testes moleculares, como a PCR, têm ganhado espaço pelos resultados rápidos e alta especificidade, embora ainda não estejam amplamente disponíveis em toda a rede de saúde.
Desse modo, o histórico de exposição a fatores de risco, como arranhaduras ou mordidas de gatos e o contato com material orgânico contaminado, é fundamental para o direcionamento do diagnóstico.
Valorizar esse contexto epidemiológico evita atrasos na identificação da esporotricose, possibilitando o início precoce do tratamento e reduzindo as chances de agravamento ou disseminação da infecção.
Tratamento da esporotricose
Para tratar esta condição, recomenda-se o acompanhamento médico durante todo o processo, pois o tempo de tratamento pode variar e ajustes na dose ou substituição da medicação podem ser necessários.
Aliás, o desmame do tratamento só pode ocorrer após resolução completa da lesão por pelo menos 4 semanas, conforme orientação médica.
Veja algumas opções de tratamento a seguir:
- Itraconazol: é a primeira escolha em casos cutâneos e linfocutâneos, por apresentar alta eficácia. É manejado uma dose usual de 100–200mg por dia via oral, com uma duração de 3 a 6 meses, podendo ser estendida dependendo da resposta clínica.
- Soluto saturado de iodeto de potássio: é um tratamento opcional, principalmente em países onde outros antifúngicos são pouco acessíveis. A dose é administrada, inicialmente, com 5 gotas, aumentando gradualmente, até 40–50 gotas, 3 vezes ao dia.
- Terbinafina: é uma alternativa em casos leves ou quando o itraconazol não é tolerado.
- Anfotericina B: reservada para casos graves ou disseminados, como acometimento pulmonar, ósseo ou meningite, e para pacientes imunodeprimidos. É uma medicação intravenosa, na qual a duração e dose dependem da gravidade e resposta do paciente.
- Outros antifúngicos: posaconazol, voriconazol e fluconazol são utilizados raramente, geralmente em casos refratários ou quando as opções anteriores não podem ser utilizadas, pois possuem eficácia inferior.
Prevenção da esporotricose
As principais formas de prevenção da esporotricose são:
- Usar luvas e proteção ao manipular animais doentes;
- Castrar gatos para controlar a população felina: a castração reduz o número de animais errantes e a propagação da doença entre gatos e seres humanos;
- Evitar contato com gatos de rua ou doentes: não acariciar gatos de rua, principalmente ao notar feridas ou sintomas suspeitos;
- Isolar gatos infectados até o fim do tratamento: separe gatos com suspeita ou diagnóstico de esporotricose dos outros animais;
- Levar animais doentes ao veterinário e seguir o tratamento completo;
- Manter o ambiente limpo e higienizar caixas de areia e utensílios dos gatos.
- Informar a comunidade sobre a doença e formas de prevenção.
- Não abandonar gatos infectados.
- Usar luvas ao mexer em terra, plantas ou material orgânico.
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