
A cirurgia bariátrica é uma ferramenta poderosa no combate à obesidade, mas dominar suas nuances exige um conhecimento aprofundado de suas possíveis complicações.
Nós já falamos das novidades acerca do procedimento aqui! Mas precisamos lembrar o que pode acontecer no pós-operatório para uma visão geral da bariátrica. Cada tipo de cirurgia, que é separada por segmentos, têm diferentes apresentações que merecem muita atenção!
Complicações Pós-Bypass Gástrico em Y-de-Roux (BGYR)
O BGYR, ou bypass, é uma das técnicas mais realizadas e, portanto, suas complicações merecem atenção especial.
Fístulas
Caracterizam-se pela abertura da linha de grampos/sutura com extravasamento de conteúdo do trato gastrointestinal (TGI) para outro local, como a cavidade abdominal. São mais comuns após o 5º dia de pós-operatório (PO), principalmente quando falamos da gastrojejunostomia (67,8%), da bolsa gástrica (10,2%), do estômago excluso (3,4%) e da anastomose jejunojejunal (5%).

O sinal mais precoce é a taquicardia, e a suspeita clínica aumenta com a presença de derrame pleural e distensão abdominal. O diagnóstico pode ser feito por tomografia de abdome e pelve com contraste ou com Azul de Metileno por via oral. O tratamento para pacientes estáveis inclui jejum, nutrição parenteral total (NPT), antibioticoterapia e drenagem. Em casos de piora hemodinâmica, a cirurgia por laparoscopia é a preferível.

Sangramento do TGI
Pode ocorrer em diversos locais, como o estômago excluso, a bolsa gástrica, a gastrojejunoanastomose e a jejunojejunoanastomose.

O sangramento pode ser intraluminal, manifestando-se como hematêmese ou melena, ou intraperitoneal, com sangue no dreno e instabilidade hemodinâmica. O sangramento normalmente é autolimitado, principalmente os tardios. No entanto, se o sangramento for intraperitoneal e houver piora hemodinâmica, a cirurgia é indicada para retirada de coágulos, lavagem e hemostasia. Se o sangramento for intraluminal com piora hemodinâmica, hematêmese ou sangramento abundante, a endoscopia é o tratamento de escolha, com coagulação térmica, injeção de vasoconstritores ou clipagem.
Obstrução do TGI
A protrusão do intestino através de um defeito dentro da cavidade abdominal é conhecida como hérnia interna, uma complicação tardia. A suspeita é sempre clínica, e mesmo com uma tomografia computadorizada (TC) normal, pode ser necessária uma laparoscopia para verificar as brechas. Os sintomas são intermitentes e podem incluir náuseas, vômitos e dor abdominal pós-prandial, geralmente no quadrante superior esquerdo. As hérnias internas mais comuns são:
- Hérnia pela alça alimentar e a brecha no mesocólon transverso.
- Hérnia de Petersen, entre o mesocólon transverso e o mesentério da alça alimentar.
- Hérnia entre o mesentério da alça biliopancreática e o da alça alimentar.
Achados tomográficos podem incluir twist no mesentério, distensão do intestino delgado e do estômago excluso.
Reconstrução Incorreta da Alça em Roux (Roux-em-O)
Esta complicação ocorre quando há uma anastomose inadvertida da alça biliopancreática proximal do jejuno para a bolsa gástrica. O diagnóstico no pós-operatório é difícil.
Complicações Pós-Gastrectomia Vertical (Sleeve)
A Gastrectomia Vertical, ou Sleeve, também apresenta seu próprio conjunto de complicações.

Fístulas
Semelhante ao bypass, as fístulas após o Sleeve são uma preocupação. A localização mais comum é no Ângulo de Hiss. O tratamento pode incluir prótese endoscópica, vácuo endoscópico ou, se distal (antro), um Bypass ou Mini Gastric Bypass.
Estenose da Incisura Angular
Conhecida como “estômago em ampulheta“, o tratamento pode ser feito por dilatação endoscópica, prótese autoexpansível metálica recoberta ou Bypass gástrico.
Sangramento da Linha de Grampo
Ocorre com o mesmo princípio de tratamento do sangramento pós-bypass. Muitos cirurgiões defendem a sob ressutura da linha de grampeamento para prevenção.
Trombose da Veia Porta
É mais correlacionada com a gastrectomia vertical. Uma possível causa é a alteração do fluxo portal devido à gastrectomia e à desidratação no pós-operatório.
Complicações Comuns a Ambas as Cirurgias
Algumas complicações podem ocorrer tanto no BGYR quanto no Sleeve, embora com incidências variáveis.
Carência de Vitaminas e Ferro
É uma complicação disabsortiva, mais comum no BGYR. É necessária a reposição de vitamina B12, vitaminas A e D, carbonato de cálcio, sulfato ferroso e ácido fólico.
Litíase Renal
Mais comum no BGYR, está relacionada à alteração da absorção do oxalato de cálcio devido ao desvio do trânsito.
Colelitíase
Relacionada ao rápido emagrecimento.
Dumping
Mais comum no BGYR, é a passagem rápida do alimento do estômago para o intestino delgado. Pode ser:
- Dumping precoce: Ocorre até 30 minutos após a alimentação. Manifesta-se com sintomas gastrointestinais e vasomotores.
- Dumping tardio: Ocorre após 3 horas da alimentação e está relacionado à alta liberação de insulina, resultando em hipoglicemia. Predominam as manifestações vasomotoras. O tratamento inclui dieta fracionada, diminuição de carboidratos e, em alguns casos, medicamentos como Acarbose ou Octreotide.
Rabdomiólise (IRA)
Relacionada ao tempo cirúrgico e ao peso do paciente.
TEP (Tromboembolismo Pulmonar)
O risco é aumentado por até 90 dias após o pós-operatório.
Seja um MedCofer
Quer garantir a sua aprovação nas provas de residência médica? Então, conheça o Grupo MedCof! Aqui temos conteúdos de qualidade e especialistas que te ajudarão a alcançar a aprovação.