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segunda-feira, 23 junho
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A busca pela preservação das vias aéreas em traumas

Imagem: Canva.

O que acontece no Trauma?

A hipóxia tecidual, decorrente da falta de oxigenação, é a causa mais rápida de morte em doentes traumatizados. Portanto, a prioridade absoluta na abordagem do paciente politraumatizado, conforme preconizado pelos princípios do ABCDE, inicia-se com a garantia de uma via aérea pérvia e a oferta de ventilação eficaz.

Protocolo de atendimento ao paciente politraumatizado. Fonte: Hospital Albert Einstein. https://medicalsuite.einstein.br/pratica-medica/Pathways/protocolo-trauma.pdf 

Qual a abordagem inicial da Via Aérea?

O primeiro passo crucial é avaliar a via aérea e ofertar oxigênio. Se o paciente consegue conversar e respirar espontaneamente, a via aérea é considerada pérvia, permitindo a progressão na avaliação do ABCDE. Contudo, se o paciente não conversa ou não respira, medidas imediatas são imperativas para desobstruir a via aérea. Manobras como Chin-Lift (elevação do mento) e Jaw-Thrust (tração da mandíbula) são fundamentais para retirar a base da língua da valécula, que é uma causa comum de obstrução. A aspiração de secreções também é vital. É imperativo, durante todas as manobras, manter a imobilização cervical para evitar o agravamento de possíveis lesões na coluna.

A ilustração demonstra a técnica de Chin-Lift usada para reposicionar a via aérea de maneira eficaz em situações de socorro. No painel a, vemos um exemplo de posição incorreta, onde a cabeça da pessoa está inclinada para trás, causando hiperextensão do pescoço e potencial obstrução das vias aéreas. Já no painel b, é mostrada a posição correta, onde apoio sob o pescoço e ombros alinha a cabeça, posicionando o queixo levemente para baixo e garantindo a abertura ideal das vias respiratórias. Essa manobra é fundamental em emergências para assegurar uma boa ventilação. Imagem prática e ideal para profissionais de saúde, estudantes de medicina e socorristas
Manobra Chin-Lift. | Fonte: Acervo de ilustrações do Grupo MedCof.
A imagem compara a posição incorreta e a aplicação adequada da manobra Jaw-Thrust para abertura das vias aéreas. No painel a, a mandíbula está retraída e o queixo caído, o que causa colapso ou obstrução parcial das vias respiratórias. Já no painel b, observamos a posição correta, em que a mandíbula foi projetada para frente com auxílio manual, promovendo a desobstrução completa das vias aéreas e garantindo fluxo respiratório adequado. Este posicionamento é crucial em emergências médicas, como em pacientes inconscientes ou em situações de reanimação. Imagem educativa voltada para socorristas, paramédicos e estudantes de áreas médicas.
Manobra Jaw-Thrust.| Fonte: Acervo de Ilustrações do Grupo MedCof.

Em situações em que a desobstrução manual não é suficiente, ou para auxiliar a ventilação, dispositivos supraglóticos como a cânula de Guedel ou a máscara laríngea podem ser utilizados como medidas temporárias.

Quando fazer uma Via Aérea Definitiva?

A via aérea definitiva, caracterizada por um tubo na traqueia com cuff insuflado abaixo das cordas vocais, conectado a um sistema de ventilação e fixado, é indicada em diversas situações de trauma. As principais indicações, conforme destacado em, incluem:

  • Apneia e insuficiência respiratória.
  • Rebaixamento ou agitação do nível de consciência (Glasgow < 8).
  • Trauma maxilofacial grave.
  • Queimadura de face ou via aérea, especialmente com sinais como estridor, rouquidão, escarro carbonáceo, edema de língua ou queimadura de vibrissas e sobrancelhas.
  • Sangramento incoercível de via aérea e/ou trato digestivo.
  • Lesões inalatórias.
  • Outras situações que exijam proteção da via aérea.

A intubação orotraqueal (IOT) é a via de escolha no trauma, sendo sempre prioritário testar todo o material e preparar o ventilador e o material de aspiração previamente.

Como fazer a Intubação Orotraqueal? 

A IOT em pacientes traumatizados frequentemente requer a administração de fármacos para facilitar o procedimento. A sequência rápida de intubação envolve pré-oxigenação (máscara de oxigênio a 15L/min por 3 minutos, idealmente com FiO2 de 100%), seguida de pré-medicação (se indicada, como fentanil) e indução. Para a indução, cetamina e etomidato são as drogas de escolha no trauma devido ao menor impacto hemodinâmico, ao contrário de midazolam e propofol que podem causar hipotensão. O bloqueio neuromuscular é essencial, com a succinilcolina sendo a primeira escolha, a menos que haja contraindicações como suspeita de rabdomiólise ou hipercalemia, caso em que o rocurônio é a alternativa. 

A capnografia é o padrão-ouro para confirmar a posição do tubo.

A imagem exibe gráficos explicativos de capnografia, utilizados para monitorar os níveis de dióxido de carbono (CO₂) exalado, demonstrando a relação direta com a posição do tubo endotraqueal. No painel a, vemos a curva clássica de ondas regulares indicativa de uma posição correta, onde o tubo está na traqueia, garantindo ventilação adequada. O painel b mostra uma linha plana, sinalizando que o tubo foi colocado no esôfago, comprometendo a medição de CO₂. Por fim, no painel c, há um gráfico irregular associado à obstrução parcial do tubo ou inserção em um brônquio, impactando a ventilação. Imagem essencial para profissionais de saúde, anestesiologistas e estudantes, ressaltando a importância da capnografia para a segurança do manejo das vias aéreas.
Representação de Capnografia indicando posição do Tubo. Fonte: Acervo de Ilustrações do Grupo MedCof.

O desafio da Via Aérea Difícil

A via aérea é considerada difícil quando há incapacidade de ventilar o paciente ou de garantir a via aérea definitiva por IOT por um profissional experiente. No trauma, a mobilidade do pescoço frequentemente está prejudicada, tornando a via aérea potencialmente difícil. Preditores como o mnemônico LEMON (Look Externally, Evaluate 3-3-2 rule, Obstrução, Neck Mobilization) e a classificação de Mallampati são ferramentas úteis.

A imagem demonstra a Classificação de Mallampati, utilizada para avaliar a dificuldade de intubação ao observar as estruturas da orofaringe. Apresentam-se as seguintes categorias: Classe I, com total visibilidade de úvula, palatos mole/duro e pilares; Classe II, com visualização parcial da úvula e redução no espaço dos pilares; Classe III, onde apenas a base da úvula e o palato mole são visíveis; e Classe IV, com obstrução total, exibindo somente o palato duro. Este sistema é essencial para anestesistas, otorrinolaringologistas e profissionais de saúde. Imagem clara e informativa para treinamento e referência em manejo de vias aéreas.
Classificação de Mallampati para avaliar facilidade de Intubação Orotraqueal. A dificuldade do procedimento cresce conforme a classe. | Fonte: Acervo de Ilustrações do Grupo MedCof.

No manejo da via aérea difícil, após a falha de três tentativas de IOT por um profissional experiente, a indicação é a via aérea cirúrgica. O mnemônico DOPE (Deslocamento/Desconexão, Obstrução, Pneumotórax, Equipamento) auxilia na identificação de falhas após a intubação.

Via Aérea Cirúrgica: Último Recurso 

Quando a IOT não é possível, a via aérea cirúrgica torna-se o recurso vital. As indicações incluem edema de glote, trauma maxilofacial grave, sangramento e a incapacidade de intubação após múltiplas tentativas. As opções são:

  1. Cricotireoidostomia por punção:

 Uma medida temporária (30-40 minutos) utilizando um jelco calibroso, não sendo uma via aérea definitiva. Não deve ser prolongada devido ao risco de hipercapnia

  1. Cricotireoidostomia cirúrgica:

 A melhor escolha na urgência é quando a IOT falha. É rápida, fácil e efetiva, podendo permanecer por até 72 horas. No entanto, é contraindicada em crianças menores de 12 anos devido ao risco de colabar a via aérea. Qualquer médico pode realizar.

  1. Traqueostomia:

Reservada para casos mais complexos ou traumas específicos de via aérea/laringe, pois demanda mais tempo e um ambiente mais controlado, sendo geralmente realizada por um cirurgião.

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