
A colangite é uma inflamação dos ductos biliares. Essa inflamação pode surgir por infecções, doenças autoimunes ou obstruções, como cálculos biliares. Os ductos biliares fazem parte do sistema biliar, que inclui fígado, vesícula e vias biliares intra e extra-hepáticas, sendo a área onde a colangite costuma se instalar.
Principais tipos de colangite
Existem diferentes formas de colangite, cada uma com características específicas de causa, gravidade e progressão. Os três principais tipos são:
- Colangite aguda (ascendente);
- Colangite biliar primária;
- Colangite esclerosante primária.
Colangite aguda (ascendente)
A colangite aguda é uma infecção bacteriana das vias biliares, geralmente causada por obstrução dos ductos biliares, como por cálculos, que aumenta a pressão no sistema biliar e permite a colonização bacteriana ascendente a partir do intestino. Essa condição é uma emergência médica e requer tratamento imediato.
A apresentação clássica é descrita pela Tríade de Charcot: febre, dor abdominal no quadrante superior direito e icterícia. Em casos mais graves, pode haver também hipotensão e confusão mental, compondo a Pentade de Reynolds, indicativa de possível choque séptico.
Colangite biliar primária
A colangite biliar primária (CBP) é uma doença autoimune crônica que afeta pequenos ductos biliares intra-hepáticos. É mais frequente em mulheres entre 35 a 70 anos e pode estar associada a outras condições autoimunes, como síndrome de Sjögren e artrite reumatoide.
Ela evolui de forma lenta e progressiva, levando à fibrose, cirrose e insuficiência hepática. O nome antigo da doença era “cirrose biliar primária”. O diagnóstico costuma ser feito por exames de sangue que detectam anticorpos anti mitocôndria, além de exames de imagem e biópsia hepática.
Colangite esclerosante primária
A colangite esclerosante primária (CEP) é uma inflamação crônica dos ductos biliares que resulta em fibrose, estreitamento e obstrução progressiva das vias biliares. Sua causa exata é desconhecida, mas existe forte associação com doenças inflamatórias intestinais, especialmente a retocolite ulcerativa.
Com o tempo, pode evoluir para cirrose, insuficiência hepática e aumento do risco de colangiocarcinoma. O tratamento inclui controle das complicações e, em estágios avançados, transplante hepático.
Causas e fatores de risco da colangite aguda
A colangite aguda é frequentemente desencadeada por obstrução das vias biliares, o que favorece a proliferação de bactérias. As principais causas incluem:
- Cálculos biliares (colelitíase);
- Estenoses pós-cirúrgicas;
- Tumores das vias biliares ou pâncreas;
- Parasitoses;
- Manipulações endoscópicas ou cirúrgicas recentes.
Outros fatores de risco envolvem idade avançada, imunossupressão e doenças biliares crônicas.
Principais agentes infecciosos na colangite aguda
A infecção costuma ser polimicrobiana, com origem no trato gastrointestinal. Os principais agentes incluem:
- Escherichia coli
- Klebsiella spp.
- Enterococcus spp.
- Enterobacter spp.
Microrganismos anaeróbios também podem estar presentes, especialmente em casos mais graves ou prolongados.
Sinais e sintomas da colangite aguda: quando suspeitar
O quadro clínico varia conforme a gravidade. Os principais sintomas são:
- Tríade de Charcot: febre, dor no quadrante superior direito e icterícia.
- Pentade de Reynolds (em casos severos): tríade clássica + hipotensão + alteração do nível de consciência.
Outros sintomas possíveis incluem náuseas, vômitos, calafrios, letargia e confusão.
Sinais de alerta
Os sinais de gravidade que exigem atendimento imediato incluem:
- Febre alta persistente;
- Alteração do estado mental;
- Hipotensão arterial;
- Dor abdominal intensa.
Idosos e pacientes imunocomprometidos podem ter apresentações atípicas, com ausência de febre ou dor. Nestes casos, é essencial estar atento a sinais de choque séptico, que indicam risco elevado de mortalidade.
Diagnóstico da colangite aguda
O diagnóstico é feito com base em dados clínicos, laboratoriais e de imagem. Os critérios de Tóquio auxiliam na definição e classificação da gravidade.
Exames laboratoriais
- Hemograma completo (leucocitose);
- Enzimas hepáticas (elevação de fosfatase alcalina, GGT);
- Bilirrubinas (hiperbilirrubinemia);
- PCR e VHS (marcadores inflamatórios);
- Hemoculturas (devem ser colhidas antes do antibiótico);
- Coagulograma (INR/TP para avaliar risco e gravidade).
Exames de imagem
- Ultrassonografia: primeira linha, identifica dilatação das vias biliares.
- Tomografia computadorizada (TC): avalia complicações e causas obstrutivas.
- Colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM): visualiza com detalhes a árvore biliar.
- Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE): além de diagnóstico, permite intervenção terapêutica.
- Ultrassonografia endoscópica: útil em casos de difícil visualização.
Classificação de gravidade da colangite
Os critérios de Tóquio classificam a colangite em:
- Leve: sem disfunção orgânica.
- Moderada: com fatores de risco clínicos/laboratoriais.
- Grave: com disfunção de um ou mais órgãos.
Essa classificação direciona a conduta médica e tem impacto direto no prognóstico.
Tratamento da colangite aguda
O tratamento deve ser rápido e agressivo, com três pilares fundamentais:
- Antibioticoterapia;
- Suporte clínico;
- Descompressão biliar.
Internação hospitalar é geralmente necessária.
Antibioticoterapia
A escolha inicial é empírica, com cobertura para:
- Gram-negativos;
- Enterococos;
- Anaeróbios.
O esquema pode incluir piperacilina/tazobactam, ceftriaxona com metronidazol ou carbapenêmicos. Após o resultado das hemoculturas, os antibióticos devem ser ajustados. A duração média do tratamento é de 7 a 10 dias, podendo variar.
Descompressão biliar
Pode ser realizada por:
- CPRE (preferencial);
- Drenagem percutânea trans-hepática;
- Drenagem cirúrgica (em casos selecionados).
O tempo da descompressão deve ser avaliado conforme a gravidade: urgente nos casos graves, eletivo nos moderados.
Tratamento de suporte
Inclui:
- Hidratação venosa;
- Correção de distúrbios hidroeletrolíticos;
- Controle da dor;
- Tratamento do choque séptico;
- Monitorização intensiva, se necessário.
Complicações da colangite
As complicações mais frequentes são:
- Sepse e choque séptico;
- Abscesso hepático;
- Insuficiência renal aguda;
- Insuficiência hepática;
- Morte.
O risco aumenta conforme a idade, comorbidades e tempo de início do tratamento.
Prevenção e seguimento após colangite
As estratégias preventivas visam tratar a causa base, como:
- Remoção de cálculos;
- Tratamento de estenoses ou tumores.
O acompanhamento inclui:
- Exames laboratoriais e de imagem regulares;
- Avaliação da função hepática;
- Colecistectomia, se indicada, para prevenir novos episódios.
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