
A abordagem familiar na medicina é uma ferramenta crucial para entender a saúde de um paciente em seu contexto mais amplo. A família, definida como um pequeno grupo humano com laços emocionais, estrutura e história compartilhada, é um sistema dinâmico que se interconecta com outros sistemas sociais.
Quais os tipos de Família?
A medicina familiar reconhece diversos tipos de configurações familiares, como:
- Família nuclear: Formada por pais e filhos consanguíneos.
- Família extensiva: Inclui mais de uma geração, como tios, primos e padrinhos.
- Família monoparental: Composta por um dos pais biológicos e seus filhos.
- Família reconstituída: Surge após a ruptura de uma configuração familiar anterior, como no caso de um casal onde ambos são separados.
- Família unitária: Consiste em uma única pessoa, como uma viúva sem filhos.
- Família homoafetiva: Constituída pela união de pessoas do mesmo sexo, podendo incluir filhos adotivos.
- Família funcional: Formada por pessoas que moram juntas e desempenham papéis parentais em relação a uma criança ou adolescente, sem necessariamente ter laços de sangue.
- Família institucional: Tem a função de criar e desenvolver afetivamente crianças, adolescentes ou grupos, como em um convento ou abrigo.
Quais ferramentas podemos usar?
Existem várias ferramentas para avaliar a estrutura e o funcionamento das famílias, ajudando a identificar desafios e a planejar intervenções. Elas incluem:
Desenvolvimento Familiar: O Ciclo de Vida
O ciclo de vida familiar é o processo evolutivo pelo qual a família passa, com crises e problemas previsíveis e imprevisíveis. Avaliar essa etapa ajuda a entender como a fase atual da família impacta a saúde dos membros e permite que o médico de família e comunidade ajude a família a superar os desafios.
Para a classe média americana, os estágios do ciclo de vida familiar são:
- Saindo de casa: O jovem adulto estabelece responsabilidade emocional e financeira, diferencia-se da família e cria novas relações.
- Novo casal: Foco no comprometimento com o novo sistema e no realinhamento das relações, incluindo o cônjuge.
- Família com filhos pequenos: A família aceita novos membros, e o casal se ajusta para incluir as crianças e as tarefas domésticas.
- Famílias com adolescentes: Aumenta a flexibilidade das fronteiras familiares para a independência dos filhos e a atenção aos avós mais frágeis. O casal busca um novo foco em sua relação e carreira.
- Encaminhando os filhos e seguindo em frente (ninho vazio): A família aceita as saídas e entradas de membros. O casal renegocia seu relacionamento como uma díade e os pais lidam com a incapacidade ou morte de seus próprios pais.
- Famílias no estágio tardio de vida: A família se adapta aos papéis em mudança. Os idosos buscam manter seus próprios interesses e o declínio biológico, enquanto a geração do meio assume um papel mais central.
Já na classe popular, os estágios tendem a ser mais aglutinados, e o “ninho vazio” é raro, pois muitas vezes três a quatro gerações coexistem no mesmo lar.
E como fazer a análise da anatomia da família?
Para isso, temos 2 ferramentas essenciais: Genograma e Ecomapa. Essas são ferramentas visuais que fornecem um panorama completo das relações familiares.
Genograma


Através de símbolos padronizados, o genograma mapeia a estrutura, as funções e as relações familiares ao longo do tempo, devendo ser, no mínimo, trigeracional. É uma das ferramentas mais úteis para avaliar as conexões entre família e doença, identificando fatores estressores, padrões transgeracionais de doenças e condutas problemáticas. Para essa ferramenta, temos alguns símbolos com significados específicos e que merecem atenção:



EcomaExistem sim, que podem ser usadas em casos mais específicos, como as seguintes:
pa
O ecomapa complementa o genograma, representando a rede social e de apoio da família. Ele ilustra as relações do indivíduo ou da família com o seu ambiente, incluindo a comunidade, a escola, o trabalho e os serviços de saúde. O mapa utiliza símbolos para indicar a qualidade da ligação:

- Força da ligação: pode ser fraca, incerta ou forte.
- Impacto da ligação: pode fornecer apoio/energia ou requerer esforço/energia.
- Qualidade da ligação: representada por uma linha serrilhada quando a relação é estressante.


Existem outras ferramentas?
Existem sim, que podem ser usadas em casos mais específicos, como as seguintes:
PRACTICE
Um mnemônico usado em reuniões familiares para avaliar o funcionamento das famílias e facilitar a coleta de informações em problemas complexos. As letras representam:
- Problema apresentado;
- R/Papéis e estrutura;
- Afeto;
- Comunicação;
- Tase do ciclo familiar;
- I/Doenças na família, ontem e hoje;
- C/Enfrentamento do estresse; e
- E/Meio ambiente e rede de apoio.
APGAR Familiar
Questionário que mede o grau de satisfação de cada membro da família. A interpretação dos resultados é classificada em: altamente funcional (7-10), moderadamente funcional (4-6) e gravemente disfuncional (0-3).
OBS.: Não é a mesma escala APGAR utilizada na pediatria.
FIRO (Fundamental Interpersonal Relations Orientations)
Avalia os sentimentos dos membros da família em seu cotidiano, especialmente quando há mudanças importantes. O uso do FIRO se dá quando as interações familiares podem ser categorizadas em três dimensões: inclusão, controle e intimidade.
Escala de Risco Familiar de Coelho-Savassi
Um instrumento que estratifica o risco social e de saúde das famílias com base em dados da ficha A do SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica). A pontuação determina o risco em uma escala de sem risco (0-4), risco menor (5-6), risco médio (7-8) e risco máximo (9 ou mais).
A abordagem familiar não é a mesma que a terapia familiar, mas ambas reconhecem a importância das relações e dos sistemas familiares para a saúde. Como as ferramentas mencionadas mostram, a Medicina de Família e Comunidade possui um amplo conjunto de recursos para avaliar e intervir no contexto familiar.
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