Entenda os principais Distúrbios Psiquiátricos na Gestação e Pós-Parto

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A gestação é um período de intensas transformações físicas e emocionais. Distúrbios psiquiátricos que ocorrem nesse período e no pós-parto não são homogêneos e podem ter impactos negativos na relação mãe-feto e no desenvolvimento infantil.

Transtorno Depressivo na Gravidez (Depressão Maior)

A etiopatogenia dessa condição ainda não é clara. Contudo, uma desregulação de neurotransmissores combinada com fatores desencadeantes e eventos estressantes é admitida como causa dos sintomas emocionais, cognitivos e álgicos. Fatores de risco incluem histórico pessoal ou familiar de depressão, histórico de mau passado obstétrico, gravidez não planejada, fatores socioeconômicos e uso de álcool e drogas.

O rastreio deve ser feito durante as consultas de pré-natal com perguntas simples como “Você se sente triste, desanimada e deprimida?” e “Você sente que está sem vontade, sem interesse ou prazer para fazer suas coisas?”. O diagnóstico é confirmado se houver, por no mínimo duas semanas, cinco critérios do DSM-V, que obrigatoriamente devem incluir humor deprimido e/ou perda de interesse ou prazer.

Tabela de critérios diagnósticos para DSM-V. Fonte: JURUENA, Mário F. et al. Estudos latino-americanos sobre melancolia: um transtorno do humor melhor definido para o CID-11. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 33, supl. 1, p. S37–S47, mai. 2011.

Cerca de 20% das gestantes com sintomas depressivos recebem tratamento, que se divide conforme a gravidade do caso : 

  • Casos leves: Pode ser considerada psicoterapia.
  • Casos moderados a graves: É indicado tratamento farmacológico. A primeira opção são os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como a sertralina (categoria B). Fluoxetina também é uma opção, enquanto a paroxetina é categoria D no primeiro trimestre pelo risco de malformações cardíacas. Uma complicação associada ao uso de antidepressivos é a Síndrome da Má Adaptação Neonatal.

Distúrbios de Ansiedade

O transtorno de ansiedade pode se manifestar de diversas formas, incluindo transtorno de ansiedade generalizada, fobias específicas, fobia social e transtorno do pânico. O diagnóstico requer a presença de pelo menos seis sintomas, como tremores, dificuldade de concentração, insônia e preocupação excessiva.

Preocupação excessiva na gravidez. Fonte: https://pin.it/7yiVZtgew 

O acompanhamento nesse caso inclui avaliação psiquiátrica, psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental, e tratamento farmacológico. Benzodiazepínicos podem ser usados, mas há risco de teratogênese no início da gestação e de depressão respiratória no recém-nascido no final.

Transtorno Afetivo Bipolar

O transtorno se caracteriza pela alternância entre episódios depressivos e maníacos, com evolução crônica e associado a maior chance de sintomas psicóticos. Por isso, o tratamento envolve estabilizadores de humor:

  • Carbonato de lítio (categoria D): É necessário monitorar a litemia e solicitar ecocardiografia fetal para rastrear anomalias cardíacas. O uso de lítio é incompatível com a amamentação.
  • Outros medicamentos: Ácido valpróico (categoria D) e carbamazepina (categoria D), que pode causar deficiência de vitamina K, com reposição indicada no último mês de gestação. Para pacientes em uso de anticonvulsivantes, a prevenção de malformações do tubo neural com ácido fólico (2-5 mg/dia) é indicada. Se o diagnóstico for pré-gestacional, pode-se considerar a suspensão no 1º trimestre com retorno no 2º trimestre, se viável.

Distúrbios Psiquiátricos no Pós-Parto

O Blues Puerperal é o distúrbio psiquiátrico mais comum no puerpério, afetando 40-80% das mulheres. Os sintomas depressivos leves, como choro fácil, tristeza e alterações de humor, iniciam-se entre o 3º e 5º dia pós-parto e melhoram em 10-14 dias. O tratamento é conservador, com suporte psicossocial e familiar. Na ausência de melhora após 2 semanas, deve-se considerar depressão pós-parto.

Quando esse limite de tempo é atingido (a partir da terceira ou quarta semana do puerpério) podemos caracterizar um episódio depressivo maior. A duração e gravidade são variáveis, e os sintomas são frequentemente confundidos com o cansaço e receio típicos do período.

O principal fator de risco é um histórico pessoal de depressão. Outros fatores incluem baixa escolaridade, histórico de doença psiquiátrica, blues puerperal e gravidez não planejada. A redução súbita dos níveis de estrogênio no parto pode favorecer o surgimento da doença em mulheres suscetíveis.

 Para o diagnóstico se utiliza a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo. Os sintomas clássicos incluem humor deprimido, choro fácil, perda de interesse e energia, sentimentos de culpa e alterações no sono e apetite, presentes na maior parte do dia por no mínimo duas semanas.

Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo. Fonte: https://doi.org/10.1590/S1516-44462010000300018 

Para sintomas leves, a psicoterapia é a principal abordagem. Se o quadro piorar, considera-se o tratamento farmacológico com ISRS ou antidepressivos tricíclicos. Todas as drogas antidepressivas são excretadas no leite materno, e o uso de benzodiazepínicos deve ser evitado durante a lactação.

É importante destacar que a psicose puerperal é a forma mais grave de distúrbio psiquiátrico pós-parto, ocorrendo em 0,1-0,2% das parturientes. O início é precoce, geralmente 48-72 horas após o parto, e manifesta-se com sintomas iniciais como inquietação e irritabilidade, que evoluem para um quadro psicótico com delírios, alucinações e comportamento desorganizado. É uma urgência médica que requer internação hospitalar. O tratamento é feito com antipsicóticos ou eletroconvulsoterapia. A mãe e o bebê devem ser separados devido ao risco de infanticídio, e a amamentação é contraindicada. É importante investigar possíveis quadros orgânicos desencadeadores, como colagenoses, tireoidopatias e trombose cerebral.

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