Febre Maculosa: saiba a transmissão, sintomas, tratamento e prevenção

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Imagem: Canva.
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A febre maculosa é uma doença infecciosa grave causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato-estrela. 

Seus sintomas incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dores no corpo, manchas vermelhas na pele e, em casos graves, pode levar à morte. O tratamento é feito com antibióticos, como a doxiciclina, e deve ser iniciado o mais rápido possível após os primeiros sinais.

Como ocorre a transmissão da Febre Maculosa?

A transmissão da febre maculosa ocorre principalmente por meio da picada de carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, especialmente o carrapato-estrela (Amblyomma sculptum). Esses carrapatos se infectam ao se alimentar do sangue de animais hospedeiros contaminados, como capivaras e cavalos, e podem transmitir a bactéria aos humanos durante a alimentação. 

Podemos listar as principais causas:

  • Picada de carrapatos infectados, especialmente em áreas rurais ou próximas a rios e matas;
  • Contato com animais que abrigam carrapatos, como capivaras, bois, cavalos e cães;
  • Permanência em ambientes com vegetação alta, onde os carrapatos costumam ficar à espera de hospedeiros;
  • Falta de proteção adequada ao circular por áreas de risco (roupas apropriadas, repelentes).

Sintomas da Febre Maculosa

Os sintomas da febre maculosa geralmente começam entre 2 e 14 dias após a picada do carrapato infectado. Os principais sinais da doença incluem:

  • Febre alta súbita: geralmente acima de 39 °C, persistente e de início repentino.
  • Dor de cabeça intensa: costuma ser contínua e difícil de aliviar.
  • Dores no corpo e musculares: especialmente nas pernas e nas costas, com sensação de cansaço extremo.
  • Manchas vermelhas na pele (exantema): surgem geralmente entre o 2º e o 5º dia de sintomas, começando pelos punhos e tornozelos e podendo se espalhar para o corpo.
  • Sintomas gastrointestinais: como náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia, que podem confundir o diagnóstico.

Esses sintomas podem evoluir rapidamente, por isso é essencial buscar atendimento médico imediatamente ao suspeitar da doença.

Como é feito o diagnóstico da Febre Maculosa?

O diagnóstico da febre maculosa é feito com base na suspeita clínica precoce, especialmente quando o paciente apresenta sintomas compatíveis e histórico recente de contato com áreas de risco ou carrapatos. 

A confirmação laboratorial pode ser feita por exames de sangue específicos, como sorologia ou PCR, mas o tratamento deve ser iniciado antes mesmo do resultado, com base na suspeita médica.

Exames laboratoriais e confirmação diagnóstica

  • Sorologia (IgM e IgG por imunofluorescência indireta – IFI): Detecta anticorpos contra a Rickettsia rickettsii. Idealmente coletada a partir do 7º dia de sintomas, com uma segunda amostra (pareada) após 2 a 3 semanas para confirmação.
  • PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): Identifica diretamente o DNA da bactéria no sangue. Pode ser feito nos primeiros dias de sintomas (fase aguda) e tem resultado mais rápido, sendo útil para diagnóstico precoce.
    Hemograma completo: Não confirma a doença, mas pode indicar alterações sugestivas, como plaquetopenia (queda das plaquetas), leucopenia ou anemia leve. Deve ser feito desde os primeiros sintomas como suporte clínico.

Diagnóstico diferencial

A febre maculosa apresenta sintomas que se confundem com várias doenças infecciosas. Veja as principais:

  • Dengue:  Ambas causam febre alta, dor de cabeça e dores no corpo. Porém, a dengue costuma causar dor retro-orbital (atrás dos olhos) e não apresenta manchas evolutivas na pele como a febre maculosa.
  • Leptospirose: Também se inicia com febre e dores musculares, principalmente nas panturrilhas. Está associada à exposição a água contaminada e não costuma apresentar exantema.
  • COVID-19: Pode apresentar febre, dores no corpo e sintomas respiratórios. A presença de tosse seca, perda de olfato/paladar e histórico de contato com casos positivos ajudam na diferenciação.
  • Zika e Chikungunya: Ambas podem causar febre e manchas na pele. A Zika tem sintomas mais leves e coceira intensa; a Chikungunya causa dores articulares mais marcantes e persistentes.

A diferenciação depende do conjunto dos sintomas, histórico epidemiológico e exames laboratoriais específicos.

Tratamento da Febre Maculosa

  • Antibiótico de escolha: doxiciclina: É o tratamento mais eficaz contra a febre maculosa. Deve ser iniciado o mais rápido possível, preferencialmente nos primeiros 5 dias de sintomas, mesmo antes da confirmação laboratorial.
  • Uso em adultos e crianças: A doxiciclina é recomendada para todos os pacientes, incluindo crianças e gestantes em casos graves, pois os riscos da doença superam os efeitos adversos do medicamento.
  • Esquema de tratamento: A dose usual é de 100 mg de doxiciclina a cada 12 horas (ou 2,2 mg/kg em crianças menores), por mínimo de 7 dias ou até 3 dias após o fim da febre.
  • Importância do início imediato:  A eficácia do tratamento está diretamente relacionada ao início precoce. Atrasos no uso do antibiótico aumentam significativamente o risco de complicações graves e morte.
  •  Internação hospitalar em casos graves: Casos avançados ou com sinais de comprometimento de órgãos (como rins, fígado ou sistema nervoso) podem exigir internação para cuidados intensivos e suporte clínico.

Tem vacina para Febre Maculosa?

Atualmente não há vacinas contra a Febre Maculosa no Brasil. Assim, a prevenção consiste em evitar a exposição a carrapatos.

Prevenção da Febre Maculosa

  • Evite áreas com infestação de carrapatos:  Reduza o risco evitando trilhas, pastos, margens de rios e matas onde há presença de capivaras, cavalos ou bois — especialmente em regiões endêmicas.
  • Use roupas apropriadas em áreas de risco: Vista calça comprida, botas e camisa de manga longa, de preferência em cores claras para facilitar a visualização dos carrapatos. 
  • Aplique repelente: Utilize repelentes que contenham icaridina ou DEET, aplicando nas áreas expostas da pele e também nas roupas.
  • Inspeção do corpo após exposições: Faça uma verificação cuidadosa do corpo e das roupas após sair de ambientes com vegetação ou contato com animais. Remova imediatamente qualquer carrapato encontrado.
  • Não esmague o carrapato com as mãos: A remoção deve ser feita com pinça, puxando o carrapato pela cabeça, de forma cuidadosa para evitar infecção pela pele.
  • Controle de carrapatos em animais domésticos: Faça o controle regular de ectoparasitas em cães, cavalos e outros animais, com produtos específicos e orientação veterinária.
  • Evite contato com animais silvestres: Animais como capivaras, que abrigam grande número de carrapatos, devem ser evitados. Não alimente nem se aproxime desses animais.

Quantos dias dura a Febre Maculosa?

A febre maculosa geralmente dura de 7 a 14 dias, mas pode se prolongar dependendo da gravidade do caso e do momento em que o tratamento é iniciado. Quanto mais cedo o antibiótico for administrado, maiores as chances de recuperação rápida e sem complicações.

Epidemiologia da Febre Maculosa

Essa febre é mais comum nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, tendo pico de incidência entre os meses de julho e novembro, especialmente em outubro.

Além disso, ela acomete a população economicamente ativa (20-49 anos), destacando-se o sexo masculino, que relataram a exposição a carrapatos, animais domésticos e/ou silvestres, ou que frequentaram ambiente de mata ou rios.

Quais animais são hospedeiros da febre maculosa?

Os principais animais hospedeiros da febre maculosa são capivaras, cavalos, bois e cachorros, que servem de alimento para os carrapatos transmissores da bactéria Rickettsia rickettsii, agente causador da doença. Esses animais não adoecem, mas ajudam a manter o ciclo do carrapato infectado no ambiente.

Complicações da Febre Maculosa

  • Insuficiência renal: A infecção pode afetar os rins, levando à redução ou paralisação da função renal.
  • Edema cerebral:  Inflamação grave pode causar acúmulo de líquido no cérebro, provocando convulsões, confusão mental e coma.
    Miocardite: Inflamação do músculo cardíaco que pode comprometer a função do coração e causar arritmias.
  • Choque: Ocorre pela falência circulatória, com queda brusca da pressão arterial e risco de morte.
  • Óbito: Se não tratada precocemente, a febre maculosa pode ser fatal. A taxa de letalidade pode chegar a 80% em casos não tratados.

Quando suspeitar de Febre Maculosa na prática clínica?

Suspeite de febre maculosa quando houver:

  • Febre alta de início súbito
  • Dor de cabeça intensa
  • Dores musculares, náuseas, vômitos ou diarreia
  • Manchas vermelhas na pele (exantema)

Fatores de risco principais:

  • Contato recente com carrapatos
  • Presença em áreas rurais, matas, margens de rios ou trilhas
  • Contato com animais hospedeiros (capivaras, cavalos, bois, cachorros)
  • Visita ou moradia em região endêmica nos últimos 14 dias

Condutas por nível de atenção:

  • Pronto-socorro: iniciar doxiciclina imediatamente se houver suspeita; solicitar exames e monitorar sinais graves.
  • Atenção primária: avaliar sintomas e riscos, iniciar antibiótico precoce, encaminhar se necessário.
  • Área rural/endêmica: qualquer febre com exposição a carrapatos deve ser tratada com atenção; orientar prevenção e buscar atendimento rápido.
CenárioFatores a se atentarConduta recomendada
Pronto-socorro– Febre alta súbita- Exantema- Sintomas gastrointestinais- Exposição a carrapatos ou animais hospedeiros– Iniciar doxiciclina imediatamente– Solicitar exames (hemograma, PCR, sorologia)- Monitorar sinais graves
Atenção primária (UBS)– Febre inexplicada- Contato com carrapatos- Presença em áreas de risco- História recente de trilhas, rios, fazendas– Avaliar histórico e sintomas- Iniciar antibiótico precoce– Encaminhar casos moderados ou graves
Área rural ou endêmica– Qualquer febre após exposição ambiental- Contato com capivaras, cavalos, bois, cães- Presença de carrapatos no corpo ou roupas– Orientar população local- Reforçar prevenção (repelente, roupas longas)- Buscar atendimento médico rápido

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