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sábado, 21 junho
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Gripe ou resfriado: diagnóstico e tratamento dessas infecções

Imagem: Canva.

A gripe e o resfriado são infecções respiratórias comuns, mas possuem diferenças importantes. Ambas são causadas por vírus, porém, a gripe costuma provocar sintomas mais intensos. Entender essas diferenças, com base em evidências médicas atuais, é essencial para escolher o tratamento correto e evitar complicações.

Etiologia viral da gripe e do resfriado comum

A gripe é uma infecção respiratória causada principalmente pelos vírus Influenza A e B, conhecidos por sua capacidade de provocar sintomas mais intensos e sistêmicos, como febre alta, dores musculares, dor de cabeça, mal-estar, tosse seca e prostração. 

Esses vírus costumam afetar não apenas as vias aéreas superiores (nariz e garganta), mas também as vias inferiores, como brônquios e, em casos mais graves, os pulmões. Isso contribui para o quadro mais severo da doença e risco de complicações, principalmente em crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas.

Já o resfriado comum é causado por mais de 200 tipos diferentes de vírus, sendo o rinovírus o responsável pela maioria dos casos. Outros vírus frequentes incluem os coronavírus sazonais, adenovírus, vírus sincicial respiratório e parainfluenza. 

Os agentes do resfriado geralmente se restringem às vias aéreas superiores, provocando sintomas mais leves, como coriza, espirros, congestão nasal e dor de garganta, raramente levando a febre e manifestando menor impacto geral no organismo. 

A grande diversidade viral faz com que o resfriado seja uma infecção recorrente ao longo da vida, pois a imunidade adquirida contra um tipo específico não protege contra os demais.

A intensidade dos sintomas diferencia-se justamente pelo local predominante da infecção e pela resposta inflamatória desencadeada. O Influenza tende a espalhar-se com maior facilidade pelos tecidos profundos do trato respiratório, ativando reações inflamatórias mais intensas, ao passo que os vírus do resfriado, especialmente o rinovírus, limitam-se usualmente ao nariz e garganta, produzindo desconforto localizado, mas menos incapacitante.

A sazonalidade das infecções respiratórias, como gripe e resfriado, tem relação direta com o clima e hábitos comportamentais. Durante o inverno, especialmente em regiões de clima temperado, as pessoas costumam ficar mais tempo em ambientes fechados e com pouca ventilação, favorecendo a transmissão dos vírus. 

Além disso, as baixas temperaturas e a menor umidade relativa do ar podem facilitar a sobrevivência e propagação dos vírus no ambiente, além de comprometerem as defesas naturais das vias aéreas.

Sendo assim, os períodos de incubação, ou seja, o tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas, variam conforme o agente infeccioso. Para o vírus Influenza, o período de incubação é geralmente de 1 a 4 dias, com média de 2 dias. Já para o rinovírus e outros agentes do resfriado comum, o período de incubação costuma ser de 1 a 3 dias

Essa diferença influencia o momento em que a pessoa começa a apresentar sintomas e também o potencial de transmissão, já que em muitos casos existe a disseminação viral antes mesmo do início dos sintomas, contribuindo para a rápida propagação dessas infecções durante os períodos de maior incidência.

Comparação clínica entre gripe e resfriado comum

A gripe e o resfriado comum compartilham alguns sintomas, mas têm diferenças importantes em intensidade, evolução e consequências. 

SintomaGripeResfriado Comum
Início dos sintomasSúbito (rápido)Gradual
FebreAlta (acima de 38°C), súbita, comumRara ou baixa
Dor de cabeçaMuito comum, intensaRara ou leve
Dor no corpoFrequente, intensa (mialgia generalizada)Leve, ocasional
Cansaço/prostraçãoIntenso, pode durar semanasLeve
EspirrosMenos comunsMuito comuns
TosseSeca, intensa e persistenteLeve/moderada
Congestão nasalRaraComum
Dor de gargantaOcasionalComum
Olhos lacrimejantesPossívelComum
ComplicaçõesPneumonia, sinusite, otite, pode ser graveRaríssimo, quadro benigno

A duração típica de um resfriado comum é de cerca de 5 a 7 dias, com melhora gradual e raramente com complicações. Para a gripe, os sintomas duram de 7 a 10 dias ou mais, com a fadiga e tosse podendo se prolongar por semanas, tendo uma forma muito mais intensa comparada ao resfriado. 

Desse modo, a transmissão desses vírus ocorre pelas gotículas de saliva em espirros, tosses e fala, contato com superfícies contaminadas e contato direto com secreções do doente.

Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a vacinação contra a gripe e suas complicações. Além disso, outras formas de prevenção incluem:

  • Higiene das mãos: Lavar as mãos com frequência e usar álcool gel;
  • Etiqueta respiratória: Cobrir a boca com o antebraço ao tossir/espirrar;
  • Evitar contato próximo: Especialmente com pessoas doentes;
  • Desinfecção de superfícies: Limpar objetos de uso comum.

Abordagem clínica para diferenciação entre gripe e resfriado

1. Início dos sintomas

Gripe: Início súbito (rápido, em horas).

Resfriado: Início gradual (desenvolve-se em 1 a 3 dias).

2. Avaliação da febre

Gripe: Febre alta (> 38,5°C), abrupta, geralmente acompanhada de calafrios.

Resfriado: Raramente tem febre; quando ocorre, é baixa (em geral < 38°C).

3. Intensidade dos sintomas gerais

Gripe: Sintomas gerais intensos (mialgia, fadiga, cefaleia).

Resfriado: Sintomas gerais leves ou ausentes.

4. Presença de sintomas respiratórios

Gripe: Tosse seca, dor de garganta, desconforto torácico moderado a intenso.

Resfriado: Predominam coriza, congestão nasal, espirros e dor de garganta leve.

5. Avaliação da duração dos sintomas

Gripe: Duração de 7 a 10 dias, com sintomas mais intensos na primeira semana.

Resfriado: Sintomas geralmente melhores em 3 a 5 dias, podendo durar até 7 dias.

6. Impacto nas atividades diárias

Gripe: Grande limitação – paciente pode ficar acamado.

Resfriado: Pouca limitação, paciente continua realizando suas atividades.

Os sinais de alerta incluem:

  • Febre alta (≥ 38,5°C) e de início súbito;
  • Mialgias intensas (dores no corpo);
  • Cefaleia (dor de cabeça) intensa;
  • Mal-estar marcado ou prostração;
  • Tosse seca e irritativa persistente;
  • Fadiga intensa;
  • Calafrios.

Manejo clínico da gripe

O tratamento medicamentoso específico para a gripe consiste principalmente no uso de antivirais, com destaque para o oseltamivir e o zanamivir. Esses medicamentos são mais eficazes quando iniciados nas primeiras 48 a 72 horas após o início dos sintomas, período em que conseguem reduzir a replicação viral, diminuir a duração dos sintomas e prevenir complicações graves. Após esse intervalo, o benefício do antiviral se reduz, embora ainda possa ser indicado em casos graves ou para pacientes hospitalizados.

A indicação do tratamento antiviral é especialmente recomendada para pacientes dos grupos de risco, nos quais as complicações da gripe são mais prováveis. Entre esses grupos estão gestantes, idosos, crianças pequenas, pessoas com doenças crônicas (como asma, diabetes, doenças cardíacas ou imunossuprimidos), obesos e indígenas. Para pacientes fora dos grupos de risco, o uso do antiviral geralmente é reservado para situações de doença mais grave, complicações ou hospitalização.

Além do tratamento específico, o manejo clínico da gripe inclui medicamentos sintomáticos para maior conforto do paciente. Analgésicos como dipirona ou paracetamol podem ser usados para alívio da dor (cefaleia, mialgia) e redução da febre. 

Os anti-inflamatórios não esteroides  são evitados em alguns casos devido ao potencial de efeitos colaterais, mas podem ser usados sob orientação médica. Já os descongestionantes nasais e antitussígenos podem ser utilizados, mas com cautela, especialmente em crianças.

Outras medidas complementares são fundamentais para a recuperação: repouso relativo contribui para a restauração do organismo, enquanto a hidratação adequada é essencial para repor as perdas por febre e suor. 

Vale lembrar que antibióticos não têm papel no tratamento da gripe, já que se trata de uma infecção viral, exceto em casos de complicações bacterianas secundárias.

Vacinação contra gripe

A vacinação contra a gripe é uma das principais estratégias de saúde pública para a prevenção da doença, especialmente em grupos mais vulneráveis.

O Ministério da Saúde do Brasil recomenda a vacinação anual principalmente para os seguintes grupos:

  • Idosos (a partir de 60 anos);
  • Crianças de 6 meses a menores de 6 anos;
  • Gestantes e puérperas (até 45 dias após o parto);
  • Profissionais da saúde;
  • Professores;
  • Pessoas com doenças crônicas (respiratórias, cardíacas, renais, neurológicas, diabetes, imunossupressão, entre outras);
  • Povos indígenas;
  • Pessoas com deficiência permanente;
  • População privada de liberdade e trabalhadores do sistema prisional.

A campanha de vacinação geralmente ocorre antes do inverno, que é o período de maior circulação do vírus da gripe no Brasil.

Mas vale ressaltar que  a vacina contra a gripe protege especificamente contra os vírus influenza A e B, e não é eficaz contra os resfriados. 

Manejo clínico do resfriado

O resfriado comum não possui tratamento antiviral específico e a abordagem é voltada apenas para o alívio dos sintomas

Para nariz entupido, é indicado descongestionantes nasais de uso limitado (como oximetazolina), e solução salina nasal, que tem boa evidência para alívio e higiene das vias aéreas. Para coriza e espirros é indicado o uso de anti-histamínicos de primeira geração (como clorfeniramina), embora possam causar sonolência. Analgésicos e antitérmicos, como paracetamol ou dipirona, são úteis para dor de cabeça, mal-estar e febre. 
Há também as medidas caseiras, como inalações com vapor ou banho quente para fluidificar secreções e aliviar congestão, além do uso de soro fisiológico no nariz para reduzir sintomas e promover conforto.

Grupos de risco para complicações da gripe

Os grupos de risco incluem:

  • Crianças menores de 5 anos (especialmente menores de 2 anos): O sistema imunológico ainda está em desenvolvimento, tornando-as menos capazes de combater infecções virais. Além disso, as vias respiratórias são menores e mais suscetíveis a obstruções e inflamações;
  • Idosos acima de 65 anos: Envelhecimento provoca diminuição da imunidade (imunossenescência) e frequência de doenças crônicas, dificultando a recuperação e aumentando a vulnerabilidade;
  • Gestantes (incluindo puérperas, até 45 dias após o parto): Alterações fisiológicas da gravidez (respiratórias, cardíacas e imunológicas) aumentam a gravidade da infecção viral;
  • Pessoas com doenças crônicas (asma, diabetes, cardiopatias, doenças renais, hepáticas, neurológicas, obesidade mórbida, entre outras): A gripe pode desequilibrar doenças já existentes, como diabetes e insuficiência cardíaca, levando a descompensações e piora clínica;
  • Imunossuprimidos (portadores de HIV, pacientes em quimioterapia, transplantados e outros com imunidade comprometida): Com o sistema de defesa fragilizado, têm dificuldade de eliminar o vírus e maior risco de infecções secundárias graves.

As complicações mais comuns da gripe nesses grupos incluem a pneumonia, bronquite ou asma, sinusite e otite, sepse e, em situações mais graves, pode levar a óbito. 
Desse modo, para evitar qualquer tipo de complicação, é fundamental se vacinar contra a gripe, pois reduz a chance de infecção, a gravidade dos sintomas e as internações.

Diferenciação entre gripe, resfriado e COVID-19

A gripe, o resfriado comum e a COVID-19 são infecções respiratórias transmitidas principalmente por gotículas no ar e contato com superfícies contaminadas. Assim, a principal semelhança são os sintomas gerais:

Já em suas diferenças, podemos destacar na tabela abaixo:

SintomaResfriadoGripe COVID-19
FebreRaro/levesComum (alta, súbita)Comum (pode ser alta)
Dor de cabeçaRaraMuito comumComum
Dor de gargantaComumÀs vezesComum
Dor no corpoLeveIntensaComum
TosseLeve/moderadaSeca e intensaSeca (pode evoluir para produtiva)
EspirrosFrequentePouco comumRaro
FadigaFrequenteIntensaModerada a intensa
Falta de arRaraRaraComum (casos moderados/graves)
Perda de olfato/paladarRaroRaroMuito comum e característica
CorizaMuito comumÀs vezesRaro

Sendo assim, os sintomas mais característicos da COVID-19 são:

  • Perda de olfato (anosmia) e/ou paladar (ageusia): Altamente sugestivos para COVID-19, especialmente quando aparecem subitamente;
  • Falta de ar: Quando aparece, principalmente associada à febre e tosse, é um importante sinal de alerta em COVID-19.;
  • Sintomas gastrointestinais: Diarreia, náuseas e vômitos são mais frequentes na COVID-19 do que em gripe e resfriado.

Caso seja notado algum desses sintomas ou febre, dor de garganta ou tiver contato com caso confirmado ou suspeito, é necessário realizar a testagem para a COVID-19.

Além disso, mantenha também as formas comuns de prevenção:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou usar álcool em gel;
  • Cobrir nariz e boca ao tossir ou espirrar (preferencialmente com lenço descartável ou o antebraço);
  • Evitar tocar olhos, nariz e boca sem higienizar as mãos;
  • Ventilar ambientes;
  • Não compartilhar objetos pessoais;
  • Uso de máscara em ambientes fechados e ao apresentar sintomas;
  • Evitar aglomerações, especialmente em períodos de maior circulação viral;
  • Manter a vacinação em dia (gripe e COVID-19).

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