Hidradenite supurativa: o que é, diagnóstico e classificação

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Imagem: Canva.
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A hidradenite supurativa é uma doença inflamatória crônica da pele caracterizada pela formação recorrente de nódulos dolorosos, abscessos, fístulas e cicatrizes, geralmente localizada em áreas com dobras, como axilas, virilhas, região glútea e embaixo dos seios. 

Essa condição afeta os folículos pilosos e pode comprometer significativamente a qualidade de vida dos pacientes devido à dor, desconforto e impacto emocional.

Causas e fatores de risco da hidradenite supurativa

As causas exatas da hidradenite supurativa ainda não são totalmente compreendidas. Sabe-se que não se trata de uma infecção contagiosa ou de má higiene, e sim de uma condição inflamatória dos folículos pilosos.

Entre as principais teorias, destaca-se a obstrução dos folículos pilosos, que leva à inflamação crônica e ao surgimento de lesões na pele. Alterações imunológicas e fatores genéticos também podem estar envolvidos no desenvolvimento da doença.

Alguns fatores de risco estão bem estabelecidos, como a obesidade, o tabagismo e histórico familiar da condição. Além disso, a hidradenite é mais comum em mulheres jovens e tende a se manifestar após a puberdade.

Hormônios, estresse e doenças metabólicas, como resistência à insulina, podem influenciar o aparecimento ou agravamento da hidradenite supurativa. O acompanhamento médico especializado é fundamental para o controle dos sintomas e orientação personalizada.

Classificação da hidradenite supurativa

Para garantir um diagnóstico preciso e direcionar o tratamento adequado, existem dois sistemas principais de classificação: Estágios de Hurley e o International Hidradenitis Suppurativa Severity Score System (IHS4).

Estágios de Hurley

Essa é a classificação clínica mais tradicional e simples para a HS, muito utilizada no dia a dia para avaliação do quadro e direcionamento do tratamento:

  • Estágio I: Abscesso(s) único ou múltiplos, porém sem formação de fístulas ou cicatrizes. Lesões são isoladas, geralmente há pouca dor, e as áreas afetadas podem alternar entre períodos de inflamação e remissão;
  • Estágio II: Abscessos recorrentes, únicos ou múltiplos, separados, mas já com presença de fístulas (canais sob a pele que drenam pus) e cicatrizes. As lesões podem ser mais dolorosas e o processo inflamatório tende a se repetir nas mesmas regiões;
  • Estágio II: Existência de várias fístulas interconectadas e abscessos, formando áreas extensas de inflamação crônica, podendo comprometer de maneira significativa a qualidade de vida do paciente. A pele fica endurecida, espessa e há destruição tecidual importante.

International Hidradenitis Suppurativa Severity Score System (IHS4)

É um sistema de pontuação criado para avaliar objetivamente a gravidade da HS, permitindo acompanhamento evolutivo e análise de resposta ao tratamento. Funciona assim:

Cada lesão inflamatória ativa recebe uma pontuação:

  • Nódulo inflamatório = 1 ponto cada
  • Abscesso = 2 pontos cada
  • Fístula = 4 pontos cada
  • Cálculo do Score IHS4:
  • IHS4 = (número de nódulos) x 1 + (número de abscessos) x 2 + (número de fístulas) x 4

Interpretação da pontuação:

  • Leve: Menos de 3 pontos;
  • Moderada: 4 a 10 pontos;
  • Grave: 11 pontos ou mais.

Sintomas da hidradenite supurativa

  • Caroços dolorosos sob a pele (nódulos ou pápulas);
  • Abscessos recorrentes (bolhas de pus inchadas e doloridas);
  • Pontos de drenagem com presença de pus ou sangue;
  • Odor desagradável devido à secreção nas lesões;
  • Cicatrizes e fibrose (espessamento da pele);
  • Túneis subcutâneos (fístulas que ligam diferentes lesões sob a pele);
  • Coceira, ardor ou desconforto nas regiões afetadas;
  • Lesões normalmente localizadas nas axilas, virilha, nádegas, parte interna das coxas e sob as mamas;
  • Dificuldade de cicatrização das lesões;
  • Limitação de movimento (em casos graves, devido à dor e inflamação).

Diagnóstico da hidradenite supurativa

O diagnóstico da hidradenite supurativa é clínico, feito principalmente pela avaliação dos sintomas e do histórico do paciente. Não existe um exame laboratorial específico para confirmar a HS, mas exames podem ser usados para descartar outras doenças e avaliar possíveis complicações. Veja abaixo como todo o processo é realizado:

Critérios Clínicos

Para ser considerada HS, o paciente geralmente apresenta:

  • Lesões típicas: Nódulos dolorosos, abscessos recorrentes, fístulas, cicatrizes, frequentemente em áreas específicas (axilas, virilha, nádegas, região inframamária).
  • Recorrência: As lesões aparecem repetidamente, com períodos de melhora e piora.
  • Localização característica: Áreas intertriginosas (onde a pele se dobra) são mais acometidas.

Tríade diagnóstica:

  1. Tipos de lesões compatíveis.
  2. Recorrência dos quadros.
  3. Localizações típicas.

Exames Complementares

Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, alguns exames podem ser úteis para:

  • Afastar outras doenças;
  • Avaliar extensão ou complicações;
  • Auxiliar em casos atípicos.

Exames que podem ser solicitados:

  • Ultrassonografia: avaliar a extensão das lesões, presença de fístulas ou coleções profundas.
  • Ressonância magnética: em casos graves ou complexos, para mapear trajetos de fístulas e abscessos profundos.
  • Cultura de secreção: quando há infecção secundária importante, para identificar o agente infeccioso.
  • Exames laboratoriais: hemograma, glicemia, função renal e hepática – para rastrear complicações em quadros graves ou avaliar comorbidades.
  • Biópsia de pele: raramente necessária. Indicada apenas quando há dúvida diagnóstica ou suspeita de neoplasias.

Além disso, é importante ressaltar que diversas condições podem se assemelhar à hidradenite supurativa como:

  • Furunculose/furúnculos: Lesões isoladas, geralmente sem fístulas crônicas ou cicatrizes, localizadas fora de áreas típicas de HS.
  • Carbúnculo: Abscesso grande, único, com saída de pus por múltiplos pontos, normalmente sem recorrência.
  • Abscesso simples: Episódio único, sem recorrência, sem formação de fístulas.
  • Celulite / erisipela: Processo infeccioso difuso da pele, não costuma formar nódulos e fístulas típicos de HS.
  • Acne conglobata: Lesões extensas e múltiplas, mas em geral acomete face, tórax e costas (diferente da localização clássica de HS).
  • Doença de Crohn perianal: Pode cursar com fístulas e abscessos na região ano-retal — é importante avaliar outros sintomas gastrointestinais.
  • Linfadenite: Inflamação dos linfonodos, normalmente sem abscessos profundos ou fístulas.
  • Foliculite: Inflamação limitada ao folículo piloso, normalmente menos dolorosa e não cicatriza.

Tratamento da hidradenite supurativa de acordo com o estágio

O tratamento da hidradenite supurativa (HS) deve ser individualizado conforme o estágio da doença, de acordo com a classificação de Hurley. As opções terapêuticas variam desde medidas tópicas e antibióticos nos estágios iniciais até intervenções cirúrgicas e tratamentos combinados em casos mais avançados. 

Abaixo, detalhamos as principais alternativas para cada estágio:

Tratamento no Estágio I de Hurley

No estágio I, as lesões são geralmente abscessos isolados e sem formação de trajetos fistulosos ou cicatrizes extensas.

Principais opções de tratamento:

  • Cuidados locais: Higiene adequada, evitar atrito, uso de roupas largas e evitar depilação/agentes irritantes.
  • Antibióticos tópicos: Clindamicina 1% em gel é frequentemente utilizada, aplicada duas vezes ao dia.
  • Antibióticos sistêmicos: Em casos de múltiplas lesões ou falha dos tópicos, pode-se considerar tetraciclinas (como doxiciclina ou minociclina) por 2 a 3 meses.
  • Anti-inflamatórios tópicos: Em alguns casos, corticoides tópicos de baixa potência podem ser associados para reduzir a inflamação.
  • Prevenção: Orientações quanto à perda de peso, interrupção do tabagismo e controle de doenças associadas, como diabetes e obesidade.
  • Outras opções: Terapias com retinoides tópicos ou terapia hormonal em casos selecionados (sob orientação médica).

Tratamento no Estágio II de Hurley

Paciente com HS estágio II apresentam abscessos recorrentes, trajetos fistulosos e cicatrizes, porém menos extensas.

Principais opções de tratamento:

  • Antibióticos sistêmicos: Uso prolongado de antibióticos sistêmicos (tetraciclinas, clindamicina + rifampicina, ou doxiciclina) pode ser necessário por semanas a meses.
  • Procedimentos locais: Drenagem de abscessos e desbridamento limitado para aliviar o desconforto e remover tecido infectado.
  • Terapias hormonais: Pode-se considerar o uso de antiandrogênicos, anticoncepcionais orais, especialmente em mulheres com padrão hormonal relacionado.
  • Corticoides intralesionais: Injeção local para diminuir a inflamação de nódulos inflamados.
  • Retinoides orais: Isotretinoína ou acitretina podem ser considerados em casos selecionados.
  • Imunossupressores/biológicos: Para casos refratários, pode-se cogitar adalimumabe ou outros agentes biológicos, sempre sob supervisão médica especializada.
  • Cuidados adjuvantes: Continuação das orientações comportamentais e acompanhamento regular.

Tratamento no Estágio III de Hurley

O estágio III corresponde ao quadro mais severo, com múltiplos abscessos interconectados, trajetos fistulosos amplos e cicatrizes extensas.

Principais opções de tratamento:

  • Cirurgia: É frequentemente indicada e pode envolver excisão ampla das áreas acometidas, seguido de fechamento por segunda intenção, enxertos ou retalhos cutâneos.
  • Terapias combinadas: Uso de antibióticos sistêmicos e agentes biológicos (como adalimumabe) associados ao tratamento cirúrgico.
  • Drenagem e desbridamento extensos: Necessários em situações de infecção aguda ou abscessos volumosos.
  • Suporte multidisciplinar: Envolvimento de dermatologista, cirurgião plástico e outras especialidades conforme a necessidade.
  • Outras abordagens: Radioterapia em casos excepcionais selecionados, pain management e suporte psicológico devido ao impacto emocional da doença.

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