Prolapso Genital: conheça seus tipos, diagnóstico e classificação

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Imagem de uma pessoa com mãos cobrindo a região íntima, vestindo roupa branca, em um ambiente neutro, transmitindo delicadeza e privacidade.
Imagem: Canva.

Prolapso genital (mais conhecido como bexiga caída) é uma doença que todos os órgãos pélvicos – incluindo a bexiga – podem perder a sustentação, resultando em uma condição semelhante a uma hérnia.

Etiologia e fisiopatologia do prolapso genita

O prolapso genital tem origem no enfraquecimento dos músculos e ligamentos do assoalho pélvico, que é responsável por sustentar os órgãos pélvicos (útero, bexiga, reto). Podemos citar como os principais tipos:

  • Cistocele (prolapso de bexiga): quando a bexiga perde a sustentação e forma um abaulamento na região da vagina.
  • Retocele / enterocele (prolapso de intestino): é quando o intestino perde a sustentação e forma um abaulamento na região da vagina.
  • Prolapso de útero: quando o útero perde a sustentação e pode-se notar seu descenso pela vagina.
  • Rotura de períneo: apesar de não ser um prolapso propriamente dito é uma condição comumente associada ao prolapso por gerar um enfraquecimento de um dos pontos de sustentação dos órgãos da pelve.

Causas e fatores de risco do prolapso genital

Podemos listar como principais causas e fatores de risco:

  • Gravidez ou partos vaginais (especialmente múltiplos, bebês grandes ou uso de fórceps);
  • Idade avançada;
  • Obesidade;
  • Tosse crônica;
  • Constipação crônica;
  • Distúrbios de colágeno com origem genética: tabagismo, menopausa.

Principais sintomas do prolapso genital

O grau do prolapso nem sempre está relacionado com a intensidade dos sintomas, podendo em alguns casos ser assintomático. Entretanto, os sintomas mais comuns são:

  • Sensação de peso ou pressão pélvica e vaginal;
  • Desconforto durante relação;
  • Vontade de urinar toda hora;
  • Incontinência urinária;
  • Dor pélvica ou nas costas;
  • Corrimentos ou sangramentos vaginais;
  • Constipação ou sensação de esvaziamento incompleto do intestino;
  • Dificuldades para sentar ou caminhar.

Tipos de prolapso genital

Cistocele

Neste tipo de prolapso, a bexiga desce e pressiona a parede vaginal, podendo causar uma sensação de peso na região pélvica e problemas urinários.

Retocele

No tipo retocele, o reto desce e se estende na parede vaginal, causando dificuldades de evacuação e sensação de pressão.

Histerocele

Também conhecido como prolapso uterino, é um tipo em que o útero desce para dentro da vagina causando sensação de peso, dor pélvica e dificuldade na relação sexual. 

Enterocele

Aqui, o intestino delgado desce formando uma bolsa na região vaginal, causando desconforto e pressão. 

Diagnóstico do prolapso genital

O diagnóstico é clínico com anamnese detalhada que pode sugerir a presença da condição, porém apenas com exame pélvico  em posição de litotomia e posição de litotomia há a confirmação. 

Neste exame, o médico avalia presenças de saliências na vagina ou descida de órgãos, como o colo do útero com o uso de um espéculo. O sistema de classificação POP-Q (Pelvic Organ Prolapse Quantification) é frequentemente utilizado para documentar a gravidade do prolapso de forma padronizada. 

Em casos selecionados, pode haver a necessidade de exames complementares:

  • Ultrassonografia pélvica: exame importante para visualizar os órgãos pélvicos e avaliar o grau de prolapso;
  • Urodinâmica: exame indicado para pacientes com prolapso associado a sintomas de incontinência urinária., que avalia o funcionamento da bexiga e da uretra;
  • Colonoscopia: este não é um exame primário para prolapso genital, mas pode ser indicado em casos de suspeita ou confirmação de prolapsos da parede posterior (retocele ou enterocele).
(Posição de litotomia | Fonte: Depositphotos)

Sistema de classificação POP-Q

A classificação POP-Q (Quantificação de Prolapso de Órgãos Pélvicos) é um sistema padronizado para descrever e quantificar o grau de prolapso de órgãos pélvicos, como bexiga, útero e reto, que se projetam para dentro ou para fora da vagina. 

Fonte: American Urogynecologic Society. POP-Q Pelvic 
Organ Prolapse Interactive Assessment Too

Pontos de referência anatômicos

Dentro desse sistema de classificação há alguns pontos de referência anatômicos:

  • Ponto Aa: Localizado três centímetros para dentro do hímen, na linha média da parede vaginal anterior;
  • Ponto Ba: Ponto de maior prolapso na parede anterior. Se há prolapso total, ele equivale ao comprimento vaginal total;
  • Ponto C: Ponto mais distal do colo uterino ou da cúpula vaginal pós-histerectomia. Ponto D: Localizado no fórnice vaginal posterior, no nível de inserção dos ligamentos útero-sacrais. Na ausência do útero, este ponto é ignorado;
  • Ponto Ap: Localizado na linha média da parede vaginal posterior, correspondente do ponto Aa na parede posterior;
  • Ponto Bp: Representa o ponto de maior prolapso da parede vaginal posterior, correspondente do ponto Ba na parede posterior;
  • Gh: Hiato genital. Pb: Medida do corpo perineal. TVL: Comprimento total da vagina (em repouso).

Estágios do prolapso

No momento da avaliação, o médico precisará observar qual o ponto de maior prolapso. Em determinados pontos, os prolapsos são classificados do seguinte modo:

  • Estágio 0: Onde não há presença de prolapso;
  • Estágio I: Há prolapso maior que 1 centímetro acima do hímen;
  • Estágio II:  Há prolapso entre 1 centímetro acima e 1 centímetro abaixo do hímen;
  • Estágio III: Há prolapso menor que 1 centímetro abaixo do hímen;
  • Estágio IV: Há prolapso total.

Níveis de sustentação vaginal (Teoria de DeLancey)

Existem 3 níveis dos órgãos pélvicos, propostos em 1992 por Jonh Delancey.  Cada nível tem estruturas anatômicas que o sustentam, portanto as lesões que acometem tais estruturas levam a defeitos(s) de sustentação,  gerando o prolapso naquele nível. 

Nível 1 – Sustentação do ápice vaginal

Composto por útero, colo uterino e cúpula vaginal, tem como estruturas sustentadoras os ligamentos uterossacros, ligamentos cardinais (o conjunto deles é chamado de paramétrios). Na classificação POP-Q, esse nível é representado pelo C e pelo D.

Imagem anatômica detalhada da região pélvica feminina, destacando o cervix, a parede vaginal e instrumentos médicos utilizados em procedimentos ginecológicos.
Fonte: Kim JH. Urogynecology and Reconstructive Pelvic Surgery.

Nível 2 – Sustentação da porção média da vagina

Esse nível é composto pela parede vaginal anterior e posterior, sustentadas pela fáscia vesicovaginal (se defeituosa causa prolapso da parede anterior) e pela fáscia retovaginal (se defeituosa causa prolapso de parede posterior). Na classificação POP-Q é representado pelo Aa, Bb, Ap e Bp.

As diferenças entre os pontos A e B que podem ser citadas são: 

Ponto APonto B 
Medido 3 cm para dentro da vagina, mas pode se deslocar até  cm para fora da vagina Não parte de um ponto fixo pré-determinado 
Análise realizando por valsalvaOlha-se para a parede toda e ve qual o ponto de maior prolapso dela
O ponto estabelecido poderá se deslocar durante o esforço, caracterizando o prolapso Pode ser igual ou maior que o ponto A
Fonte: Acervo de Aulas GrupoMedCof

Nível 3 – Sustentação da porção distal da vagina

Composto por corpo perineal e membrana perineal, esse nível é sustentado pelos músculos superficiais do períneo (bulbo, ísquio e transverso superficial do períneo). Na classificação POP-Q, o nível 3 é representado pelo HG (hiato genital) e pelo CP (corpo perineal). 

O HG representa a edida vertical da uretra ate a furcula e o CP a medida vertical da furcula ate a borda anal superior. Quando achamos um HG maior que o CP, identificamos uma rotura perineal.

 Ilustração detalhada da anatomia do períneo, destacando músculos, ligamentos e estruturas importantes, fundamental para compreender a saúde e cirurgia perineal.
Fonte: Kim JH. Urogynecology and 
Reconstructive Pelvic Surgery. 4th ed. Int Neurourol J. 2015 Mar.

Tratamento do prolapso genital

Imagem detalhada do sistema urinário, destacando a origem do ligamento uretossacro, uretra, espinha isquiática, inserção do ligamento uretossacro, e áreas relacionadas ao urolitíase e procedimentos cirúrgicos de cistoplastia de Mccall
Ilustração dos pontos de sutura no encurtamento. 
Fonte: Michael S. Baggish and Mickey Karram, Atlas of Pelvic Anatomy and 
Gynecologic Surgery, 4th Edition.

Tratamento conservador

O tratamento conservador do prolapso genital pode incluir:

  • Fisioterapia pélvica: Pode ajudar a aliviar os sintomas e melhorar o suporte dos órgãos pélvicos com o fortalecimento do assoalho pélvico;
  • Pessários: São dispositivos inseridos na vagina que dão suporte físico aos órgãos pélvicos prolapsados, diminuindo o desconforto e melhorando a função;
  • Terapia hormonal: A reposição hormonal pode ajudar mulheres na menopausa melhorando a saúde da mucosa vaginal e aliviar sintomas irritantes.

Além disso, terapias complementares como o biofeedback e eletroestimulação também podem ser eficazes no tratamento. 

Tratamento cirúrgico

Em casos mais graves ou sintomáticos, é indicado o tratamento cirúrgico, que tem como objetivo corrigir o deslocamento dos órgãos pélvicos que perderam a sustentação. 

Quando há prolapso uterino em mulheres que não desejam engravidar, a remoção do útero pode ser uma opção. No entanto, existem diferentes técnicas cirúrgicas:

  • Via vaginal: É uma opção menos invasiva e com recuperação rápida, com menor tempo de internação, menor dor e sem cicatrizes visíveis;
  • Via abdominal: É realizada em casos mais avançados ou combinação de outras abordagens como a sacropromontofixação;
  • Perineoplastia: É específico para prolapso de bexiga e reto;
  • Promontofixação: Ocorre a fixação do útero ou cúpula vaginal ao promontório sacral com interposição de tela;
  • Colporrafia: É realizada para reparar a parede vaginal e considerada a cirurgia de primeira escolha quando há prolapso da parede vaginal anterior.

O tratamento cirúrgico possui uma taxa de sucesso positiva de 89,4%. Suas complicações variam de acordo com o tipo de cirurgia, incluindo infecções, hematomas, lesões de órgãos adjacentes e dor durante ou após relação sexual.

 Complicações do prolapso genital não tratado

O prolapso genital não tratado pode resultar em complicações comuns como a piora do prolapso, infecções urinárias de repetição, retenção urinária e lesões vaginais por exposição. Por isso, é importante diagnosticar precocemente para evitar os estágios mais graves da condição ou necessidade de cirurgia.

Em caso de sintomas, a paciente deve procurar um médico uroginecologista para diagnósticos e tratamentos adequados.

Prevenção do prolapso genital

A principal medida de prevenção contra o prolapso genital é o fortalecimento do assoalho pélvico, incluindo a manutenção de peso saudável. Também é importante o acompanhamento adequado durante e após a gravidez como estratégia preventiva. 

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