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segunda-feira, 16 junho
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Como diferenciar as Arboviroses na Clínica Médica?  

Imagem: Canva.

Devido às condições estruturais e naturais do Brasil, nosso país é severamente acometido pelas arboviroses, que podem se apresentar de forma muito semelhante, o que dificulta ainda mais o controle de surtos e epidemias. 

O que caracteriza uma doença como arbovirose? 

As arboviroses são doenças transmitidas por artrópodes, como o Aedes aegypti e o Anopheles sp.. Com um clima tropical favorável à proliferação de seus vetores, o país lida endemicamente com surtos e epidemias de doenças como a Dengue, Chikungunya e Zika.

Por isso é fundamental compreender a epidemiologia, as formas de transmissão e as manifestações clínicas dessas condições. Focando nessas 3 arboviroses citadas, pois são as com maiores prevalências no país de acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), vamos explorar a transmissão, sintomas e manejo delas para buscar um melhor controle delas no país. 

Formas de transmissão das arboviroses

A transmissão das arboviroses mencionadas ocorre predominantemente pela picada de mosquitos fêmeas infectadas. No contexto brasileiro, o principal vetor é o Aedes aegypti, um mosquito de hábitos diurnos e altamente adaptado ao ambiente urbano. Sua área de alcance é de aproximadamente 300 metros, o que facilita a rápida disseminação dos vírus em ambientes densamente povoados. Quando um mosquito não infectado pica um indivíduo doente, ele adquire o vírus e, após um período de incubação extrínseca, pode transmiti-lo a outras pessoas.

Quais os principais sinais e sintomas da Dengue? 

A Dengue é a arbovirose mais conhecida e de maior impacto no Brasil, sendo uma doença endêmica em todo o território e com maior correlação com os períodos chuvosos. Existem quatro sorotipos do vírus (DENV 1, 2, 3 e 4). A imunidade é sorotipo-dependente; uma infecção por um sorotipo protege contra futuras infecções por ele, mas a reinfecção por um sorotipo diferente pode levar a um quadro mais grave. Esse fenômeno, conhecido como “Antibody-dependent enhancement”, aumenta o risco de formas graves da doença em episódios subsequentes.

O quadro clínico da Dengue é abrupto e febril (febre de 2 a 7 dias), acompanhado por pelo menos dois dos seguintes sintomas: cefaleia retro-orbitária, mialgia intensa, artralgia, náuseas, vômitos, dor abdominal e hepatomegalia. O exantema maculopapular, pode surgir tardiamente (5º ao 7º dia) e ser pruriginoso, acometendo face, tronco, membros, palmas e plantas.

Os sinais de alarme, que indicam maior risco de gravidade, geralmente aparecem na fase de defervescência (entre o 5º e o 7º dia) e incluem sangramento de mucosas, derrames cavitários, lipotímia/hipotensão postural, dor abdominal refratária, vômitos persistentes, hepatomegalia maior que 2 cm e aumento do hematócrito. A suspeita de Dengue é essencialmente clínica, pois os testes laboratoriais podem ser negativos em fases específicas da doença.

Como reconhecer a Chikungunya?  

O termo Chikungunya significa “aquele que dobra o joelho” na língua maconde, e isso reflete a marca principal da doença: a poliartralgia simétrica e distal. O caso suspeito é caracterizado por febre acima de 38,5°C com duração inferior a 14 dias, acompanhada de artralgia ou artrite, sem outra causa aparente.

Além da febre alta, que pode durar até 10 dias, e da poliartralgia intensa, a Chikungunya pode apresentar edema periarticular, rash máculo-papular precoce e não pruriginoso, linfadenopatia cervical, hepatite branda e trombocitopenia leve.

O manejo da Chikungunya varia conforme as fases da doença. Na fase aguda (até 3 semanas), o tratamento é sintomático com analgésicos e, em alguns casos, opioides, evitando AINEs e corticoides pelo risco de efeito rebote. Na fase subaguda (3 a 8 semanas), podem ser utilizados AINEs e prednisona. Já na fase crônica (mais de 8 semanas), a hidroxicloroquina é o pilar do tratamento, podendo-se associar sulfassalazina e outros medicamentos. É crucial “não pular steps” no tratamento, iniciando sempre a terapia conforme a fase.

Como ocorre a manifestação da Zika?

Originado da floresta de Uganda, o vírus Zika se destaca pelo seu neurotropismo. Embora a manifestação clínica ocorra em apenas cerca de 20% dos casos, quando presente, ela se caracteriza por febre baixa, exantema maculopapular pruriginoso, conjuntivite bilateral, linfadenopatia e artralgia.

O grande problema do Zika reside em suas complicações neurológicas, especialmente em gestantes, podendo levar à microcefalia e à Síndrome Congênita do Zika. Outras manifestações incluem encefalite, isquemia cerebral e a Síndrome de Guillain-Barré.

Vale ressaltar que todas as arboviroses são neurotrópicas, mas o Zika é o mais famoso por essa característica. O diagnóstico precoce é feito por PCR nos primeiros dias e, posteriormente, por sorologia. O tratamento é de suporte.

 Representação da Microcefalia. Fonte: https://pin.it/4txRHwE5C 

Resumindo

Dengue, Chikungunya e Zika compartilham o mesmo vetor, mas apresentam peculiaridades clínicas e evolutivas que demandam atenção diferenciada. A febre alta e súbita é comum à Dengue e Chikungunya, enquanto a Zika manifesta febre baixa. A cefaleia e a hemoconcentração são marcantes na Dengue; a poliartralgia é a assinatura da Chikungunya; e o neurotropismo é a preocupação central da Zika.

Dada a sobreposição de sintomas e a dificuldade diagnóstica em certas fases, a alta suspeição clínica e o conhecimento das classificações de risco são ferramentas indispensáveis para garantir o melhor desfecho para o paciente e para a saúde coletiva. O controle do vetor e a vigilância epidemiológica contínua são pilares no enfrentamento dessas arboviroses.

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